por Fabiana Agra*
A volta depois de uma carta que viralizou.
A volta depois de uma carta que viralizou.
Já se vão alguns meses de um manifesto que escrevi,
logo após o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, intitulado
“Carta de uma nortista para os sulistas”. Assim que foi publicado, o artigo foi
espalhado em vários grupos de Facebook e repercutiu em diversos blogs; o
resultado é que o texto viralizou e eu ganhei mais de 4000 amigos virtuais.
Após o resultado do segundo turno, e pensando que o Brasil seguiria como
sempre, tendo os vitoriosos e derrotados ocupando os seus devidos lugares e respeitando
o resultado soberano das urnas, eu também recolhi a minha bandeira, deixei a
militância política de lado e voltei-me apenas para a advocacia.
Mas eu estava enganada, logo percebi. A turma dos
revoltados, dos vira-latas e dos coxinhas desse “Brasil varonil”, insuflados e
bancados por empresários e políticos de direita, não só não aceitaram a derrota
nas urnas como ainda exigem o impeachment da presidenta Dilma – baseados em
que, isso eu ainda não sei, e duvido que algum cientista político saiba. Coisa
própria dos tontos e parvos, que tem espaço garantido nas redes sociais.
Março
furta-cor ou “cor-de-burro-quando-foge”
Assim, por dever de consciência e na qualidade de
cidadã, estou de volta. Dessa vez tendo o cuidado de sistematizar o que
escrevo, através de um blog próprio. E, tão logo resolvi voltar a escrever, vi
algo estranho acontecer, quando, na terça(03), Eduardo Cunha, presidente da
Câmara dos Deputados, anunciou que a Mesa Diretora revogara a autorização de
compra de passagens aéreas para cônjuges de deputados. Desconfiei logo de dois
motivos para a revogação: ou o mandato do Cunha nasceu podre, já que a tal “bolsa-patroa”
era uma de suas promessas de campanha, ou ele teme a lista de Janot – isso
porque não entra na minha cabeça a frase “cunhista”: “- A sociedade demonstrou
a sua contrariedade”.
E isso foi só porque dei uma passada
rápida pelo Congresso Nacional... Aí quando resolvi fazer um zapping pelas notícias do cotidiano,
tive o desprazer de assistir um vídeo postado
pela página da Igreja Universal do Reino de Deus do Ceará, protagonizado por um
exército de jovens fiéis, todos fardados, marchando e gritando palavras de
ordem em um culto. Confesso que fiquei deveras preocupada, já que as imagens
demonstram o aumento do fundamentalismo cristão no Brasil, que chega as
liberdades individuais, a diversidade sexual e as manifestações culturais
laicas. Explico: Edir Macedo está formando uma milícia, batizada como
“Gladiadores do Altar”, e o que virá desse movimento só o tempo irá dizer...
E para não dizer que não falei da
“Operação Lava Jato”, o presidente do grupo “Tortura Nunca Mais” em Goiás, o
ex-preso político Waldomiro Baptista denunciou o juiz Sérgio Moro pela prática
de tortura.Mirinho em entrevista veiculada em vários portais da Blogosfera,
disse que ficou revoltado com os maus-tratos a que estão submetidos os
empreiteiros encarcerados pela Polícia Federal, em Curitiba-PR: “Eles estão em
celas escuras, comem carne com as mãos, dividem-se em celas para quatro
pessoas, com uma latrina comum, e até recentemente estavam impedidos de ler
jornais e revistas”.
Há três meses os maiores
empreiteiros do país, responsáveis direitos por mais de 200 mil empregos, estão
encarcerados indevidamente. Para Mirinho,“não há legalidade na prisão. Os
acusados não têm direito ao contraditório, e assim como na ditadura, os
delatores tem mais fé pública que os acusados. Assim, o que vemos é que da
forma que conduz as apurações o juiz Sérgio Moro tortura os presos com a
prisão, dá como verdadeira as declarações de ladrões confessos e quer vencer
pelo esgotamento emocional os encarcerados, forçando-os a delatar também. Isto,
repito, é tortura”, alerta.Para Waldomiro Baptista as investigações são
importantes, entretanto, ressalta que lei é lei e ninguém está acima da lei ou
da Constituição. “Recentemente o ministro Marco Aurélio, do STF, numa crítica à
Lava Jato, disse que a prisão passou a ser regra e a liberdade, exceção entre
os acusados”.
Finalmente, leio que a tal “lista de
Janot” – já tão mais famosa do que a de Chindler -, foi protocolada pela
Procuradoria-Geral da República na noite da última terça-feira (3), no Supremo
Tribunal Federal, junto aos pedidos de abertura de inquérito a fim de
investigar pessoas suspeitas de envolvimento no caso de corrupção da Petrobras.
As tais pessoas, deputados federais, senadores e outras mais, foram citadas
pelo doleiro Alberto Youssef e por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras,
nos depoimentos de delação premiada da Operação Lava Jato.Constam, no total, 54
nomes de investigados, 28 pedidos de abertura de inquérito e 7 pedidos de
arquivamento.
Detalhe: os nomes dos envolvidos não
foram divulgados. No entanto, segundo matéria do site O Globo, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado,
Renan Calheiros, ambos do PMDB, teriam sido avisados de que estarão na lista do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot.Espera-se queJanotsolicite ao
ministro Teori Zavascki que seja derrubado o sigilo das investigações, tornando
público todo o conteúdo dos inquéritos. Zavascki também divulgaria os nomes dos
investigados de uma vez só e não um a um, conforme for se inteirando de cada
acusação.
13
e 15 – qual a sua bandeira?
Enfim,
15 de março está chegando, com todas as honras e circunstâncias que a extrema
direita exige – ou não! Ora, a última dos tucanos é dizer que “apoiam o ato
pró-impeachment, mas são contra o impeachment”. Como é que é? Entre atônita e
enojada, explico: os tucanos torcem, desejam e patrocinam o protesto golpista,
mas dizem que não tem nada a ver com isso. Ah, tá. Assim tá certo...Mas ninguém
se engane com a data do protesto, que foi marcada para o dia 15, uma semana
após a lista dos políticos envolvidos no escândalo da Lava Jato seja tornada
pública, assim espera-se.
Os“revoltontos
do dia 15” – utilizando o termo cunhado pelo cientista político AntonioLassance
– pedirão o impeachment de Dilma, que até o momento, sequer foi citada em
qualquer documento da Lava Jato. Será que vão pedir também o impeachment do
senador Aécio Neves, cuja campanha recebeu doações das mesmas empreiteiras
envolvidas no escândalo? Será que os papangus de novena vão pedir o impeachment
de Agripino Maia, acusado de receber um milhão em propina? Tem mais: será que
eles vão chamar à responsabilidade o governo de São Paulo pelo racionamento da
água? E o trensalão tucano, será lembrado?
Mas
AntonioLassance explica, com propriedade, talvez aquele que seja o motivo maior
para a manifestação dos palhaços do impeachment: “quem promove a campanha pelo
impeachment está dando sua contribuição voluntária ou patrocinada para tirar o
foco dos corruptos que de fato têm nome no cartório da Lava Jato - o que não é
o caso da presidenta.Seria melhor, antes de falarem em impeachment de uma
presidenta eleita pelo voto de 54,5 milhões, que os revoltontos do dia 15
esperassem a lista de Janot e a usassem para escrever seus cartazes”.
Mas o movimento do dia 15 terá uma
contramanifestação, que acontecerá dois dias antes, no dia 13 de março, e está
sendo encabeçada pela CUT. Em seu site, a Central Única dos Trabalhadores
conclama as trabalhadoras e os trabalhadores, militantes e dirigentes de todo o
País para realizar um ato nacional contra a “retirada de direitos, em defesa
dos direitos da classe trabalhadora, da Petrobrás e da Reforma Política”.
O fim
das Medidas Provisórias 664 e 665, que alteram direitos da classe trabalhadora,
é uma das questões centrais. Os movimentos do Brasil estão em alerta desde que
foram editadas pelo governo federal, em 30 de dezembro de 2014.Outra das
bandeiras é a defesa da Petrobrás, empresa que corresponde a 13% do PIB
nacional. A empresa reúne mais de 86 mil trabalhadores diretos e milhares de
indiretos, sem contar que a Petrobrás investe, por dia, 300 milhões na economia
brasileira e sabemos que o Petróleo por muitos anos ainda será a matriz
energética do mundo. Prometem defende-la com unhas e dentes.
A
terceira bandeira é pelo plebiscito sobre a constituinte exclusiva e soberana
para reforma do sistema político. Existe uma manobra no Congresso para que se
aprove a reforma política pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
352/2013, considerada pelos movimentos como a “PEC da Corrupção” porque defende
temas polêmicos, como o financiamento privado de campanha eleitoral.A proposta
que dialoga com a classe trabalhadora é a da Constituinte pela Reforma do
Sistema Político. A consulta popular está prevista no Projeto de Decreto
Legislativo (PDC) 1508/14, da deputada Luiza Erundina (PSB-SP).
Em contrapartida, Folha e Veja, passam a
publicar que, para os alguns governistas,
dentre eles figurando até ministros, o ato da CUT poderá acirrar os ânimos e
ser visto como provocação pelos organizadores da manifestação contra a
presidente Dilma de dois dias depois. Para evitar o "confronto", a
ideia de assessores presidenciais é enviar emissários nos próximos dias para
convencer dirigentes da CUT a adiar o evento. Porém, como são os veículos da
mídia golpista que estão noticiando essa tentativa de
abortar o movimento do dia 13, é preciso esperar – ou para muitos, pagar para
ver.
P.S.: Nem bem terminei de assinar o texto, eis que chega a informação de que vazaram alguns nomes na lista de Janot – dentre eles confirmados os de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados e Renan Calheiros, presidente do Senado. Com esse vazamento da informação, o movimento pelo impeachment da presidenta, se já era descabido e incabível, pelo jeito torna-se inviável sequer fazer barulho. Aposto quase todas as minhas fichas de que o 15 de março “gorou”...
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