terça-feira, 28 de julho de 2015

BOMBA RELÓGIO?

Sistema prisional paraibano superlotado com mais de 10 mil apenados, assiste ao nono motim do ano, registra quase duas fugas por mês, além de nove presos mortos e um baleado dentro dos presídios


Como se já não bastasse a violência a que a sociedade está exposta aqui fora, os que deveriam ser punidos e regenerados dentro das cadeias e presídios, vivenciam um verdadeiro caos no interior das ‘masmorras’ paraibanas. São inúmeros fatos que nos levam a esta reflexão.
Os dados aqui apresentados estão baseados no relatório do levantamento nacional de informações penitenciárias – INFOPEN (Junho/2014), e outros foram levantados por um grupo de profissionais da imprensa, segurança, saúde e outras áreas, reunidos por meio de uma rede social com a identificação de Rede de Notícias Paraíba. Também são utilizados dados do governo do estado.
A população carcerária da Paraíba
Cadeia LotadaA Paraíba era em 2014, a 16ª maior população carcerárias do Brasil e na contramão de estados como a Bahia que reduziu em 16,5%, caindo dos 15.399 presos em 2014, para 12.878 nos dias atuais, a Paraíba cresceu 4,8% o número de presidiários em um ano.
A Paraíba tem 3.970.520 habitantes e é o 13º no ranking populacional geral, sendo que tem atualmente 10.052 presos em seu sistema prisional. Quando comparado com o estado da Bahia, que ocupa a 4ª posição entre os estados mais populosos com 15.204.818 habitantes, entretanto tem uma população carcerária de 12.878 presos, os dados mostram que a Paraíba tem uma população carcerária proporcional, quase três vezes maior que a da Bahia. Segundo dados do CNJ, em 2014 a taxa de aprisionamento do estado da Bahia era de 101,8 presos por 100 mil habitantes, a Paraíba no mesmo período tinha 243,3 presos por 100 mil habitantes.
Segundo dados do governo do estado da Paraíba, em janeiro de 2015, eram 9.783 detentos, já no mês de maio/2015, o sistema prisional do estado abrigava 10.052 apenados em 79 unidades prisionais ativas nas quatro mesorregiões, a diferença traduz um acréscimo de 53,8 detentos inseridos por mês nas prisões paraibanas.
Regime de reclusão dos presos
8.295 no regime fechado
3.843 presos provisórios, equivalente a 38%,
4.452 Já sentenciados, equivalente a 44%.
1.193 detentos no regime semiaberto, equivalente a 12%
564 que cumprem pena em regime aberto, equivalente a 6%.
Segundo dados do CNJ – Conselho Nacional de Justiça, em Junho de 2014, a Paraíba tinha 9.270 presos, para 5.892 vagas disponíveis, o que restava um déficit de 3.378 vagas. Considerando os dados de vagas de 2014 e o número de presos atuais, o déficit hoje seria de 4.160 vagas, ou seja, a Paraíba abriga quase o dobro dos presos que está capaz de abrigar.
Perfil dos presos da Paraíba
De acordo com o relatório do INFOPEN/2014
83% dos presos na Paraíba são de etnia negra
58% tem entre 18 e 29 anos de idade
43% são casados
77% estão entre não alfabetizados ou com apenas ensino fundamental incompleto
11% dos detentos tem atividade educacional
9% desenvolve atividade laboral
Tipos de condenações
O perfil dos presos paraibanos é bastante diversificado e foram quantificadas de acordo com os tipos de acusações. Salienta-se que a maioria dos presos respondem ou responderão por mais de uma prática criminosa e por este fator, estão quantificados percentualmente da seguinte forma:
39,6% Homicídio
35% Furto
56,5% Roubo
5,7% Latrocínio
35% Tráfico
25,9% Desarmamento
31,9% Outras acusações   
Rebeliões e Motins
rebeliao_colonia_sousa (44)Segundo levantamento do Grupo Rede de Notícias Paraíba, pelo menos oito rebeliões ou motins de presos foram registrados nestes sete meses do ano 2015, o equivalente a mais de uma ocorrência por mês. Além dos motins, foram registradas onze fugas de presos neste mesmo período.
Para ver os casos de fugas em 2015 CLICK AQUIPara ver as informações de rebeliões e motins em 2015 CLICK AQUI
Assassinatos dentro de unidades prisionais
A calamitosa situação carcerária da Paraíba também pode ser retratada pelo assassinato de presos, onde só este ano nove foram assassinados e um encontra-se hospitalizado em estado grave no hospital de traumas de Campina Grande.
05 Foram mortos no Presídio do Roger na Capital João Pessoa
02 No presídio do Serrotão em Campina Grade
02 No Presidio de Patos, Sertão do estado
01 Baleado nesta segunda-feira (27/07) no Serrotão, encontra-se hospitalizados em estado grave.
Nos sete meses de 2015, já foram registrados 80% de aumento no número de assassinatos dentro dos presídios, em relação aos 12 meses do ano anterior.
A Comissão Estadual de Direitos Humanos já pediu a desativação do presídio do Róger, pelo menos três vezes nos últimos anos. O caso do Róger, não é um fato isolado, semana passada o Ministério Público ajuizou ação contra o estado da Paraíba, referente a cadeia da cidade de Gurinhém, de onde presos estavam sendo abrigados em condições sub-humanas e pelo menos cinco fugiram em 13/07/2015.
O último registro público de violência ocorreu nesta segunda-feira (27/07), quando um detento foi baleado dentro do presídio do Serrotão em Campina Grande.
Idade das unidades prisionais na Paraíba
A Paraíba é o segundo estado do Brasil com unidades prisionais mais antigas, 23% das prisões do estado têm mais de cinquenta anos. A paraíba só fica atrás do Rio Grande do Sul que tem 27% das prisões com mais de 50 anos. Por outro lado, em um terço dos estados – Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Acre, Alagoas, Goiás, Rio de Janeiro e Paraná – mais da metade das unidades foram inauguradas há menos de dez anos.
O presídio do Róger que fica na Capital João Pessoa e é o maior do estado da Paraíba, foi inaugurado em 1940 e já é um idoso de 75 anos, superlotado e insalubre.
Sistema com instalações adaptadas
QueimadasAlém de estruturas antigas, o estado da Paraíba tem uma serie de estabelecimentos que não foram construídos especificamente como abrigo prisional e esta característica é relatada no relatório do Infopen 2014, onde cerca e 26% dos estabelecimentos foram adaptados.
A fragilidade das instalações é tão gritante, que um homem que havia sido preso por embriagues ao volante no município de Boqueirão,  Cariri do estado, em (11/07), conseguiu arrancar com as próprias mãos, as grades da cela onde estava encarcerado na delegacia de Polícia Civil da cidade de Queimadas.
Uma bomba relógio?
Não se trata de uma profecia, nem tão pouco de sensacionalismo, na verdade é uma constatação que pode ser confirmada por qualquer pessoa que compreenda as quatro operações matemáticas. Não é preciso a elaboração de uma equação complexa para concluir que, o sistema prisional da Paraíba está em situação crítica. Os fatos são tão gritantes que se tornam mais claros que a adição de 2+2=4.
“Presos não merecem regalias e sim punição”, esta é uma frase comum que se pronuncia sem a devida analise dos problemas que um encarceramento sub humano proporciona a sociedade. O fato é que, a cadeia era pra ser um local de regeneração, entretanto, sabemos que o sistema prisional brasileiro é uma verdadeira “escola do crime”, e mais cedo ou mais tarde, seja pela porta da frente, ou nas recorrentes fugas, muitos destes “formandos”, estarão em meio a sociedade fazendo novas vítimas. Não vamos discorrer sobre os fatores socioeconômicos que levam ao crime, pois, particularmente, acredito que não são apenas estes fatores que desvirtuam uma pessoa, mas, é indiscutível que, só pra não afirmar que o sistema já se encontra falido e sendo otimista, poderíamos questionar; estamos à beira de um colapso?
A Comissão de Estadual de Direitos Humanos já pediu por diversas vezes a desativação do presídio do Roger. O Ministério Público da Paraíba entrou com uma ação na terça-feira (21/07) contra o Estado da Paraíba pedindo a interdição da Cadeia Pública de Gurinhém, no Agreste paraibano. A ação solicita também a transferência dos detentos que estão no local para outras unidades prisionais e a condenação do Estado a construir uma nova cadeia pública na área. Esta foi a unidade prisional onde fugiram alguns presos neste mês de julho/2015. O que resta a concluir?
Segundo o SINDSEAP-PB – Sindicato dos Servidores da Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba, a situação de caos no presídio do Róger, na Capital, é uma chaga incurável que o governo teima em não resolver. O que era ruim e foi alvo de apelos por parte dos órgãos de direitos humanos ao longo de 2014 para desativação do presídio ficou ainda pior no início do ano novo. Para o presidente do Sindicato dos Servidores da Secretaria da Administração Penitenciária (Sindseap), Manuel Leite de Araújo, a situação do Róger está insustentável e requer ações imediata dos poderes constituídos para que se evite mais tragédias igual ou pior das que já foram registradas ao longo dos anos.
Vulnerabilidade
Serrotão 1A fragilidade do sistema é tão latente, que no Presídio do Serrotão em Campina Grande, em apenas três meses, já foram apreendidos cerca 230 celulares, quase 13 quilos de maconha, 14 serras, 200g de cocaína, 126 litros de cachaça artesanal, 13 facas originais, espetos, chips, carregadores, fones de ouvido e baterias de celulares.
A geografia do local é uma grande aliada na entrada de muitos destes objetos, entretanto, o que estes fatos evidenciam com maior clareza, é a situação de vulnerabilidade em que o sistema prisional paraibano está submerso. Uma verdadeira bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento.
Veja o detalhamento
Para acessar o relatório do INFOPEN CLICK AQUIPara ver os dados sobre a População Carcerária na Paraíba em 05/2015 CLICK AQUI
População Carcerária no Brasil por estado Junho/2014
  1. São Paulo 219.053 
  2. Minas Gerais 61.286
  3. Rio de Janeiro 31.510
  4. Pernambuco 30.149
  5. Paraná 28.702
  6. Rio Grande do Sul 28.059
  7. Ceará 21.789
  8. Santa Catarina 17.914
  9. Espírito Santo 16.234
  10. Bahia de 15.399
  11. Mato Grosso do Sul 14.904
  12. Distrito Federal 14.171
  13. Pará 13.268
  14. Goiás 13.244
  15. Mato Grosso 10.357
  16. Paraíba 9.596
  17. Rondônia 7.631
  18. Amazonas 7.455
  19. Rio Grande do Norte 7.081
  20. Maranhão 6.098
  21. Alagoas 5.785
  22. Sergipe 4.307
  23. Acre 3.486
  24. Tocantins 3.233
  25. Piauí 3.224 
  26. Amapá 2.654  
  27. Roraima 1.310
Da redação Paraíba Geral com o Grupo Rede de Notícias Paraíba
Foto: Reprodução da Internet
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sexta-feira, 24 de julho de 2015

POLÍTICA:


Quem mora no Nordeste sabe – ou deveria saber – que somente há bem pouco tempo a região passou a ser viável no campo da economia brasileira. Antes, relegada à “terra de ninguém”, a “campo devastado”, servindo principalmente como lugar de onde saíam a mão-de-obra barata ou mesmo escrava, que partia para construir o sudeste ou colher nos campos infindos do centro-oeste, após uma série de investimentos em obras estruturantes por parte do Governo Federal, os estados nordestinos começaram a mudar de cenário e, seja ao lado das belas praias que rodeiam suas costas ou nos seus mais afastados rincões, indústrias começam a surgir, comércios são estruturados. Sim, ilhas que ainda são, em um mar revolto; mas que, se possuírem um farol forte, serão porto seguro para investidores e aí sim, em breve o Nordeste também dará as cartas no cenário político e econômico brasileiro.
Por enquanto, de carta mesmo, tivemos a “Carta de Teresina”, documento assinado pelos nove governadores nordestinos, documento final do 4º Encontro de Governadores do Nordeste, encerrado no último dia 17 de julho, na capital do Piauí. O cofinanciamento das políticas de segurança pública, a compensação previdenciária entre União e estados e a definição de uma meta de investimentos em ciência e tecnologia são pontos de debate que os governadores devem levar ao governo federal para negociação. No documento, os gestores sugerem a criação de um sistema nacional de segurança pública e justiça que envolva o repasse de verbas federais para os estados nos moldes do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
Entre os eixos de ação propostos pelos governadores, está a liberação de recursos do Fundo Penitenciário Nacional, atualmente contingenciados, para a construção de um presídio com capacidade média de 250 pessoas em cada estado da região. Aliado a isso, os gestores propõem incentivo à “criação e implementação de mecanismos e alternativas à prisão, associados a uma política de ressocialização”.
Quanto à Previdência, os governadores propuseram formas de capitalizar os regimes próprios de Previdência Social dos estados, dos quais fazem parte servidores públicos efetivos. Eles também demandam do governo federal uma compensação financeira para que os estados consigam dar conta do piso do magistério no pagamento dos aposentados e pensionistas.
No campo da ciência, tecnologia e inovação, a Carta de Teresina reivindica a aplicação de 28% dos recursos investidos anualmente pela União em ações no Nordeste, no prazo de quatro anos. Entre as ações destacadas estão o desenvolvimento de tecnologias de gestão da água, a ampliação da infraestrutura e utilização da internet e o incentivo à agricultura familiar.
Junto com a Carta de Teresina, os nove governadores do Nordeste lançaram também um manifesto de apoio à presidenta Dilma Rousseff. No documento, eles afirmam acreditar que o país retomará o crescimento econômico e social e consideram “incabível” a interrupção do mandato presidencial. Eles destacam ainda que o mandato de quatro anos determina um prazo para que os compromissos de campanha sejam cumpridos, os desafios, vencidos e os ajustes sejam feitos, os projetos, implementados e os resultados, colhidos.
Após o encontro, Camilo Santana, atual governador do Ceará, concedeu uma entrevista à Carta Capital, onde clama por uma agenda positiva, lembrando que “a radicalização não traz benefícios”. Santana defende o fortalecimento das investigações de corrupção na linha “doa a quem doer” e o direito de manifestação das oposições, mas critica as tentativas de desrespeito à democracia e à vontade da maioria expressa nas eleições do ano passado. À presidenta Dilma Rousseff recomenda disposição para o diálogo. Ao PT, o governador recomenda a reinvenção.
É isso. É o Nordeste sinalizando para o resto do Brasil. É o povo nordestino mais uma vez dando o mote para a resolução desse novo e estranho tempo, onde o conservadorismo e rompantes reacionários parecem tomar de assalto o Congresso Nacional. O último protagonista neste cenário nonsense foi o deputado federal Laerte Bessa (PR-DF), relator da PEC 171/93 que reduz a maioridade penal de 18 anos para 16 anos. Em entrevista para o jornal inglês The Guardian, Laerte Bessa disse, em relação ao tema: “Daqui a uns vinte anos vamos reduzir para 14 anos. Depois de mais 20 (anos) vai para 12 e vai baixando até chegar na barriga da mulher”, falou na entrevista gravada, divulgada esta semana pelo jornalista Bruce Douglas. “Quando chegar na barriga da mulher”, acrescentou Bessa, “os cientistas já inventaram uma forma de descobrir antes do moleque nascer se já é criminoso e não vão deixar nascer. Aí vai resolver o problema”.
O parlamentar chegou a divulgar nota por meio da página oficial dele no Facebook alegando que foi mal-interpretado pelo The Guardian. Mas na mesma postagem, o repórter Bruce Douglas direciona o leitor para um áudio da conversa que teve com o deputado – sem chances de ter acontecido uma má interpretação de sua fala, o que vemos é uma má ocupação das cadeiras do Congresso Nacional, onde estão sentadas pessoas da espécie de um Eduardo Cunha ou de um Laerte Bessa – este pelo jeito pensa que a vida não vale nada.
Mas o Nordeste reage a essa maré que está derramando uma baita ressaca em todo o Brasil e escreve a sua carta. O governador cearense reforça o sentimento que reina por aqui, mandando o seu recado: “A crise política me preocupa mais do que a crise econômica. Vejo um quadro complexo. A oposição tem o legítimo direito de se posicionar, de manifestar-se, mas o Brasil não pode ficar preso a uma agenda negativa. A radicalização não trará nenhum benefício ao País. É o momento de desarmar os espíritos, pensar no futuro, apoiar uma visão mais patriótica e respeitar a democracia, conquistada a duras penas”.
O povo nordestino não quer “voltar atrás”; o povo nordestino quer ser protagonista de sua própria história e continuar nesse passo desenvolvimentista que teve início em suas terras. Sim, é preciso combater a corrupção, cortando a própria carne – e punir os culpados quando seus crimes forem comprovados. O que o Nordeste não permite – e isto deve valer para as demais regiões brasileiras –, é que o avanço social e estrutural ocorrido nos últimos anos seja parado por maquinações de uma oposição sem agenda. É o Nordeste mandando o seu recado, “quem tem ouvidos, ouça”.

* Fabiana Agra é advogada e jornalista
 Com Agência Brasil e Carta Capital

sexta-feira, 17 de julho de 2015

17 de julho de 2015: Cuité completa 247 anos de fundação


CUITÉ, 247 ANOS DE FUNDAÇÃO

Em 17 de Julho de 1768, o coronel de milícias Caetano Dantas Correia e a esposa dona Josefa de Araújo Pereira doaram meia légua de terras nas proximidades do "Olho D'água do Coyté", para constituição do patrimônio de uma capela, que pretendiam erigir com invocação a Nossa Senhora das Mercês. A referida escritura de doação, datada de 17 de julho de 1768, foi lavrada na povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó, pelo escrivão Antônio Gonçalves Reis Lisboa. A escritura, que é considerada a "certidão de batismo" de Cuité, foi descoberta pelo historiador Coriolano de Medeiros e transcrita na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. 
Assim, “tão somente movidos de superiores impulsos e intensa devoção”, Caetano Dantas e sua esposa doaram as terras necessárias à constituição do patrimônio da referida capela de Nossa Senhora das Mercês, principiando, em sua fazenda, a povoação da Serra do Cuité. A partir dessa data, Caetano Dantas procurou povoar as referidas terras, surgindo posteriormente um conglomerado urbano.
Segundo as nossas pesquisas, somente a povoação que começou a surgir no atual município de Pedra Lavrada é mais antiga do que aquela que começou a geminar em 1768, na Serra de Cuité:
O primeiro povoamento efetivo da região do antigo Município de Picuí teve início no ano de 1760, com a construção de uma capela, a qual tinha sido solicitada ao bispo de Pernambuco, pelo Capitão-mor Mateus Bezerra Cavalcanti e José Bezerra da Costa, onde hoje se encontra a Matriz de Nossa Senhora da Luz. Presume-se que em 1750, de uma fazenda pertencente à família Gomes Barreto, originou-se a povoação de Itacoatiara, que depois passou a ter o nome atual, em virtude da existência de “pedras lavradas” distantes cerca de um quilometro de onde está erguido à cidade. Em 1760, por intermédio do visitante dr. Alexandre Bernadino dos Reis, José Bezerra da Costa pediu licença ao bispo de Campina Grande, dom Tomaz da Encarnação Costa, para a edificação de uma capela em homenagem à Nossa Senhora da Luz, doando 25 braças de terra ao patrimônio da igreja, para a edificação da referida capela. Em 29 de maio do mesmo ano, a capela foi inaugurada com uma grande procissão, tendo sido benta em 1789.
Não obstante a localidade de Pedra Lavrada ter "nascido" mais cedo, a região da Serra do Cuité, talvez beneficiada por um clima mais ameno, conseguiu se projetar no Curimataú e Seridó da Paraíba, liderando a economia e a política da região ao longo do século XIX.

Fontes:
AGRA, Fabiana. Picuí do Seridó: Século XX - dos primórdios até 1930. A União: João Pessoa, 2010.
Blog História de Cuité

Imagens: Jônatas R. Pereira

terça-feira, 14 de julho de 2015

Os primeiros registros de terras do antigo município de Picuí

Fonte:
AGRA, Fabiana: Picuí do Seridó: dos primórdios até 1930. João Pessoa: A União, 2010.

A partir da magnífica obra “Apontamentos para a história territorial da Parahyba”, de João Lyra Tavares, e do livro não menos importante “Cronologia Seridoense”, de Olavo Medeiros Filho, podemos reconstituir o percurso da concessão de sesmarias na região do Seridó e do Curimataú. Olavo Filho relata que em 28 de agosto de 1692, o Senado da Câmara do Natal solicitou “à sua Magestade, se formem coatro arraias a saber Jaguaripe, Assú, Acaham e Corimatahú”.
Em 1696, André Vieira de Melo e outros conseguem a data e sesmaria nº 53, do governo do Rio Grande do Norte, no Quinturaré, sendo três léguas para cada requerente. Essa sesmaria ficava nos territórios dos atuais municípios de Nova Palmeira, Picuí, Frei Martinho e Currais Novos.
Em 1º de novembro de 1701, o capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo, o alferes Diogo Pereira de Mendonça, João Batista de Freitas, o alferes Antonio Batista de Freitas e Antonio Fernandes de Souza receberam do capitão-mor Francisco de Abreu Pereira, da capitania da Paraíba, a data e sesmaria nº 28. Cada requerente ficou com duas léguas de comprimento por uma de largo, totalizando 10 léguas, no rio Quinturacá (Quinturaré), “que corre de sul para norte e vai fazer barra nas Piranhas . O Quinturaré era o mesmo rio Picuí; este, por sua vez, tributário do Acauã, que faz barra no Seridó. As terras requeridas ficavam nos atuais municípios de Nova Palmeira, Picuí, Frei Martinho e Currais Novos.
Em 10 de outubro de 1704, Dona Rosa Maria Dourado de Albuquerque, Antonio Gonçalves Neto, José de Amorim dos Passos, Ana de Abreu e Manuel Monteiro, moradores na capitania da Paraíba, obtiveram do capitão-mor da mesma, Fernando de Barros e Vasconcelos, três léguas de comprimento por uma de largo (totalizando 15 léguas) pelo rio Seridó acima, confrontando com a serra Cubati. A referida data e sesmaria, que tomou o nº 41, percorria territórios hoje representados pelos municípios de Cubati, Pedra Lavrada, são Vicente do Seridó, na Paraíba; Parelhas, Equador, Santana do Seridó e Jardim do Seridó, no Rio Grande do Norte.
Em 08 de dezembro de 1704, o Conde de Alvor, obteve do capitão-mor da Capitania da Paraíba, obtém três léguas de comprimento por uma de largo, no olho d’água chamado pela língua nativa “Cuité”, dele nascendo o rio Jacu, águas correntes para o Rio Grande e Apodi. A referida data e sesmaria tomou o nº 43. Em 21 de dezembro de 1704 foi concedida a sesmaria de nº 44 a Bartholomeo Barbosa Pereira, no olho d’água Cuité, “que delle nasse o rio Jacu, águas correntes para o Rio Grande e Japohy, até entestar com os providos, sendo heréo[1] com o Sr. Conde de Alvor, necessita de tres legoas de terras de comprido e uma de largo, para acommodar e criar suas creações de gado”. Foi feita a concessão, de três léguas de comprimento por uma de largura, depois de inteirado o Conde de Alvor, de uma data que tem no dito rio Jacu, para baixo, no governo de Fernando de Barros e Vasconcelos.
A data e sesmaria nº 45 foi concedida em 23 de dezembro de 1704 a José Gomes, na região do olho d’água Cuité, dele nascendo o rio Jacu. Foi feita a concessão de três léguas de comprimento por uma de largura, depois de inteirado Antonio de Carvalho Vasconcellos, no governo de Fernando de Barros e Vasconcelos. A data e sesmaria nº 46, também situada no olho d’água Cuité, foi concedida ao Capitão Antonio Carvalho de Vasconcelos em 23 de dezembro de 1704, medindo três léguas de comprimento por uma de largura. Em 17 de Outubro de 1731, esse sesmeiro dirigiu ao governo então ocupado por Francisco Pedro de Mendonça Gurjão, a seguinte petição: “Capitão Antonio de Carvalho e Vasconcellos, desta capitania, possuindo a data que junto offerece, das terras que lhe deram no rio Jacu, águas correntes para o Rio Grande e Japy, no anno de 1704, pelo governador Fernando de Barros Vasconcellos, como da mesma data consta, cujas terras povoou logo o supplicante com seos gados, e porque a dita data não se registrou por descuido, dentro do tempo consignado no regimento da provedoria da Fazenda Real e se achar o supplicante naquelle tempo no dito sertão, ocupado na povoação de ditas terras, quer Elle ratificar a sua data, que transcreve”. Foi concedida a ratificação.
Em 24 de dezembro de 1704 foi concedida a data e sesmaria nº 47 a Antonio de Mendonça Machado, ainda na localidade do olho d’água Cuité. Foi feita a concessão, depois de inteirado o sesmeiro José Gomes, no governo de Fernando de Barros e Vasconcelos.
Em 26 de dezembro de 1704, D. Isabel da Câmara, o capitão Antônio Mendonça Machado, o alferes Pedro de Mendonça e Vasconcelos e Antonio de Carvalho receberam do governo da Paraíba, representado por Fernando de Barros e Vasconcelos, a data e sesmaria nº 48, num total de 12x1 léguas (3x1 para cada heréu), no riacho Pucuí (Picuí), o qual faz barra no Acauã, que dá no Piranhas. Nos municípios de Nova Palmeira, Picuí, Frei Martinho e Currais Novos.
Em 13 de dezembro de 1705, José de Amorim, morador no sertão paraibano, obteve do governador Fernando de Barros e Vasconcelos, da Paraíba, a data e sesmaria nº 55, medindo 2x1 léguas, na passagem a que chama As Flecheiras, fazendo pião no Poço Gado Brabo. No município paraibano de Pedra Lavrada.
A sesmaria nº 56 foi concedida em 17 de abril de 1706, a Thomé Pereira Dultra e Domingos Francisco Dias, no sertão de Curimataú, “as quaes terras estavam nas ilhargas dos providos de Amaro Carneiro e o capitão Antonio de Mendonça e mais heréos na parte do sul no riacho Caraça e da parte do norte Tatu-bola e riacho dos Porcos e para estarem socegados e livres de duvidas lhes eram necessárias as ditas terras por data por estarem devolutas”. Foi feita a concessão de três léguas a cada um dos peticionários, no governo de Fernando de Barros e Vasconcellos.
A sesmaria nº 65 foi concedida em 17 de junho de 1707, ao Padre Mathias Tavares de Castro e Francisco de Brito Biserra, moradores na capitania de Itamaracá, sendo as terras situadas nas proximidades do rio Curimataú. Foi feita a concessão de três léguas de comprimento e uma de largura para cada um deles, no governo de Fernando de Barros e Vasconcelos.
A sesmaria nº 68 foi concedida em 11 de julho de 1707, ao Pe. Manoel Thimotheo da Cunha, ao Tenente Coronel Gonçalo Rodrigues Castro e a Francisco Fernandes de Souza. As terras ficavam localizadas próximas ao rio Seridó, “o qual rio passa pela serra da Borburema e faz barra no rio Acahuan, em o dito rio pedem nove legoas de terra, treis para cada um dos heréos e uma de largo, de uma e outra parte do rio Seridó que só começarão a medir do poço a que o gentio chama Caturaré, tres legoas do dito poço para baixo, as quaes foram dadas ao Reverendíssimo Antonio de Viveiros e as pede elle heréo Manoel Thimotheo da Cunha, devolutas e desaproveitadas, e do dito poço Caturaré, para cima até a segunda serra da Borburema pedem os ditos heréos Tenente Coronel Gonçalo Rodrigues de Castro e Francisco Fernandes de Souza, seis legoas na forma acima pedida”. Foi feita a concessão a cada um de três léguas de comprido e uma de largura, no governo de Fernando de Barros e Vasconcellos, sendo a do Padre Manoel Thimotheo a do Vigário Antonio de Viveiros, que consta não haver tomado posse nos termos da lei.
Em 12 de maio de 1709, Dona Joana da Câmara e Albuquerque, Antonio de Oliveira Lêdo, Tenente Coronel Simão Alves de Vasconcelos, alferes Antonio Batista de Freitas, Antonio Fernandes, moradores na capitania da Paraíba, receberam do capitão-mor e governador da mesma, Fernando de Barros e Vasconcelos, a data e sesmaria nº 82, medindo 3x1 léguas para cada heréu, no total de 15 léguas, no rio Quinturaré, correndo do sul para o norte até entestar com os providos do rio Acauã, ficando dentro das terras obtidas o Olho d’Água do Cuité, ao nascente das mencionadas terras. Nos municípios atuais de Nova Palmeira, Picuí, Frei Martinho e Currais Novos, estendendo-se por Cuité.
Em 18 de outubro de 1716, Luís Quaresma Dourado obteve do capitão-mor da Paraíba, João da Maia da Gama, a data nº 131, medindo uma légua em quadro na ilharga do rio Quinturaré, da parte do poente. As terras faziam pião com um riachinho chamado Mulungu, tributário do Caruatá (Gravatá). Tais terras atualmente ficam entre os municípios de Pedra Lavrada e Nova Palmeira.
Em 25 de maio de 1717, Luis Quaresma Dourado, ajudante de infantaria paga da guarnição da Paraíba, obteve do governador João da Maia da Gama, a data e sesmaria nº 141, medindo 3x1 léguas, no riacho Olho D’Água Grande, atualmente denominado de Carnaúba; e também uma légua quadrada na lagoa do Tarurá, ao norte das nascenças do Gravatá. Nos municípios de Carnaúba dos Dantas e Cuité.
Em 06 de agosto de 1717, Dona Isabel da Câmara e Albuquerque obtém do capitão-mor da Paraíba, Antonio Velho Coelho, a data e sesmaria nº 145, com as dimensões de 3x1 léguas, no riacho do Poço dos Cágados, afluente do Quinturaré, pelo lado do poente. Tais terras ficam no município de Frei Martinho, na Paraíba.
Em 29 de janeiro de 1719, Luis Quaresma Dourado obteve do governador Antonio Velho Coelho, a data e sesmaria nº 157, com as dimensões de 3x1 léguas, ficando uma légua dessas três referidas, nas testadas das terras de que já era possuidor o requerente, na lagoa da serra Taturá; outra légua na terra do riacho do Olho d’Água Grande, ficando a terceira légua nas testadas das terras da Pedra d’Água. As terras estão situadas nos municípios de Cuité, Carnaúba dos Dantas e Pedra Lavrada.
Em 10 de março de 1735, Francisco de Arruda Câmara e Salvador Pereira, moradores na capitania da Paraíba, receberam do governador Pedro Monteiro de Macedo, a data e sesmaria nº 242, medindo 3x1 léguas, correndo do nascente para o poente, ficando-lhe dentro da compreensão os olhos d’água do Quati e Frecheiras. No município de Cubati.
Em 1º de outubro de 1735, o capitão Antonio da Cunha Vasconcelos, morador na Capitania da Paraíba, obteve do governador Pedro Monteiro de Macedo, a data e sesmaria nº 257, com a taxa de 3x1 léguas, compreendendo 2 léguas no riacho Corujinha, que faz barra no riacho do Boi; e uma légua no dito riacho do Boi, por sua vez, afluente do Seridó. Entre as atuais cidades de Parelhas e Nova Palmeira.
Em 09 de setembro de 1739, o coronel Matias Soares Taveira, morador na cidade da Paraíba, obteve do governador Pedro Monteiro de Macedo, da Paraíba, a data e sesmaria nº 264, obedecendo à taxa de 3x1 léguas, no sertão do Quinturaré, ficando as citadas terras ao poente das serras da fazenda Uca, no atual município de Picuí. Na mesma data, Narciso Queiroz do Amaranto, morador no sertão do Quinturaré, obtém do governador Pedro Monteiro de Macedo, da Paraíba, a data e sesmaria nº 265, com a taxa regulamentar de 3x1 léguas, buscando do sul para o norte, pela fralda da serra do Coruatá, ou Pituaçu, no poço dos Correias, no atual município de Picuí.
Em 04 de março de 1741, o tenente Antonio de Souza Soares e Inácio Pereira da Cunha, moradores da capitania da Paraíba, obteve do governador Pedro Monteiro de Macedo, a data e sesmaria nº 281, com 3x1 léguas para cada requerente, no riacho chamado Sant’Ana (ou Santo Antonio) entre o Cornixauá e os Preás, situada nos atuais Municípios de Nova Palmeira e Parelhas. Em 08 de julho do mesmo ano, capitão Mateus Bezerra Costa, morador no sertão do Piancó do Cornixauá, obteve do governador Pedro Monteiro de Macedo, da Paraíba, uma légua de terra em quadro, entre o poço chamado Gado Bravo e o riacho Cornixauá. É a data e sesmaria nº 284, situada nos atuais Municípios de Pedra Lavrada e Nova Palmeira.
Em 03 de junho de 1742, Manuel de Souza Santiago, morador no sertão do Jacu, da capitania da Paraíba, obtém do governador Pedro Monteiro de Macedo, a data e sesmaria nº 295, no lugar Santa Maria, entre as cabeceiras do Picuí e Gravatá, ao norte; as cabeceiras do Cubati e Cuiucuiú, ao sul; as cabeceiras do Jacu, ao nascente; e os providos do Seridó, ao poente. No atual Município de Cubati. Em 5 de julho do mesmo ano, o mestre de campo Matias Soares Taveira, morador na capitania da Paraíba, obteve do governador Pedro Monteiro de Macedo, a data e sesmaria nº 296, medindo 3x1 léguas, no poço do Cornixauá, ficando ao norte, a serra do Cotovelo. No atual município de Nova Palmeira.
Em 25 de novembro de 1742, o capitão Mateus Bezerra da Costa, morador no sítio do Cornixauá, obteve do governador da Paraíba, Pedro Monteiro de Macedo, a data e sesmaria nº 234, medindo a taxa de 3x1 léguas, às ilhargas e ao sul da sua fazenda do Cubati, para a parte do sul, iniciando as terras, às ilhargas do riacho dos Padres, tomando o rumo do poente. No município paraibano de Cubati.
Em 16 de junho de 1744, Luis Ferreira da Silva e Antonio Leite de Freitas receberam do governo da Paraíba, representado pelos oficiais do Senado da Câmara, a data e sesmaria nº 232, com a taxa de 3x1 léguas, fazendo pião em uma lagoa, em cima da serra do Cuité, a qual era denominada pelos índios de “Gererão”, compreendendo légua e meia para o norte, e légua e meia para o sul, com uma légua de largo. As serras ficavam nas cabeceiras do Seridó. No município paraibano de Cuité.
Em 20 de julho de 1744, o capitão Antonio Fernandes de Souza, morador no sertão do Quinturaré, obteve do governo da Paraíba, representado pelos oficiais do Senado da Câmara, a data e sesmaria nº 336, medindo 3x1 léguas, às ilhargas de um sitio que possuía no dito sertão. Contestava a terra obtida, ao sul, com as terras do capitão-mor Mateus Bezerra; ao norte, com terras do mestre de campo Antonio de Albuquerque; ao leste, com terras do conde de Alvor; ao oeste, com as terras do próprio requerente.
Em 28 de dezembro de 1745, Antonio Fernandes da Cunha, tenente-coronel, morador na Cidade da Paraíba, obteve do governador Antonio Borges da Fonseca, a data e sesmaria nº 353, localizada no sertão do Cariri, entre as serras Cornixauá e Timbaúba (nas cabeceiras desta), entre as quais correm dois olhos d’água, um deles chamado Poço da Onça. Três léguas por uma, nos municípios de Nova Palmeira e Parelhas.
Em 18 de agosto de 1757, Dona Ana Teresa de Moraes, filha legítima do marechal de campo de auxiliares Matias Soares Taveira, obteve do governador José Henrique de Carvalho, da Paraíba, a data e sesmaria nº 452, com a taxa de 3x1 léguas, no sertão do Quinturaré, fazendo pião no olho d’água chamado da Tabua, confrontando: pelo leste, com o riacho do Paulista; pelo oeste, com a fazenda de Pocinho dos Paus; pelo norte, com a fazenda do Juazeiro; e pelo sul, com a serra do Caravatá. No município de Picuí.
Em 06 de fevereiro de 1761, o capitão Antonio da Cunha de Vasconcelos e seus irmãos, o capitão Inácio Pereira da Cunha Vasconcelos e Francisco de Melo Vasconcelos, moradores na capitania da Paraíba, receberam do governador Francisco Xavier de Miranda Henriques, a data e sesmaria nº 545, com 3x1 léguas, ratificando a data anteriormente concedida (nº 257, de 1º de outubro de 1738) ao pai dos requerentes. Terras nos riachos da Corujinha e do Boi, afluentes do Seridó. Entre os municípios de Nova Palmeira e Parelhas.
Em 09 de janeiro de 1763, Tomás de Araújo Pereira obteve do governador Francisco Xavier de Miranda Henriques, da Paraíba, a data e sesmaria nº 593, com 3x1 léguas, no sertão do Quinturaré, sobras existentes no riacho das Caraibeiras, às ilhargas do seu sítio de criar gados chamado Riacho do Mulungu e Olho d’Água das Caraibeiras, comprado ao capitão-mor Luís Quaresma Dourado. As sobras requeridas ficavam a partir das testadas do Picuí, pelo poente, buscando o olho d’água das Onças, que confrontava com os providos do Cornixauá. Nos municípios de Pedra Lavrada e Nova Palmeira.
Em 03 de janeiro de 1764, Manuel Pereira de Carvalho, cirurgião-mor da Infantaria da Praça da Paraíba, obtém do governador Francisco Xavier de Miranda Henriques, da Paraíba, a data e sesmaria nº 601, compreendendo 3x1 léguas, no sertão do Quinturaré, sobras no riacho da Cabeça do Touro, pegando do riacho da Cachoeira Salgada, por ele abaixo, até a barra do riacho do Olhinho d’Água, sobras das fazendas do Quinturaré, Caiçara e do Pé-de-Serra da Boa Vista. No município paraibano de Frei Martinho. Em 24 de agosto do mesmo ano, Dona Cândida Rosa Teodora de Aragão, filha legítima do mestre de campo de auxiliares Matias Soares Taveira, obteve do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 610, com 2x1 léguas, no sertão do Quinturaré. As terras ficavam ao sul do sitio do Mulungu, no município de Picuí.
Em 16 de fevereiro de 1766, João de Souza Bezerra, morador no Seridó, obteve do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 623, no riacho de Santanta, no lugar chamado Retiro, confrontando: ao nascente, com o Cornixauá; ao poente, com a Carnaúba e o Jardim; ao norte, com o Boqueirão; ao sul, com o sítio da Pedra Lavrada. Nos municípios de Pedra Lavrada, Nova Palmeira e Parelhas. Em 20 de agosto do mesmo ano, o capitão-mor José Moreira Ramos e Mateus Bezerra Cavalcanti obtém do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 628, compreendendo 3x1 léguas, no lugar a que puseram o nome de Lagamar, entre os sítios do Cubati, Cornixauá e Pedra Lavrada. No município de Nova Palmeira.
Em 17 de janeiro de 1775, Jerônimo de Albuquerque Melo obteve do governador paraibano José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 692, com 3x1 léguas, no riacho do Lagadinho, que faz barra no riacho Canoa, nascendo este na serra da Borborema e correndo para o Seridó, no Município paraibano de Cubatí.
Em 10 de junho de 1777, João Batista Guedes Pereira, Lourenço Ramos Velho Barreto e José Clemente Guedes Figueira receberam do governador Jerônimo José de Melo e Castro, a data e sesmaria nº 729, com 3x1 léguas, no sertão do Seridó, entre as extrema da Pedra Lavrada, fazendas da Serra Branca e Cubatí, até contestar com terras do Alagamar, em um riacho chamado Tamanduá e dos Tanques. No município paraibano de Pedra Lavrada.
Em 12 de maio de 1778, Manuel Pereira de Albuquerque, morador no Seridó, obteve do governador Jerônimo Jose de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 744, com 3x1 léguas, no sitio Cubatí, sobras no riacho dos Campinotes, contestando com o Lagamar e o Cotovelo. Em Cubati, Pedra Lavrada e Nova Palmeira.
Em 19 de janeiro de 1780, o sargento-mor Filipe de Moura e Albuquerque obteve do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 771, com 3x1 léguas, na ribeira do Seridó, na serra da Timbaúba, terras de lavouras e de plantar, nas testadas das fazendas do Trapuá e Acauã. Entre Frei Martinho e Currais Novos. Em 18 de agosto do mesmo ano, Manuel Barroso de Carvalho, morador da Capitania da Paraíba, obteve do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 785, medindo 3x1 léguas, sobras fazendo pião no riacho do Provedor, correndo também pelo riacho Cauaçu abaixo. As terras obtidas confrontavam-se: ao norte, com Conceição e Tapera; ao sul, com Pedra d’Água, ao nascente, com Pocinhos, Paus e Picuís; ao poente, com o Quinturaré.No município de Frei Martinho.
Em 04 de julho de 1781, o tenente coronel Matias da Gama Cabral Vasconcelos obteve do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 801, medindo 3x1 léguas, na ribeira do Curimataú, entre as fazendas Oca (ou Ucó) e Gravatá, fazendo pião no lugar Pedra d’Água, contestando: pelo sul, com terras de José Felix, também chamadas de Pedra d’Água; pelo norte, com terras da serra do Cuité, de Caetano Dantas Corrêa; pelo nascente, com terras da fazenda Ucó, do ten. cel. João Peixoto de Vasconcelos; e pelo poente, com terras do sitio Gravatá, dos herdeiros do tenente coronel Tomás de Araújo Pereira. Municípios de Picuí e Nova Floresta.
Em 31 de outubro de 1784, Caetano Dantas Corrêa obteve do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 821, na serra do Cuité, junto ao sítio Olho d’Água do Cuité, medindo 3x1 léguas, tirou por seu antigo possuidor Luiz Quaresma Dourado, fazendo pião na Lagoa do Cuité. No município de Cuité, Paraíba.
Em 14 de dezembro de 1785, Francisco Taveira da Conceição e seu irmão Pedro Taveira da Conceição, moradores no Seridó, receberam do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 835, compreendendo 3x1 léguas, sobras existentes no sítio chamado Riacho, que corre para o Cotovelo, ficando incluído nas terás requeridas o Olho d’Água da Onça. No município de Nova Palmeira.
Em 6 de abril de 1786, José Ferreira de Lima e José Soares da Costa receberam do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 840, medindo 3x1 léguas, no sitio do Olho d’Água do Cachorro, que parte: do poente, com o sítio do Cravatá; do nascente, com o da Pedra d’Água; do norte, com os providos da serra do Cuité; e do sul, com o Cotovelo. No município de Picuí. Em 18 de novembro do mesmo ano, o Padre licenciado José Vieira Afonso obtém do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 854, medindo 3x1 léguas, entre os providos do rio Picuí, São Miguel, Lagoa da Fortuna e riacho do Cachorro, confrontando: pelo nascente, com os providos de São Miguel; ao poente, com os providos do Picuí; do norte para o sul, com os providos do riacho do Cachorro e de Manuel Pereira, e com a estrada que vai de Cotovelo para São Miguel. No município paraibano de Picuí.
Em 30 de novembro de 1786, Caetano Dantas Corrêa obtém do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 855, com 3x1 léguas, no sitio da Cruz, ao pé do qual há sobras; limitando-se, ao sul, com terras do proprio requerente, na serra do Cuité. No município de Cuité. Em 24 de dezembro do mesmo ano, o capitão Manuel Pereira de Castro e Francisco da Silva Valente, moradores no Seridó e em Mamanguape, obtém do governador Jerônimo Jose de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 856, medindo 3x1 léguas, entre as fazendas do Pé-da-Serra, de Filipe de Moura e Albuquerque; do Quinturaré, de Gaspar Fernandes; da Conceição, do capitão Antonio Luis da Costa; e do Acauã, do coronel Afonso de Albuquerque Maranhão; respectivamente, ao norte, sul, leste e oeste. No município de Frei Martinho.
Em 13 de setembro de 1787, Francisco Nobre Junior, morador no Recife, obteve do governador Jerônimo José de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 879, compreendendo os seus sítios Cotovelo e Riachão, entre as ribeiras do Sabugi e Curimataú, fazendo pião no dito sitio que tem povoado, com légua e meia pelo rio abaixo, buscando o poente, contestando com a fazenda Picuí; e com outra légua e meia pelo dito rio acima, para o nascente, contestando com as fazendas do Cubati e Caldeirões; e pelo sul, com terras da Pedra d’Água; ao norte, com terra da Maniçoba. Ficava dentro da compreensão das terras requeridas, o riacho Lanchinha. No município de Nova Palmeira.
Em 05 de outubro de 1787, Antônio Casado de Oliveira, morador no sertão de Curimataú, pede sesmaria no Riacho da Cruz que faz barra no Riacho Cajuju e que serve de encosto ao gado que o suplicante cria, no dito sertão, no Sítio Santa Rosa, que houve por compra. Pede por sesmaria o dito riacho, com todas as vertentes e com três léguas de comprido e uma de largo, que pegarei, ao norte, os providos em Caraibeiras, confrontando para o sul com as matas de Cariri de Fora e ficando o sítio com 1/2 légua para cada borda do rio. É a sesmaria n° 883.
Em 18 de setembro de 1790, João Inácio da Silva, e outro, pedem sesmaria no Sertão do Curimataú entestando pelo norte e pelo leste com Bento Casado, pelo leste com Ilharga de Santa Rosa e por oeste com o Puleiro dos Patos. É concedida a sesmaria n° 947. Em 20 de setembro de 1790, José de Barros da Cruz obtém a data e sesmaria nº 948, no “sertão que faz extrema para Curimataú, Seridó e Cariry entre as terras de Bento Cazado para o norte, as terras de S. Francisco e do sítio de Ourique da parte do nascente e as terras de Manoel Pereira de Albuquerque para o poente, denominada Cubaty”. Foi feita a concessão, no governo de Jeronymo José de Mello Castro.
Em 04 de outubro de 1790, Francisco Rodrigues da Silva, e outro, pedem sesmaria no Sertão de Curimataú entre os providos do Riacho dos Porcos (ou Serra Branca) e os providos do Rio Santa Rosa, pegando o Riacho do Sangue até entestar com o Riachao Santa Rosa e confrontando, ao norte, com as terras de Antônio Casado de Oliveira. É a sesmaria n° 951.
Em 20 de outubro de 1790, Manuel Fernandes Pimenta, morador no sertão do Seridó, obteve do governador Jerônimo Jose de Melo e Castro, da Paraíba, a data e sesmaria nº 952, medindo 3x1 léguas, nas extremas da fazenda de criação Bom Jesus, para a parte do nascente; e nas extremas da fazenda da Tabua e na serra do Cuité. No município de Picuí.
A sesmaria nº 956 foi concedida a João Rodrigues Moreira Chaves em 16 de fevereiro de 1791, pois, segundo ele, “descobriu no sertão de Curimataú terras devolutas no logar Olho d’Água ou Serrote da Onça, sobras do sítio Hinhahim, pelo leste e Bombocadinho, por oeste e norte sítios Damião, Lagoa Salgada e Carnaúba, e do sul as fazendas Caiçara e Carahibeira, quer por sesmaria tres léguas de comprimento e uma de largura, ou vice-versa, ficando dentro o olho d’água ou Serrote da Onça”. Foi feita a concessão no governo de Jeronymo José de Mello e Castro.
Em 22 de abril de 1816 foi concedida a Anna Maria Thereza, viúva de Braz de Oliveira Lêdo e seus filhos José Ignácio de Oliveira e outros, moradores no termo da Vila do Príncipe, a sesmaria nº 1.100, que, segundo a viúva, era composta por terras que o marido comprara em 1777 a Alexandre Dantas Correa e sua mulher Maria Luerana de Jezuz. As terras situavam-se nas cabeceiras do rio Seridó denominada Santo Antonio. As terras requeridas faziam fronteira, pelo poente, com terras da Serra Branca, pelo nascente com terras da data da Canoa de Antonio Pereira da Silva e terras do Cubati de Francisco Pereira de Oliveira, pelo norte com terras do Tamanduá do capitão João Baptista Guedes e pelo sul com terras da própria suplicante. Foi feita a concessão por André Alves Pereira, Ribeiro Cirne e João Bernardo Madeira, governadores interinos.
Muirakytan K. de Macedo, na dissertação de mestrado “Rústicos cabedais: patrimônio e cotidiano familiar nos sertões do Seridó (Séc. XVIII)”, afirma não ter sido encontrada na documentação fundiária do período, terras concedidas aos indígenas em regime sesmarial no Seridó. Salvo vagas referências a um registro de terras de Theodósio Alves de Figueredo, que, em 1742, registra suas confrontações fundiárias “com a serra da Formiga e entesta com as terras da índia Inês Ferreira[2]. Era mais comum que em outras regiões, como na Bahia, sob a pressão jesuítica, que terras de aldeias fossem reconhecidas como tal.
É necessário atentar para os tópicos que afirmam a existência dos índios que habitam a região e o sentido de povoamento como uma via de mão única: a partir do homem branco. As cartas de sesmaria, até cerca da década de 1820, se referiam aos indígenas no pretérito, citando-os quando a participação em sua derrota é moeda forte na requisição de terras. Corroborando este fato, é visível o movimento mais intenso da solicitação sesmarial das terras, cujos picos dão-se entre os anos de 1719 e 1791, e notoriamente na década de 1740, época em que já se apagavam os conflitos indígenas na região seridoense e com maior largueza a sociedade colonial já se estruturava segundo os modelos coloniais, com suas fazendas de criatório, famílias extensas, escravaria e tímidos povoados e vilas, sedes da administração civil e religiosa. Tão importante quanto os bens ou a classificação social do peticionário, para legitimar a posse, era a declaração de que ele, requerente, era seu primeiro povoador, daí afirmações tão comuns na época, como a de ter “descoberto” a terra, expressão cujo sentido não era achar às escuras, sem nenhum conhecimento prévio.
A demanda por terras e/ou sua ocupação ilegal, assim como a freqüência de terras já sesmariadas mas por longos anos inexploradas, fez com que outra provisão régia, em 1799, voltasse a confirmar a delimitação 3x1 e fazia o aditamento em que reverberavam os princípios das Ordenações Filipinas de que, se a terra não fosse explorada produtivamente – diretamente pelo sesmeiro, ou por via de agregados e escravos – elas retornariam ao regaço da Coroa. E as ordens não cessam. A Carta Régia de 1700, além de estipular o valor de foro cobrado pela sesmaria – 6$000 réis por légua no litoral e 4$000 para aquelas distantes 30 léguas da costa – instituía, ainda, que entre um e outro terreno cedido deveria existir um vácuo de légua e meia para uso comunal; porém, tais determinações não foram cumpridas na sua totalidade. Por outro lado, a demarcação era inexata, para as confrontações serviam de marcos, poços, pedras, rios, riachos ou outro acidente topográfico, como por exemplo o “Rio Seridó do poço de Coturaré [Caturaré[3]] para a barra do Acauã”[4] ou “fazendo pião no poço Mulungu, no riacho Sipó”. Os limites entre uma e outra sesmaria poderiam começar e terminar em solos já aquinhoados Valia até mesmo a simples ignorância da localização. Evidentemente que o comércio de terras foi mais intenso do que podem demonstrar as cartas de sesmarias, comprovação que se percebe ao verificar s inventários e testamentos da época. Por outro lado, a posse sem titulação legal persistiria por muito tempo se estendendo até fins do século XIX, mesmo com a Lei de Terras de 1850.



[1] “Heréo” significa o senhor, ou proprietário (do Latim herus); “assim nas demarcações se citão os heréos confinantes. O que paga ao Emphyteuta os reditos da parte do chão ou campo que tomou a sua conta para beneficiar”.
[2] Sesmaria nº 303 em João Lyra Tavares (1982, p. 171-172)
[3] Segundo Medeiros Filho (2002, 121), o poço fica na ribeira do Seridó “cerca de 5 km de Jardim do Seridó (...) também chamado de Pedras Lavradas, aliás sua tradução para o português, sendo o toponimo Catururé de procedência tarairiú”.
[4] Sesmaria nº 163 em Joao Lyra Tavares.