Investigação X Denúncia
Acredita-se que nessa
sexta (6), o ministro do STF Teori Zavascky quebrará o sigilo da tão famosa
lista dos políticos que serão investigados no contexto da Operação Lava-Jato - e
finalmente poderemos ter acesso a todos os nomes daqueles que foram citados
durante as delações. Por hora, alguns nomes já são conhecidos, graças aos vazamentos
promovidos no Paraná.
Rodrigo Janot,
Procurador-Geral da República, pediu a abertura de 28 inquéritos e dentre
estes, aparecem os nomes dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado,
Eduardo Cunha e Renan Calheiros, respectivamente, como também de políticos
petistas bem conhecidos pelo público, como Lindembergh Farias (PT-RJ) e Gleisi
Hoffman (PT-PR). Falam até que Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco (PSB-PE)
e o ex-senador e ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PSDB-PE), foram citados.
Nesses casos específicos, Janot teria pedido o arquivamento, pois ambos já são
falecidos, conta-se.
No entanto, o que
está dando mesmo o que falar não é a relação dos pedidos de abertura de
inquérito – de 28 políticos, no caso –, mas dos 7 pedidos de arquivamento. Dentre
estes, temos os casos de Aécio Neves, senador (PSDB-MG) e candidato derrotado
nas eleições presidenciais, do ex-presidente da Câmara Henrique Alves, e da
presidenta Dilma Rousseff. Em todos esses pedidos, Janot considerou não haver
indícios de envolvimentos dos mesmos nas
delações da Operação Lava Jato.
A mídia golpista
está, por um lado, jogando confetes – já que Aécio Neves foi retirado na lista;
em contrapartida, seus asseclas estão cuspindo impropérios porque não verão Dilma
Roussef figurando entre os 28 políticos cujos nomes foram indicados pelo
Procurador-Geral em seu pedido de abertura de inquéritos. Paciência, Merval,
Leitão, Mainardi, Constantino e seus seguidores:
diferentemente do “mensalão”, parece que não veremos um julgamento de cartas
marcadas e com veredicto já sabido e até mesmo escolhido pela mídia. Ao menos é
o que se vislumbra, por enquanto.
Ter prudência ou agradar a “gregos e troianos”?
O jornalista Fernando
Brito, em seu último artigo no site “Tijolaço” atenta para a necessidade de
interpretar a atitude de Janot, quando o procurador-geral pede “apenas” a
abertura de inquérito sobre os indícios de crime dos acusados, em lugar – como
clamava a mídia golpista – já denunciar os envolvidos no STF e no STJ.
Para Brito – e enquanto
operadora do direito concordo com seu postulado –, fica claro que Janot tem
dúvidas “não apenas sobre o conteúdo e a precisão das informações enviadas pelo
Ministério Público Federal e pelo juiz Sérgio Moro, mas sobre os métodos que
levaram à sua obtenção”.
Aqui, uma rápida
explanação jurídica: para acontecer uma denúncia, é imprescindível que
haja uma descrição precisa e circunstanciada do alegado crime (as famosas
perguntas: “o que” “como”, “onde”...). E não, não é como alguns midiáticos e
mesmo juristas mais afoitos desejam, onde bastaria apenas o “ele disse”, o “ouvi
dizer”, que são tão comuns lá na República do Paraná, onde governa soberano, o
senhor Moro. Em qualquer meio jurídico sério, sem responder a essas perguntas
básicas, juiz algum, em sã consciência, poderá receber uma denúncia. E ao que
parece, Janot teve o cuidado de pedir a abertura de inquéritos ao invés de logo
denunciar. Assim, os processos seguirão seus ritos normais, sem atropelo da
mídia ou de juízes que vivem de holofotes.
Mas há quem indique o ato de Janot na direção
contrária – dizem até que a tal "lista de Janot" saiu ao gosto do
Palácio do Planalto e também da oposição. A situação, por um lado, conseguiu
uma trégua, ao compartilhar a crise da Operação Lava Jato com o Poder
Legislativo. Agora, com a inclusão dos presidentes da Câmara e do Senado, no
rol dos investigados, qualquer iniciativa antidemocrática, como um eventual
pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, estará fadada ao fracasso.
Afinal, com que autoridade moral o Congresso poderá levar adiante um processo
de cassação? Por outro lado, para a oposição, a lista também foi recebida com
alívio, principalmente quando soube que o senador Aécio Neves safou-se da
denúncia, agora, certamente, seus partidários vão partir para cima dos demais
nomes a serem investigados.
A única
certeza: o 15 de março “gorou”
De todas essas bombas
midiáticas que estão atordoando o olhar dos leitores mais atentos, a única
certeza que tenho é que o movimento pró-impeachment dos “revoltontos”, marcado
para o próximo dia 15 de março, simplesmente “gorou”, já nasceu morto. Ora bolas,
com que moral uma Câmara presidida por Eduardo Cunha poderá encaminhar eventual
pedido de impeachment de uma presidenta reeleita com 54 milhões de votos, há
menos de três meses, para um Senado comandado por Renan Calheiros votar? Sim, é
isso mesmo, este é o efeito imediato dos pedidos de investigação apresentados
por Rodrigo Janot ao STF.
Um eventual pedido de impeachment teria que
ser acolhido pela Câmara de Cunha e votado pelo Senado de Renan. Como bem
lembrou o site Brasil247 em um dos seus últimos editoriais, qualquer decisão
tomada nessa direção teria cheiro de retaliação: “um dos principais líderes da
oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pediu cautela. Se deve-se ter
cautela em relação a Eduardo Cunha e Renan Calheiros, mais ainda em relação à
presidente Dilma, que nem sequer foi citada nas investigações”.
Assim, a tentativa de um golpe através da
tresloucada marcha pró-impeachment passou a ser coisa de um futuro que não
existirá – a não ser no universo paralelo dos milhares de vira-latas
coxinhescos. Agora, o desafio será Dilma Roussef e seus ministros conseguirem
aprumar o barco que está navegando em mares revoltos, com vistas a levá-lo para
o ancoradouro tranqüilo da governabilidade. Mas talvez ainda seja cedo para
isso, talvez seja preciso ainda esperar pelos próximos capítulos “globais”.
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