quinta-feira, 26 de março de 2015

Retalhos da nossa história: curimataú e seridó na extensão do brejo paraibano


por Fabiana Agra *

A organização do território municipal paraibano durante o período colonial
No século XVIII, a seqüência bandeira-curral-fazenda-arraial responsabilizou-se pela formação da sociedade sertaneja na Paraíba. A religião também se tornou um dos pilares da sociedade sertaneja, reunida em torno da capela de seus santos padroeiros; outro importante elemento, formador dos arraiais que se converteram, com o tempo, em povoados, vilas e cidades, são os “sítios”.
Nos sítios e fazendas não apenas se criava apenas o gado como também se plantavam gêneros de subsistência, algodão e cana-de-açúcar. O algodão servia para o fabrico de utilidades domésticas e panos rústicos. Já a cana-de-açúcar ambientou-se nos baixios e aguadas para produção de rapadura – alimento básico na dieta do sertanejo. Porém, a maior parte da rapadura consumida pelos sertanejos vinha dos engenhos do brejo.
Nessa época, os processos de salga da carne ainda não tinham sido introduzidos no interior paraibano, quando o gado era abatido, era necessário consumir a carne imediatamente; após, aproveitava-se o couro, exportado ou destinado a ensacar fumo, no litoral. Do couro, o seridoense retirava praticamente tudo – roupas, calçados, utensílios e até cobertura para latadas. Do gado também provinha o leite, usado na fabricação de queijos e doces, bem como variada culinária, no centro da qual estava a buchada, como prato típico da região.
O século XVIII representou a integração da capitania da Paraíba, através da ocupação do território. Isso se positivou quando os colonos, sempre usurpando as terras indígenas, chegaram a Bananeiras, na fronteira do brejo com o Rio Grande do Norte, e a Cuité, na serra, em 1760. Quando a região de Monteiro foi ocupada em 1800 e Princesa Isabel viu-se conquistada em 1805, a Paraíba completava a unidade territorial.

Brejo de Areia e Bananeiras
No início de século XVIII havia diversas povoações no interior paraibano. Sem falar na Cidade da Parahyba e em Cabedelo, esta na foz do Paraíba, havia a aldeia de Aratagui ou Alhandra (vale do Gramame) e a aldeia de Jacoca (atual Conde) às margens do rio Ibiraí, ambas ao sul da capital, no litoral. Também no litoral já estava fundada a Baia da Traição na foz do rio Mamanguape e por este rio acima, encontrava-se a aldeia de Preguiça (mais tarde Monte-Mor). As aldeias de Taipu e Pilar ficavam na várzea, às margens do Paraíba. Depois surgiram as aldeias do Boqueirão, às margens deste rio e de Campina Grande, nos contrafortes da Borborema (serra do Bodopitá). No alto sertão existia a aldeia de Piranhas (hoje Pombal) às margens do rio Piancó. Até 1755 não existiam vilas na Paraíba, só havia a “Cidade da Parahyba”, com jurisdição em toda a capitania.
No período de 1801 a 1822 foram criadas duas vilas no interior da Paraíba: Vila Real de São João do Cariri de Fora (instalada em 1803) na povoação e julgado do Cariri, pertencente ao município de Vila Nova da Rainha. A outra foi a Vila Real do Brejo de Areia, desmembrada de Monte-Mor e instalada em 1818.
Brejo de Areia foi elevada à “freguesia” com o nome de Nossa Senhora da Conceição, pelo Alvará Régio de 18 de maio de 1815, sendo elevado à condição de vila em 30 de agosto de 1818. Sua emancipação política se deu em 18 de maio de 1846. Já o município de Bananeiras foi criado em 9 de maio de 1833. criou o Município de Bananeiras, verificando-se sua instalação em 10 de outubro do mesmo ano. O distrito foi criado pela Lei provincial n.º 5. de 26 de maio de 1835. A Lei provincial n.º 690, de 16 de outubro de 1879, concedeu foros de cidade à sede municipal. Mas foi o desenvolvimento de Brejo de Areia que colocou esta vila na vanguarda das povoações do interior da Paraíba e, por tal motivo, elevada à categoria de cidade, com o nome de “Areia” – sendo, portanto, a primeira vila paraibana que mereceu tal distinção (Lei Provincial nº 2, de 18 de maio de 1846).
O maior crescimento da rede municipal paraibana, sobretudo a partir de 1850, é atribuído ao desenvolvimento da cultura do algodão, que propiciou a abertura de estradas, a dinamização do comércio e a intensificação do povoamento regional, provocando o surgimento de vilas que se transformaram em cidades e originaram municípios.

O povoamento do Seridó Oriental e do Curimataú Ocidental
Em abril de1545, portugueses e índios janduís encontraram-se pela primeira vez frente a frente em solo da Ribeira do Seridó e cumprimentaram-se. A expedição do Seridó possuía o caráter declarado de fazer contato com os índios, missão cumprida por Antônio de Mendonça e Vasconcellos, José Britto de Almeida, Pero Loppes de Maceddo e Natannael Gomes Soares. No entanto, contatos dessa natureza não tiveram continuidade tampouco marcaram avanço colonial português em solos do Seridó e do Curimataú. O ano de 1597 é o marco da conquista colonial desse espaço, quando a expedição colonizadora organizada por Feliciano Coelho e Duarte da Costa partiu das capitanias da Paraíba e Pernambuco, principalmente de Olinda, Igaraçu e Goiana, seguindo duas rotas: de leste para oeste, pelo Boqueirão de Parelhas e do sul para o norte pela Borborema, chegando, por fim, ao Seridó. A razão desse povoamento tardio é que a região era praticamente desconhecida para a administração colonial e suas terras foram muitas vezes solicitadas tanto pela capitania da Paraíba como pela capitania do Rio Grande do Norte.
A partir de 1692, com o fim da guerra dos Bárbaros, a área foi desocupada a custo do extermínio e do aldeamento dos indígenas, possibilitando a chegada dos primeiros homens brancos que se fixaram na região. Não se tratavam, porém, dos donos das terras, mas sim, por precaução, de seus curraleiros, que se encarregariam de acostumar o gado ao pasto, construir currais e os precários casebres de taipa. A região onde hoje se situa os municípios de Picuí, Pedra Lavrada e Cuité era conhecida no início do século XVIII como “Ribeira do Acauã” – depois conhecida como “Ribeira do Seridó”. Nos anos 40 do século XVIII, na Ribeira do Seridó e seus afluentes, o quadro que se apresentava era o de um território pontilhado por fazendas de criar gados e cuja concentração de pessoas se acumulava em quatro manchas populacionais, surgidas nos arredores de templos católicos situados nos terraços fluviais dos rios Seridó, Piranhas, Espinharas e Acauã.

A Freguesia da Gloriosa Senhora Santa Ana
Em uma época onde a demarcação das capitanias era vaga e a vastidão da freguesia do Piancó reinava sobre a quantidade reduzida de ministros eclesiásticos, tornou-se interesse da Igreja Católica a racionalização do seu território. Assim, foi desmembrada da freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso uma nova freguesia, sendo escolhida a povoação do Caicó para servir de sede para a mesma, que seria intitulada de Freguesia da Gloriosa Senhora Santa Ana do Seridó, sendo criada em 1747 e instalada em 15 de abril de 1748. A demarcação da freguesia baseava-se no curso natural dos rios, agregando duas ribeiras: a das Espinharas e a do Seridó. Assim, o Seridó ficou sendo representado não apenas pelo curso d’água homônimo, passando a abranger uma malha de rios: Acauã, Seridó, Espinharas e Piranhas. Segundo Dom Adelino Dantas, o território compreendido nessa nova paróquia, a de Santa Ana do Seridó, era muito vasto. Na Paraíba, abrangia toda a região do Seridó e parte do Curimataú Ocidental, incluindo-se também os territórios das futuras freguesias de Patos, de Santa Luzia, de Pedra Lavrada, Cuité e Picuí.

Pedra Lavrada
O primeiro povoamento efetivo da região do Seridó oriental e Curimataú ocidental teve início no ano de 1760, com a construção de uma capela, a qual tinha sido solicitada ao bispo de Pernambuco, pelo capitão-mor Mateus Bezerra Cavalcanti e José Bezerra da Costa, onde hoje se encontra a Matriz de Nossa Senhora da Luz. Mas presume-se que já em 1750, de uma fazenda pertencente à família Gomes Barreto, originou-se a povoação de Itacoatiara, que depois passou a ter o nome atual, em virtude da existência de “pedras lavradas” distantes cerca de um quilometro de onde está erguido à cidade. Em 29 de maio do mesmo ano, a capela foi inaugurada com uma grande procissão, tendo sido benta em 1789. A freguesia foi criada através da Lei provincial n° 02, de 19 de agosto de 1859. O atual município de Pedra Lavrada integrou, inicialmente, o território da antiga povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso (atual município de Pombal), no vale do Piancó; figurou também como parte do território de Vila do Príncipe (atual município de Caicó, no Rio Grande do Norte). A freguesia de Cuité havia sido criada a 12 de agosto de 1801, desmembrada que foi da freguesia de Santana de Caicó. Por integrar a freguesia de Nossa Senhora das Mercês da Serra do Cuité, o território lavradense pertenceu à vila do Brejo de Areia e, a partir de 1826, ao território de Bananeiras, permanecendo nesse status até 25 de junho de 1872, quando foi criado o município de Cuité, sede da comarca da Borborema. Por último, o território lavradense passou a integrar o município de Picui, instalado em 24 de novembro de 1904, após a transferência da comarca de Cuité para aquela nova sede.

Cuité
Em 08 de dezembro de 1704, o Conde de Alvor requeria a primeira data (Sesmaria nº 43), na serra de Cuité, com o nome de “Data do Olho D’água do Cuité”, do qual “fez pinhão”, tirando três léguas de terra por uma, como de costume, recebendo a concessão no governo de Fernando de Barros e Vasconcelos. No entanto, o efetivo povoamento de Cuité se deve a Caetano Dantas Correia, que em 31 de outubro de 1784, requereu a Data da Lagoa do Cuité e, procurando povoa-la, começou por edificar a capela de Nossa Senhora das Mercês. Posteriormente, o fazendeiro doou meia légua de terra tirada daquela data que tinha requerido, tirando-a em torno da capela, com o propósito de se constituir o “patrimônio da santa”. Em 25 de agosto de 1801 a capela passava à sede de freguesia, desligando-se da freguesia de Caicó, através de decreto assinado pelo então bispo de Olinda, dom José Joaquim de Azevedo Coutinho.
O distrito de paz de Cuité foi criado pela lei nº 15, de Outubro de 1827 e seu termo judiciário foi criado pela lei nº 4 de 27 de maio de 1854. Em 27 de maio de 1854, pela Lei nº 4, a povoação da Serra do Cuité foi elevada a categoria de vila. O município de Cuité foi então desmembrado de Bananeiras, tendo um território que abrangia as áreas ocupadas atualmente pelos municípios de Barra de Santa Rosa, Picui, Nova Floresta, Frei Martinho, Nova Palmeira, Cubati e Pedra Lavrada, compreendendo 3.577,4 km2, que se estendiam pelos brejos serranos, fazendo limite com o Rio Grande do Norte e a depressão do Curimataú. Do ponto de vista jurídico, toda essa área pertenceu ao município de Brejo de Areia, e, logo depois, em 1862, já figurava como parte integrada da recém-criada comarca de Bananeiras. A comarca de Cuité somente foi criada em 25 de junho de 1872, sob a denominação de Comarca da Borborema. Em 29 de outubro de 1904, pela Lei nº 212, a comarca de Cuité foi transferida para Picui, ocorrendo sua instalação em 24 de novembro do mesmo ano. Surgia assim, no cenário estadual, o município de Picui, enquanto Cuité era reduzida à categoria de vila.

Picuí
No dia 26 de dezembro de 1704, Dona Isabel da Câmara, Capitão Antônio de Mendonça Machado, Alferes Pedro de Mendonça Vasconcelos e Antônio Machado requereram, e obtiveram por sesmaria (Data e Sesmaria nº 48), um total de doze léguas de fundo por uma légua de frente (3×1 para cada heréu), próximo ao riacho que era chamado pelos nativos de Pucuhy. As penetrações daí decorrentes, ao que parece, tiveram como saldo apenas a implantação de algumas fazendas de gado. Entre 1750 e 1760, novas correntes de povoamento se registraram, inclusive adquirindo as primeiras propriedades ali instaladas. Inúmeras famílias vindas principalmente de Pernambuco, Rio Grande do Norte e do brejo paraibano, iniciaram a colonização. Segundo a tradição oral, as famílias pioneiras da região foram: Costa, Barros, Oliveira, Farias, Macedo, Lima, Azevedo, Dantas, Ferreira, Gomes, Araújo, Pereira, Estrela, Henriques, Garcia do Amaral, Casado, Medeiros, Dantas, entre outras. No transcorrer do século XVIII, tropeiros seridoenses que desciam nordeste abaixo para vender carne de sol, feijão marcassar, milho, farinha de mandioca, dentre outros, acampavam nas cercanias do rio Pucuhy, para reabastecerem as energias de negociantes e animais. Aí começou o pequeno povoado. Após a concessão das sesmarias ao longo do século XVIII, a região do Seridó oriental e do Curimataú ocidental da Paraíba continuaram sendo escassamente povoadas, pois a maioria das datas concedidas aos sesmeiros se constituíram apenas em criatório para o gado, sendo que muitas delas não chegaram nem mesmo a ser utilizadas. A partir do final do século XVIII, muitos sesmeiros que adquiriram datas de terra na região de Picuí abandonaram suas propriedades, por não conseguirem cumprir as exigências importas pela Coroa Portuguesa. Através da conversa dos tropeiros, vários paraibanos e pernambucanos se interessaram pelas terras, praticamente abandonadas, e partiram para obte-las junto ao governo da então capitania da Paraíba.
O século XIX se iniciou com secas nos anos de 1804, 1808 e 1809, tendo continuidade em 1814 e no período de 1816 e 1817. Nessa época, a revolta dos rurícolas era muito grande, pela falta de apoio dos governos às atividades agropecuárias. Prevendo então nova seca em 1824, o governo da província da Paraíba resolveu, em caráter de urgência, doar enormes quantidades de terras que se tornaram devolutas, às pessoas que nela quisessem residir e torna-las produtivas. No ano de 1824, os irmãos Joaquim José da Costa, Lázaro José Estrela, José Joaquim da Costa e Maximiano José da Costa chegaram à região, provenientes dos altos sertões pernambucanos e trazendo consigo bastante dinheiro em ouro e prata, além de muitos animais e alguns escravos para constituírem fazendas. Dessa forma, os quatro irmãos requereram e obtiveram extensa faixa de terras no atual município de Picuí e, quando se estabeleceram na região, os irmãos Costa, de dois em dois meses, abatiam bois, faziam carne de sol e transportavam em tropas de burros-mulos, até as cidades de Paraíba e Recife, onde eram vendidas a atacadistas. Os burros-mulos voltavam carregados com tecidos, sal, rapadura, café, querosene, sabão e fumo.
No entanto, Picuí tem como certidão de nascimento a epidemia de cólera-morbo que se abateu sobre a região no ano de 1856. Em meio ao horror das dezenas de mortes diárias em decorrência da terrível doença, o povo que vivia nas fazendas da região entendeu que uma promessa poderia fazer cessar o surto de cólera. E assim, surgiu a idéia entre os principais fazendeiros das redondezas, da edificação de uma capela invocando a intercessão de São Sebastião; fizeram a promessa e acertaram que o padroeiro do lugar seria o santo mártir. Em 16 de agosto de 1860, os fazendeiros da região se reuniram para dar um nome ao povoado que crescia em torno da capela, concordando que fosse dado o nome do santo ao povoado. E, assim, o povoado nascente passou a chamar-se “São Sebastião do Triunfo”, sendo o último termo uma alusão à vitória brasileira na Guerra do Paraguai.
A freguesia de São Sebastião foi criada pela Lei Provincial nº 440, de 18 de dezembro de 1871, integrante do município de Cuité, e pela Lei Provincial nº 597, de 26 de novembro de 1874, foi criado o distrito de paz da povoação de São Sebastião do Triunfo. Com o correr dos anos, o povo, em vez da expressão “São Sebastião do Triunfo”, passou a chamar o povoado simplesmente de “Triunfo”, nome que foi substituído por Picuhy quando, pela Lei Provincial nº 876, de 27 de novembro de 1888, a povoação foi elevada à categoria de vila. Logo depois, foi criado o município do mesmo nome – Picuí – pelo Decreto nº 323, de 27 de fevereiro de 1902, instalando-se oficialmente o Município de Picuí em 09 de março de 1904. A vila de Picuí finalmente foi elevada à categoria de cidade, em virtude da Lei Estadual nº 599, de 18 de março de 1924, cujo município, considerado até então, um dos maiores da Paraíba, abrangia também os atuais municípios de Cuité, Nova Floresta, Barra de Santa Rosa, Pedra Lavrada, Cubati e Frei Martinho.

Seridó e Curimataú na extensão do brejo paraibano
A subordinação da Igreja ao Estado no Brasil Colônia iria refletir, também, no ordenamento do espaço e, como principal e maior unidade administrativa da colônia, a capitania dividia-se primeiramente em comarcas, estas em termos e por fim os termos em freguesias. Outras figuras importantes para se caracterizar o Seridó e o Curimataú, eram as fazendas da região, que produziam, em anos de inverno regular, quase todo o necessário ao modesto consumo de seus habitantes. O comércio do gado encarregava-se de atingir outros centros mercantis, pois para refazer o plantel que fora comercializado no ano anterior, os fazendeiros da região compravam gado no Piauí e, no seu retorno, abasteciam-se com a farinha e a rapadura do cariri e com o sal cearense. E quando passava a fase de engorda do gado, os fazendeiros vendiam-no nas feiras da Paraíba e Pernambuco, voltando, principalmente dos brejos paraibanos, com outros gêneros que supriam as necessidades da fazenda: milho, feijão, farinha, fumo e aguardente; além de trazerem de Pernambuco mercadorias mais elaboradas como secos e molhados, tecidos, ferrarias, louças etc. Dessa forma, a vida urbana local iniciou-se pouco a pouco e a muito custo se firmou, “desprezível como empório comercial”, visto que o movimento do gado trazia consigo as mercadorias de que os seridoenses necessitavam.
Antes da seca de 1791, os negócios eram realizados com o “gado em pé”, que era vendido para as feiras de gado do litoral da Paraíba e Pernambuco. Os centros urbanos como Salvador e Recife eram abastecidos pelas carnes-verdes do gado criado nos sertões e negociados nas fazendas e vilarejos próximos a essas cidades. Mas havia pastos de engorda para as reses esquálidas pela travessia dos sertões; as reses que abasteciam o mercado de carne-verde do Recife paravam para engordar em algum ponto entre as vilas de Igarassu e de Goiana. Porém, a procura por carne fresca nestas cidades e região circunvizinhas fez com que ocorresse a desvalorização do gado sertanejo, já que a longa jornada até a ponta final do mercado emagrecia o rebanho, demandando o repouso do gado em pastagens não raro arrendadas por atravessadores desse tipo de comércio – sem contar com a mortandade do gado pelos caminhos.
Para evitar a desvalorização do gado, por volta de 1740, regiões do norte do Piauí, do Ceará (principalmente na Vila de Aracati) e do Rio Grande do Norte (nas margens dos rios Mossoró e Açu), passaram a fazer o “salgamento” das carnes e couro em um processo de beneficiamento em escala expressiva que ficou conhecido como “charqueadas”, praticadas nas “oficinas”, “salgadeiras” ou “fábricas de carne-seca”. A conservação da carne através do salgamento fez com que fosse transportada em segurança para os mercados longínquos de Recife, Olinda e Salvador. Através da capitania de Pernambuco, o charque chegava até Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e sul da Bahia.
Toda a região do Seridó Oriental e Curimataú Ocidental já pertenceu ao brejo, mais precisamente aos municípios de Brejo de Areia e Bananeiras. Em 18 de maio de 1815, com a criação da Vila Real de Brejo de Areia – cuja instalação só ocorreu em 30 de agosto de 1818 –, passaram a fazer parte de seu território, além das povoações de Alagoa Grande, Bananeiras, Guarabira e Pilões, os povoados de Cuité e Pedra Lavrada, situados no Curimataú Ocidental e Seridó Oriental, respectivamente. Em 27 de maio de 1854, pela Lei nº 4, a povoação da Serra do Cuité foi elevada à categoria de município, e seu território abrangia as áreas ocupadas atualmente pelos municípios de Barra de Santa Rosa, Picui, Nova Floresta, Frei Martinho, Nova Palmeira, Cubati e Pedra Lavrada. Em 1862, foi integrada à recém-criada comarca de Bananeiras, sendo que sua elevação também à comarca data de 25 de junho de 1872, sob a denominação de “Comarca da Borborema”, mas o benefício foi suprimido em 1891 sendo restabelecido somente em 1900.


* Fabiana Agra é advogada e jornalista

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