terça-feira, 25 de março de 2014

ELEIÇÕES 2014 NO SERIDÓ E CURIMATAÚ DA PARAÍBA - Parte 01



A BOMBA JÁ EXPLODIU. BASTA SABER QUAIS SERÃO SEUS EFEITOS!
E bastou eu viajar um fim-de-semana para quase tudo acontecer no cenário político picuiense! Ainda bem que tem o ClickPicui do amigo Francisco Araújo, que me deixa informada sobre tudo que acontece na terrinha. E foi no ClickPicui que li uma matéria que me deixou pensativa:http://www.clickpicui.com.br/2014/03/santa-luzia-do-serido-suplente-de.html




Pois é: Nininho, que é suplente de vereador do bloco da oposição, teria se bandeado pro lado da situação. Aí eu fiz um telefonema e soube o motivo da procura pelo rapaz: segundo minha fonte, a medida foi para tentar desmoralizar o PT de Picuí.


Eu fiquei pensando aqui: desmoralizar o PT? Sinceramente, eu acho que esse pulo de Nininho em nada prejudica o PT, talvez resolveu um problema para o pré-candidato Olivânio Remígio. No entanto, eu acredito que o pré-candidato Buba terminou dando um tiro no pé. Explico: quem acompanha a política picuiense, sabe que Zé Onildo é liderança consolidada na serra e no distrito de Santa Luzia do Seridó. Tanto é assim que, a despeito da própria coligação ter colocado uns três candidatos a vereador na localidade para obter votos, Zé Onildo conseguiu eleger seu irmão Vidal com muitos votos da serra. 


Eu fico aqui pensando: esqueceram de falar com Zé Onildo e Vidal sobre essa decisão? Das três, uma:
1. A liderança-mor não respeita Zé Onildo e Vidal enquanto lideranças.
2. À liderança-mor não importa a opinião de Zé Onildo e Vidal; para ele, ambos são meros ajudantes.
3. A liderança-mor, por um lapso de memória, esqueceu da existência de Zé Onildo e Vidal.
A bomba de Nininho trará outras consequências imediatas, porém: fui informada de que Nininho será nomeado fiscal e administrador da vila, sua irmã irá trabalhar no Hospital Regional e a vereadora Patinha será nomeada secretária para Nininho assumir uma vaga na Câmara Municipal. Claro que nada disso está confirmado, por enquanto é zoada de passarinho. Mas que o canto tem fundamento, ah isso tem.





Cá pra nós, o sol não está aparecendo muito aos girassóis de Picuí, pois a sua liderança-mor xingou nossos amigos cuiteenses com uma tal de "Central de Fofocas". Passei por Cuité e o que tem de gente revoltada com essa história lá na serra é uma fábula! Poxa, nossos irmãos cuiteenses não merecem a pecha de fofoqueiros! Eu trabalhei durante três anos em Cuité e posso atestar a seriedade daquele povo, que tem o meu respeito e admiração!


E para "passar a régua e encerrar a conta", um blogueiro lá da região de São Vicente do Seridó me alertou de que a prefeita Graciete está fechando apoio ao candidato a deputado estadual Ricardo Barbosa. Assim, do jeito que a coisa vai, os votos de Buba estão escorrendo entre seus próprios dedos...





Fabiana Agra.

domingo, 9 de março de 2014

REMINISCÊNCIAS SOBRE O SERIDÓ ORIENTAL DA PARAÍBA


PICUÍ: 110 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
Neste dia 09 de março de 2014, o Município de Picuí completa 110 anos de existência; para comemorar a data, publicamos um trecho da obra “Picuí do Seridó: dos primórdios até 1930”, da nossa colunista Fabiana Agra, onde há o registro do início da povoação do Seridó Oriental da Paraíba.
Ed Cordeiro
Imagem: Fabiana Agra


REMINISCÊNCIAS SOBRE O SERIDÓ ORIENTAL DA PARAÍBA *

por Fabiana Agra **



O início do povoamento do Seridó Oriental da Paraíba
Essas três localidades são a gênese do povoamento da porção oriental do Seridó, sendo que o território de Carnaúba dos Dantas, até parte do século XIX, pertencia à província da Paraíba.
Carnaúba dos Dantas – situado no estado do Rio Grande do Norte, o atual município de Carnaúba dos Dantas teve sua área citada, pela primeira vez, em documento datado do ano de 1545, quando os portugueses fizeram a primeira visita oficial ao interior da capitania do Rio Grande, no “Valle Sirido”, onde passaram pelos lugares Boqueirão do Cuó, Riacho de Carnaúbas, Queiquó e Piancó, além de outros lugares. Em 11 de abril de 1613, pelo Capitão-mor Teodósio de Orggeste Machado, Provedor Real, foram demarcadas as terras do Riacho de Carnaúbas. A demarcação principiou com o Rei Janduí, imperador dos janduís, "allegando q. imperava nes dittas terras cmº senhôr de gaddos mortos e lavôuras rastêras". Por essa razão pediu ao referido capitão "oito legoas de comprido por duas de larggo peggando (...) da rocha em forma de piramide na serra do piaui (...) athe atingir o logar Marinbôndo".
Após essa primeira demarcação, teve a do português Cosme Francisco de Bourbon, alegando que desde 1611 possuía parte do Riacho de Carnaúbas, por data de sesmaria neutra, com três léguas de comprido por sete de largo, pegando do marco do rei Janduí e indo até o lugar Rajada; em seguida, os negros Firmino, Antonio, Roberto e Jerela, do major Antonio de Melo Castro Ribeiro, com uma légua de comprido por meia de largo, pegando do marco de Cosme Francisco de Bourbon; o rei Canindé, imperador dos canindés, com quatro léguas de comprido por uma de largo, pegando do marco dos negros e indo até o lugar Caiçara de Pedra, dos índios pegas; o bandeirante Luís Gomes, com uma jornada de léguas de fundo por meio de largo, pegando do marco anterior e indo até o Sítio Acari; novamente o rei Janduí, com quatro léguas de comprido por meio de largo, pegando do marco de Luís Gomes e indo até o lugar Ermo dos Anuns; finalmente, o rei Pecca, representando a tribo dos pegas, com 900 braças de comprido por 34 e meia de largo, pegando do último marco do rei Janduí e indo até apedra Pirâmide.
Cessada a “Guerra dos Bárbaros” no início do século XVIII, as terras que hoje formam o município de Carnaúba dos Dantas passaram a ser visitadas por sesmeiros vindos da Paraíba, como Luiz Quaresma Dourado e Braz Ferreira Maciel. Aos 11 de setembro de 1720, o português Luiz Quaresma Dourado requereu terras no sertão do Quinturaré. A justificativa de Quaresma Dourado para requerê-las é que necessitava delas para criar seus gados, pois as extensões territoriais que já possuía eram insuficientes. "O requerente pedia três léguas de comprido por uma de largo no Riacho do Olho d'Água Grande”. A concessão foi feita pelo governador da capitania da Paraíba, Fernão Castello Branco. Todavia, tendo que se ausentar da cidade do Natal em 18 de novembro de 1718, Luiz Quaresma Dourado passa as terras da Data do Riacho do Olho d'Água Grande para o Tenente Braz Ferreira Maciel, por Certidão de Procuração, conforme documentos do Arquivo do Cartório de Pombal.
No ano de 1788, o Coronel Caetano Dantas Correia solicitou ao governador da Paraíba, Jerônimo José de Mello Castro, através de data de sesmaria, "três léguas de sobras no riacho Carnaúba, junto ao sítio da serra Rajada", argumentando que precisava de terras para criar os seus gados e plantações. Entretanto, Caetano Dantas já devia estar de posse das referidas terras, pois em 1776 “diz que possue uma sorte de terras no riacho chamado Carnauba de que esta de mansa e pacifica posse, e por (...) haver sobra, a quer (...) por nova data”. Apesar de estar de mansa e pacífica posse da propriedade, Caetano Dantas deve ter adquirido as terras do riacho Carnaúba ao seu antigo possuidor, Braz Ferreira Maciel. Isto está evidenciado através do Inventário do referido coronel, no qual sua esposa, Josefa de Araújo Pereira, declara que o sítio Carnaúba foi adquirido através de compra ao Capitão Braz Ferreira Maciel, falecido em 1798. Convém salientar que, em 1778, o patriarca dos Dantas do Seridó já havia adquirido, através de compra a Braz Maciel, uma data sesmárica de três léguas de comprido por uma de largo, no sítio Riacho Fundo - hoje vizinho do município de Picuí. Foi uma ocupação temporária, destinada apenas às estações chuvosas. Um fato peculiar é que com a chegada e instalação dos Dantas Correia nos Picos de Cima, inicia-se o período do povoamento da Data da Carnaúba. Segundo Maria da Paz Dantas, a fazenda Carnaúba foi edificada entre 1777 e 1778 pelo tenente-coronel Caetano Dantas Correia, o segundo (1758-1830), por ocasião do seu casamento com Luzia Maria do Espírito Santo. Esse, segundo a autora, era o único núcleo de moradia do vale do rio Carnaúba. A casa de taipa, mais dois currais de pau-a-pique e um barreiro, constituíam o núcleo primordial da fazenda Carnaúba.
Pedra Lavrada – o primeiro povoamento efetivo da região do antigo Município de Picuí teve início no ano de 1760, com a construção de uma capela, a qual tinha sido solicitada ao bispo de Pernambuco, pelo Capitão-mor Mateus Bezerra Cavalcanti e José Bezerra da Costa, onde hoje se encontra a Matriz de Nossa Senhora da Luz. Presume-se que em 1750, de uma fazenda pertencente à família Gomes Barreto, originou-se a povoação de Itacoatiara, que depois passou a ter o nome atual, em virtude da existência de “pedras lavradas” distantes cerca de um quilometro de onde está erguido à cidade. Em 1760, por intermédio do visitante dr. Alexandre Bernadino dos Reis, José Bezerra da Costa pediu licença ao bispo de Campina Grande, dom Tomaz da Encarnação Costa, para a edificação de uma capela em homenagem à Nossa Senhora da Luz, doando 25 braças de terra ao patrimônio da igreja, para a edificação da referida capela. Em 29 de maio do mesmo ano, a capela foi inaugurada com uma grande procissão, tendo sido benta em 1789. Em 1843, Vicência de Paiva Cunha, irmã do coronel Antônio Gomes Arruda Barreto, doou também ao patrimônio de Nossa Senhora da Luz, 480 braças de terras do nascente ao poente e 2.400 braças de norte a sul se limitando ao nascente com as terras do Tamanduá, ao poente com o Retiro e Carnaúba, ao norte com as terras do Caldeirão e, ao sul com o riacho dos Porcos. A freguesia foi criada através da Lei provincial n° 02, de 19 de agosto de 1859, tendo sido desmembrada da freguesia de Cuité que, por sua vez, fora desmembrada da de Caicó em 25 de agosto de 1801. A freguesia de Nossa Senhora da Luz teve como seu primeiro vigário Marcelino Rogério dos Santos Freire, que assumiu em 15 de julho de 1860, trabalhando durante 10 anos.
O município de Pedra Lavrada integrou, inicialmente, o território da antiga povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso (atual município de Pombal), no vale do Piancó; figurou também como parte do território de Vila do Príncipe (atual município de Caicó, no Rio Grande do Norte). A freguesia de Cuité havia sido criada a 12 de agosto de 1801, desmembrada que foi da freguesia de Santana de Caicó. Por integrar a freguesia de Nossa Senhora das Mercês da Serra do Cuité, o território lavradense pertenceu à vila do Brejo de Areia, elevada a categoria de cidade em 1846. O território de Pedra Lavrada pertenceu, a partir de 1826, ao território de Bananeiras, permanecendo até 25 de junho de 1872, quando foi criado o município de Cuité, sede da comarca da Borborema. Por último, o território lavradense passou a integrar o município de Picui, instalado em 24 de novembro de 1904, após a transferência da comarca de Cuité para aquela nova sede.
Cuité – Padre Luiz Santiago, no livro “Serra do Cuité: sua história, seus progressos, suas possibilidades”, afirma que os índios que habitavam as serras de Cuité foram aldeados pelo Padre João de Barros em 1696. Acerca do início do povoamento, Padre Lula colheu relatos dos anciãos que viviam na região durante a década de 1930, que contaram a estória de um senhor, vindo de Bananeiras que, avistando as serras da Canastra e Bombocadinho, chegou até aí, a título de caçada, acompanhado de dois filhos: “Compreenderam estar deante de uma grande serra. Aproximaram-se e descobriram ao raio sul o formidável olho d’água chamado pelo gentio Cuité”. Ao retornar à Bananeiras, aquele senhor tratou logo de levar a notícia do seu achado ao Provedor-mor, segundo relata o padre. Em 08 de dezembro de 1704, o Conde de Alvor requeria a primeira data, nesta serra, com o nome de Data do Olho D’água do Cuité, do qual “fez pinhão”, tirando três léguas de terra por uma, como de costume, recebendo a concessão no governo de Fernando de Barros e Vasconcelos. A este requerimento seguiram-se mais quatro outros, no mesmo ano e em continuidade territorial, compreendendo rio-abaixo do Jacu, o qual nasce daquele olho d’água, tornando rumo sul e depois, sudeste e norte a encontrar com o rio Japi.
Mas Padre Santiago atribui a origem de Cuité a Caetano Dantas Correia, que em 31 de Outubro de 1784, requereu a Data da Lagoa do Cuité e procurando povoa-la, começou por edificar a capela de Nossa Senhora das Mercês e, na companhia do irmão Simplício Dantas Correia, passaram a promover animadíssimas festas. Caetano Dantas Correia doou meia légua de terra tirada daquela data que tinha requerido, tirando-a em torno da capela, com o propósito de se constituir o “patrimônio da santa”. Em 25 de agosto de 1801 a capela passava à sede de freguesia, desligando-se da freguesia de Caicó, através de decreto assinado pelo então bispo de Olinda, dom José Joaquim de Azevedo Coutinho. O livro de Padre Lula traz a lista de nomes dos moradores de Cuité, reunidos em Mamanguape, que assinaram a petição dirigida ao bispo de Pernambuco, em que se obrigam a manter a freguesia que pleiteiam sua criação – Serra do Cuité – desligando-a de Caicó, em 12 de agosto de 1801.
O ano de 1801 é importante para a região, pois foi criada a freguesia de Nossa Senhora das Mercês da Serra do Cuité, desmembrada da freguesia de Nossa Senhora de Santana, Vila Nova do Príncipe. Em 18 de maio de 1815, por Alvará Régio, era criada a Vila Real de Brejo de Areia, cuja instalação só ocorreu em 30 de agosto de 1818. Fazia parte de seu território as povoações de Alagoa Grande, Bananeiras, Guarabira, Pilões, Cuité e Pedra Lavrada. No livro “Cuité, terra nossa”,
José Pereira Sobrinho conta que, quando a serra de Cuité foi colonizada, seus moradores perceberam que a terra era fértil e passaram a explora-la, principalmente através do plantio da mandioca. No entanto, com a plantação agrícola surgiu simultaneamente a criação do gado bovino. Não tardou surgir problemas entre criadores e agricultores. Para sanar o problema, foi feito um acordo, para o cercamento de toda a Serra. A este acordo foi denominado de “travessão”. O acordo consistia e determinava, que todo proprietário teria que cercar a parte que fazia fronteira com as decidas, conhecidas como “grotas”. Este acordo foi feito entre o capitão Silvino de Araújo Bezerra (representante do Rio Grande do Norte) e Tomás Campos (representante da Paraíba). Como era difícil o arame para o isolamento, as cercas eram feitas de pedras; na localidade onde não se dispusese de pedra, o proprietário fazia valados no solo, para impedir a passagem do gado. Segundo Padre Luiz Santiago, a serra fora cercada aos poucos, fechando o circulo em 1891. Pela Paraíba fora cercada á deliberação da Câmara Municipal, cujo presidente era Antonio Ferreira de Melo Ramos, “que o fez a instancias do sr. Tomaz Soares da Costa Campos, o qual infrentou toda a direção do serviço”. Ainda hoje, pode-se encontrar isoladamente cercas de pedras ou valados nas encostas da serra de Cuité, que datam do final do século XIX.
O distrito de paz de Cuité foi criado pela lei nº 15, de Outubro de 1827 e o termo judiciário de Cuité foi creido pela lei nº 4 de 27 de maio de 1854. Em 27 de maio de 1854, pela Lei nº 4, a povoação da Serra do Cuité foi elevada a categoria de vila, e seu território abrangia as áreas ocupadas atualmente pelos municípios de Barra de Santa Rosa, Picui, Nova Floresta, Frei Martinho, Nova Palmeira, Cubati e Pedra Lavrada. Do ponto de vista jurídico, toda essa área pertenceu ao município de Brejo de Areia, e, logo depois, em 1862, já figurava como parte integrada da recém-criada comarca de Bananeiras. A comarca de Cuité somente foi criada em 25 de junho de 1872, sob a denominação de Comarca da Borborema. Em 29 de outubro de 1904, pela Lei nº 212, a comarca de Cuité foi transferida para Picui, ocorrendo sua instalação em 24 de novembro do mesmo ano. Surgia assim, no cenário estadual, o município de Picui, enquanto Cuité era reduzida à categoria de vila. O progresso, para a época, foi rápido. Em 1800 ou 1827, como afirmam alguns autores, Cuité foi elevado à categoria de distrito, passando em 1854 à condição de município. Sua elevação à comarca data de 1872, mas o benefício foi suprimido em 1891 sendo restabelecido, em 1900. Quatro anos depois o município e a comarca de Cuité foram anexados ao Município de Picuí, com o nome de Serra do Cuité. Assim permaneceu, até 1936, quando restaurada sua autonomia administrativa, desmembrou-se definitivamente de Picuí formando dois distritos, o da Sede e o de Barra de Santa Rosa. Em 1938, o Município teve seu nome simplificado para Cuité.

O povoamento de Picuí
Primeiras datas de terraas primeiras incursões para a colonização de Picuí ocorreram entre 1704 e 1706, quando o presidente da província da Paraíba era Fernando Barros Vasconcelos. No dia 26 de dezembro de 1704, Dona Isabel da Câmara, Capitão Antônio de Mendonça Machado, Alferes Pedro de Mendonça Vasconcelos e Antônio Machado requereram, e obtiveram por sesmaria, três léguas de terra (equivalente a dezoito quilômetros), próximo ao riacho que era chamado pelos nativos de Pucuhy. Heleno de Araújo lembra que essa sesmaria deu origem às atuais propriedades rurais de Umburana, Gravatá, Quinturaré, Letreiro, Pedra D’Água, Alagamar, Provador, Barra do Pedro, Várzea Grande, Várzea da Cruz, Águas Belas, Cotovelo, Timbaúba, Cisplantina, Caraibeira, Riacho do Boi, Lago do Dedo e Volta. As penetrações daí decorrentes, ao que parece, tiveram como saldo apenas a implantação de algumas fazendas de gado. Entre 1750 e 1760, novas correntes de povoamento se registraram, inclusive adquirindo as primeiras propriedades ali instaladas. Inúmeras famílias vindas principalmente de Pernambuco, Rio Grande do Norte e do Brejo Paraibano, iniciaram a colonização. Segundo a tradição oral, as famílias pioneiras da região foram: Costa, Barros, Oliveira, Farias, Macedo, Lima, Azevedo, Dantas, Ferreira, Gomes, Araújo, Pereira, Estrela, Henriques, Garcia do Amaral, Casado, Medeiros, Dantas, entre outras.
Território do Município de Picuí – Abílio César de Oliveira, no livro “Município de Picuí: esboço histórico”, diz que os territórios dos atuais municípios de Pedra Lavrada, Cubati, Nova Floresta, Cuité, Barra de Santa Rosa e Frei Martinho formavam o território do município e comarca de Picuí, que se estendia do riacho da Telha ao morro de Sussuarana, medindo mais ou menos 15 léguas. Ainda segundo o autor, no início de 1700, tropeiros seridoenses que desciam Nordeste abaixo, para vender  carne de sol, feijão marcassar, milho, farinha de mandioca, dentre outros, acampavam nas cercanias do rio Pucuhy, para reabastecerem as energias de negociantes e animais. Aí começava um pequeno povoado, depois vila, distrito e por fim, o município de Picuí.
O repovoamento da região de Picuí – após a concessão das sesmarias ao longo do século XVIII, a região do Seridó oriental paraibano continuou sendo escassamente povoada, pois a maioria das datas concedidas aos sesmeiros se constituíram apenas em criatório para o gado, sendo que muitas delas não chegaram nem mesmo a ser utilizadas. Assim, a partir do final do século XVIII e início do século XIX, começa o repovoamento da região, tendo seu primeiro núcleo de ocupação efetiva ao largo de uma estrada existente, onde atualmente se encontra o município de Pedra Lavrada. No ano de 1760, foi construída uma capela naquela localidade, onde já havia certo agrupamento de casas de vivenda. Depois foi a vez da Serra do Cuité ser povoada efetivamente, através do dono de terras Caetano Dantas Correia, que no ano 1784, requereu a data da Lagoa do Cuité, ali edificando a capela de Nossa Senhora das Mercês. Em 1801, a capela passou à sede de freguesia, desligando-se da freguesia de Caicó.

Uma promessa é igual a um povoado
Abílio César de Oliveira, em seu livro “Município de Picuí”, conta acerca do surto de colera morbo que assolou a região do Seridó no ano de 1856. Em suas palavras, “terrível flagelo da humanidade, grassando, vertiginosamente, do litoral ao sertão, atravessou os Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, atingindo, neste Estado, principalmente, as zonas do brejo, curimataú, catinga, cariri e seridó”. E realmente, a história registra essa terrível epidemia que atingiu todo o Nordeste naquele ano, repetindo-se, com menor intensidade, em 1862. Lira Neto, na biografia “Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão”, conta que o pânico se estabeleceu entre os sobreviventes, que creditavam a tragédia a um severo castigo dos céus. Havia relato de doentes sepultados vivos em valas comuns depois de abandonados pela família e mandados antes da hora para o cemitério, por medo de um possível contágio. Com a falta de coveiros em número suficiente para dar conta de tamanha tarefa, o serviço de enterramento era feito por condenados pela Justiça, em troca de goles de cachaça e do perdão de suas penas.
Em meio ao horror das dezenas de mortes diárias em decorrência da terrível doença, o povo da região onde hoje se situa o núcleo urbano de Picuí entendeu que uma promessa poderia fazer cessar o surto de cólera. E assim, surgiu a idéia entre os principais fazendeiros das redondezas, da edificação de uma capela invocando a intercessão de São Sebastião, para que o santo “intercedesse por eles, perante Nosso Senhor Jesus Cristo”. Assim, fizeram a promessa e acertaram que o padroeiro do lugar seria o santo mártir. Ninguém sabe se por milagre ou por coincidência, diziam os mais velhos que, daquele dia em diante, ninguém morreu mais de cólera na região.
Para o propósito da construção da capela, os fazendeiros foram liderados pelo Coronel José Ferreira de Macedo que, paralelamente à construção da ermida, construiu a primeira casa do povoado, conhecida como "a venda grande"; ele ocupou o cargo de fiscal e, com o seu prestígio, conseguiu trazer para o aglomerado o primeiro mestre-escola, o primeiro costureiro de roupas masculinas e o primeiro mestre de música. Ainda em 1856 teve início a construção da capela, no local onde havia sido o curral de gado do fazendeiro Lázaro José Estrela. A capelinha foi concluída no ano seguinte, recebendo a primeira visita sacerdotal, na pessoa do padre Francisco de Holanda Chacon, vigário da cidade de Areia, que rezou a primeira missa no dia 3 de setembro de 1857.
Em 16 de agosto de 1860, os fazendeiros da região se reuniram para dar um nome ao povoado que crescia em torno da capela; Abílio César diz que alguns deles, achando que “deveriam ser gratos ao glorioso protetor – São Sebastião – que fizera cessar o grande mal que tantas vidas dizimara, concordaram todos que fosse dado o seu nome ao Povoado. Acontece, porém, que um dos fazendeiros, naturalmente, entusiasmado com a vitória do Brasil, na guerra do Paraguai, (...) sugeriu que se acrescentasse ao nome do Padroeiro, a palavra TRIUNFO. E, assim, o povoado nascente passou a chamar-se SÃO SEBASTIÃO DO TRIUNFO”. Alguns relatos dão conta de que a idéia do acréscimo da palavra “triunfo” foi do Coronel José Ferreira. Após a escolha do nome do povoado, os fazendeiros assinaram um documento, no qual ficou estabelecido que os mesmos doavam a terra para o patrimônio de São Sebastião, onde atualmente se encontra a cidade de Picuí.

Fundação do Município de Picuhy
O Município de Picuhy foi criado no dia 27 de fevereiro de 1904 e instalado oficialmente no dia 09 de março de 1904. Todas essas autorizações foram emitidas pelo Decreto Estadual de nº 232, do citado ano de 1904.
As disposições transitórias da aludida lei davam conta de que “No praso de sessenta dias contados da mesma data deste Decreto, serãoinstallados os novos termos e comarcas pelos respectivos Juízes de Direito ou Municipaes”. Mas as autoridades picuienses não quiseram esperar tanto tempo e, alguns dias depois, no dia 09 de março de 1904, em sessão solene, o Município do Picuhy foi instalado oficialmente, conforme se depreende da “Accta da installação do Município e termo judiciário da Villa do Picuhy, da Comarca de Borburema, do Estado da Parahyba”.
E graças ao trabalho realizado na Assembleia Legislativa, tanto pelo deputado estadual Graciliano Fontino Lordão, chefe político e professor em Pedra Lavrada e Picuí, como pelo deputado Ascedino Neves, de Bananeiras, a comarca foi transferida de Cuité para Picuhy, pela Lei Estadual nº 212, de 29 de outubro de 1904, já no governo do presidente Álvaro Lopes Machado, sendo instalada em 24 de novembro do mesmo ano, tendo designados para a Comarca, o Juiz de Direito Abdias da Costa Ramos, e Juiz Municipal, Salustino Ephygenio Carneiro da Cunha – que já exercia o cargo de juiz do termo de Picuhy desde o dia 20 de fevereiro de 1904. Na ocasião, o município de Cuité também foi anexado ao município de Picuhy, perdendo Cuité a condição de município e passando a chamar-se Serra de Cuité.

* Extraído da obra: AGRA, Fabiana de Fátima Medeiros. Picuí do Seridó: dos        primórdios até 1930. João Pessoa: A União, 2010.

** Fabiana Agra é advogada e jornalista.

Publicado originalmente no site PARAIBA GERAL.




PARABÉNS, RAINHA DO SERIDÓ PARAIBANO!


09 de março de 1904: Emancipação do Município de Picuí


segunda-feira, 3 de março de 2014

FESTA DO PICOLÉ: o resgate de uma marca picuiense




A marca nacionalmente conhecida do “Picolé Caseiro de Picui” surgiu em 1990, através de iniciativa da picuiense Joselma Oliveira que, para ajudar nas despesas da família, resolveu aproveitar a receita caseira do picolé que sua genitora, Severina de Basto, vendia em na própria casa, localizada próxima à cadeia de Picuí, e que fora inventada por Lourdes de Marcos. A empresa “Picolé Caseiro” surgiu no ano de 1990, em Currais Novos e Joselma lembra que sua primeira produção – apenas 30 picolés – foi armazenada em um pequeno isopor e vendida por ela na feira livre da cidade. Tempos depois, Joselma teve a ideia de criar um picolé que se adequasse melhor ao formato da boca – assim surgiu a forma do “picolé cônico”. Com o crescimento da demanda pelo produto, a proprietária percebeu que deveria expandir seus negócios, aumentando a produção e o raio de distribuição, e transferiu as instalações da fábrica inicialmente para Assú e depois para Mossoró. Somente a partir do ano de 1994, a empresa migrou sua produção para o município de Fortaleza, capital do Ceará, iniciando uma nova fase. Em 1997, surgiu a necessidade da criação de uma marca própria, provocada pela expansão do mercado – a empresa mudou a marca e o nome deixou de ser “Picolé Caseiro” para se transformar na “Pardal Sorvetes”, que atualmente é referência nacional em termos de infraestrutura para a indústria de sorvetes.

Após o sucesso dos picolés caseiros de Joselma, a ideia se espalhou entre dezenas de empreendedores picuienses e nos dias de hoje, praticamente em todos os estados do nordeste há picolés fabricados por empresas “made in Picuí”, que são comercializados nas principais redes de supermercados e varejo das capitais, regiões  metropolitanas e em algumas cidades do interior nordestino – e até na cidade de Santos, no estado de São Paulo. Para atender à procura pelo produto, mais de 30 empresas, quase todas tendo picuienses como proprietários, investem pesado na estrutura de seus negócios, com vistas a atender outras regiões. Atualmente, essas indústrias empregam direta e indiretamente cerca de oito mil famílias, que vão desde os empregados das fábricas até os vendedores que empurram os carrinhos de picolés pelas ruas e praias nordestinas.

Devido à importância socioeconômica das fábricas de picolés para o município de Picuí, no ano de 2000 o também picuiense José Onildo de Negreiros teve a iniciativa de criar a “Festa do Picolé”, como forma de homenagear e divulgar, no cenário nacional, o nome do município como sendo a “Terra do Picolé Caseiro”. O evento se mostrou um grande sucesso, chegando mesmo a ser incluído no calendário de eventos turísticos do estado da Paraíba. O festival foi realizado nos anos de 2000, 2001 e 2002 na cidade de Picuí e o ponto alto da festa era a degustação de um picolé gigante, que era produzido pela “Pardal Sorvetes”, tendo inclusive quebrado o recorde do maior picolé já fabricado, que pesava algumas centenas de quilos e foi devorado em questão de minutos pelos participantes da festa. Porém, em razão da falta de apoio financeiro dos órgãos governamentais, e talvez pela falta de engajamento dos demais fabricantes de picolés, a festa deixou de ser realizada.

Apesar do governo municipal nunca ter divulgado adequadamente a importância do “Picolé Caseiro de Picuí” para a economia picuiense, é preciso que lembremos das dezenas de empreendedores que saíram do nosso município e que hoje empregam centenas de conterrâneos, ajudando à economia do município. Eu arrisco a dizer que a atividade hoje, economicamente falando, é bem mais rentável do que os restaurantes de carne de sol de Picuí, igualmente espalhados pelo nordeste e em algumas cidades do sudeste brasileiro.

Então, chegou a hora de fazermos justiça: Picuí não é somente a “terra da carne-de- sol”: Picuí também é a terra do minério e do picolé! Picuí tem muito mais para oferecer à economia e ao turismo da região do seridó – e por que não dizer, do nordeste brasileiro. Para tanto, é preciso que o Poder Público e o povo picuiense comecem a investir no tripé “carne-de-sol – minério – picolé” como elementos-chave para o desenvolvimento do município. É preciso que seja criada, quem sabe, a “Festa do Minério” e que a “Festa do Picolé” possa ser reeditada para que, ao lado do “Festival da Carne de Sol”, o nome de PICUÍ possa ser divulgado cada vez mais pelo Brasil afora, trazendo retorno econômico e incrementando o turismo da nossa terra.


* Fabiana Agra é advogada, jornalista e escritora.


Fontes:
Texto de José Onildo de Negreiros 
Facebook de Pardal Sorvetes https://www.facebook.com/PardalSorvetes/info




CARNAVAL PICUIENSE:
ONDE ESTÃO OS CARAS-BRANCAS E OS CARAS-PRETAS?

por Fabiana Agra *

Entre um dia e outro de Carnaval, dei uma passadinha nas redes sociais e pude constatar, feliz, as iniciativas da Escola Professor Lordão, do empresário Fabrízio Medeiros e de dezenas de foliões, onde destaco Etiene Moreno e Lena Caetano, em resgatar o “Carnaval Tradição” de Picuí – ao mesmo tempo em que leio as reclamações de tantos outros picuienses, cobrando a volta dos grandes carnavais em nossa cidade. No entanto, justiça seja feita: não há como responsabilizar ou exigir da Prefeitura de Picuí o resgate dessa festa que já foi uma das maiores da região, pelo simples fato de que as festividades carnavalescas picuienses sempre foram realizadas através de iniciativas populares e do Picuí Clube.
Desde o início do século XX, Picuí fazia o maior Carnaval de toda a região do Seridó e Curimataú da Paraíba; e, a partir da década de 1920, os membros do Picuí Clube criaram seus bailes carnavalescos, onde os associados brincavam os quatro dias de carnaval vestindo as mais lindas e caras fantasias, animados por banhos de lança-perfume. Mas o povão não ficava para trás e fazia a sua festa – era o carnaval do povo picuiense, daqueles a quem não era permitido ingressar no clube da elite. Esse carnaval era realizado nas ruas da cidade, onde os foliões abusavam da animação e da criatividade na confecção de suas fantasias. É desse tempo as expressões “cara-branca” e “cara-preta”, pelas quais as diferenças e o preconceito social e racial apareciam trasvestidos em fantasias e adereços e, vez por outras, a rivalidade era resolvida aos socos e pontapés, quando os caras-brancas e caras-pretas abriam caminho com seus blocos pelas ladeiras das ruas Ferreira de Macedo, São Sebastião, Professor Lordão e Rua Nova.
O tempo foi passando e os “”caras-pintadas” picuienses continuaram a comandar a folia; nas décadas de 1950 a 1970, a Orquestra de Frevo comandada pelo saudoso Nino Costa e seus companheiros Agrião, Milani, Chico Preto, Manoel Cosme, João Costa e Chico Cândido fazia a ponte entre os dois mundos, o da elite e o do povão. A alegria continuava a ser contagiante dos dois lados e Picuí vivia a sua catarse anual de Carnaval. Os anos 1980 chegaram, os caras-pretas e caras-brancas se misturaram e todos puderam adentrar nos carnavais do Picuí Clube, tendo como única barreira impeditiva, a condição social de cada um. Aquela foi a época dos grandes blocos picuienses: “Malandros do Ritmo”, “SoKanela”, “Os Movidos”, “TropCanalhas”, “Karamimoso”; agremiações cuja iniciativa era de seus membros, grupos de amigos que se reuniam para brincar o carnaval em Picuí – e que arrastavam consigo, imensas torcidas e a rivalidade era resolvida com a vitória no campeonato de blocos. O povão? Durante o dia fazia a festa nas ruas da cidade, jogando talco e maisena uns nos outros, num mela-mela infernal e, à noite, se espremia em frente ao Picui Clube para assistir a entrada dos blocos...
Eis que o ano de 1988 chegou, trazendo o início do esvaziamento dos festejos momescos em Picuí: os blocos foram desaparecendo e o último deles, “A Turma do Pinico”, se desfez acredito que em 1990. Nas ruas, alguns sobreviventes da folia continuaram a fazer o carnaval de rua, comandados por Delmiro e seus “Os Operários”; nessa época, os foliões que sempre se destacavam eram Zé Faustino, tocando um fole, Etiene Moreno com sua eterna fantasia de “Índio Apache”, Antonio de Bina trajando um terno completo, puído, e Lena Caetano, sempre trajada de “Nega Maluca”. No entanto, a maioria dos picuienses passou a festejar a data nas praias, em Olinda ou Salvador decretando, assim, a morte do Carnaval em Picuí.
Hoje, observo com felicidade, que muitos dos “caras-pretas” atuais melhoraram de vida e também viajam durante o período e não há mais tanta diferença entre eles e os “caras-brancas”, todos tem o mesmo estilo de vida, só mudando, a grosso modo, os preços das casas que alugam na praia, da bebida e do tira-gosto. E ontem, em meio àquela profusão de fantasias do carnaval-democracia de Olinda, me bateu um insight que se diluiu em lágrimas, quando pensei: “Voltem, caras-pretas e caras-brancas! Voltem e retomemos a tradição dos nossos carnavais!” Aí parei e sentei para observar as troças passarem e continuei a matutar: caso consigamos trazer de volta os carnavais de Picuí, as caras não mais serão pintadas em preto ou branco, as nossas caras virão misturadas em cores ou mascaradas por outras alegorias, pois o povo de Picuí também evoluiu com o tempo e hoje não temos mais espaços para apenas o branco e o preto em nossa aquarela de cores.
...Terminei de beber a latinha de cerveja, dei um sorriso e caí na troça. Porque eu sei que vamos conseguir trazer de volta o nosso carnaval; porque eu sei que é bem melhor brincar em uma multidão de amigos e conhecidos; porque eu sei que não há nada melhor do que se fantasiar do que é nosso; porque só dependerá de nós, picuienses, resgatar a nossa festa!
VIVA PICUI! VIVA O POVO DE PICUÍ!

* Fabiana Agra é advogada, jornalista e escritora.