domingo, 26 de abril de 2015
sexta-feira, 24 de abril de 2015
A Câmara dos Deputados terceirizou geral
E não adiantaram os protestos por
parte de centrais sindicais e movimentos sociais, Eduardo Cunha “peitou”
e a Câmara dos Deputados aprovou, na noite da última quarta-feira, 22 de abril,
a emenda que permite a terceirização das atividades-fim das empresas do setor
privado, alterando também diversos pontos do texto-base da proposta. A emenda,
de autoria do PMDB e do Solidariedade, foi aprovada por 230 votos a 203 –
placar bem mais apertado do que o anterior, convenhamos.
O texto da emenda, apesar de não usar
os termos “atividade-fim” ou “atividade-meio”, permite a terceirização de
qualquer setor de uma empresa. Assinada pelo relator do projeto, deputado
Arthur Oliveira Maia (SD-BA), e pelo líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani
(RJ), a emenda também ampliou os tipos de empresas que podem atuar como
terceirizadas, abrindo a oferta às associações, às fundações e às empresas
individuais (de uma pessoa só). O produtor rural pessoa física e o profissional
liberal poderão figurar como contratante.
Outra mudança em relação ao texto-base,
segundo o portal da Câmara dos Deputados, é a diminuição, de 24 para 12 meses,
do período de quarentena que ex-empregados da contratante têm de cumprir para
poder firmar contrato com ela se forem donos ou sócios de empresa de
terceirização. Os aposentados não precisarão cumprir prazo. A quarentena
procura evitar a contratação de ex-empregados por meio de empresas individuais.
Já a subcontratação por parte da contratada (“quarteirização”) somente poderá
ocorrer quando se tratar de serviços técnicos especializados. A emenda também
determina que, nos contratos de terceirização não sujeitos à retenção na fonte
de 11% da fatura ou às alíquotas relativas à desoneração da folha de
pagamentos, a contratante será obrigada a reter o equivalente a 20% da folha de
salários da contratada, descontando da fatura. Outra mudança feita pela emenda
diminui o recolhimento antecipado do Imposto de Renda na fonte de 1,5% para 1%
para empresas de terceirização dos serviços de limpeza, conservação, segurança
e vigilância.
Em relação à
sindicalização, ficou mantido o trecho do texto-base, que prevê a filiação dos
terceirizados ao mesmo sindicato da contratante apenas se ambas as empresas
pertencerem à mesma categoria econômica. Entretanto, a emenda retira a
necessidade de se observar os respectivos acordos e convenções coletivas de
trabalho. Quanto à responsabilidade da contratante, a emenda torna solidária a
responsabilidade da contratante em relação às obrigações trabalhistas e
previdenciárias devidas pela contratada. Nesse tipo de responsabilidade, o
trabalhador pode processar tanto a contratada quanto a contratante.
A bancada
da Paraíba dividida
Conforme lista disponível no site da Câmara, a bancada
federal paraibana ficou dividida, dessa vez. Na votação anterior, apenas os
deputados Luiz Couto e Damião Feliciano votaram contra a proposta. Já na votação
do último dia 22, os votos ficaram assim divididos: pelo “Não à terceirização” –
Luiz Couto (PT), Damião Feliciano (PDT), Veneziano Vital do Rego (PMDB),
Wellington Roberto (PPS), Pedro Cunha Lima (PSDB) e Wilson Filho (PTB). Já os
deputados que continuaram votando pelo “Sim à terceirização” foram: Hugo Motta
(PMDB), Manoel Junior (PMDB), Rômulo Gouveia (PSD) e Benjamim Maranhão
(Solidariedade). Efraim Filho (DEM) e Aguinaldo Ribeiro (PP) não aparecem em
nenhum das listagens e, das duas uma: ou estavam ausentes no momento da votação
ou abstiveram-se de votar.
Agora
é com o Senado...
O texto da do projeto de lei da terceirização (PL 4330/04) seguirá agora
para o Senado e o tempo promete virar! É que Renan Calheiros já declarou que no
senado a terceirização de Eduardo Cunha e dos deputados não passa:
"Regularizar os direitos do trabalhador terceirizado tudo bem, mas retirar
os direitos dos trabalhadores, isso não vamos permitir", declarou o presidente
do Senado. Eduardo Cunha, por sua vez, ao saber do posicionamento do senador de
seu mesmo partido, disse que dará o troco, sabotando projetos de senadores que
tramitam na Câmara dos Deputados. "Pau que dá em Chico também
dá em Francisco", ameaçou.
A senadora Fátima Bezerra (PT/RN) disse,
em Plenário, nessa quinta-feira (23), que a classe trabalhadora do país
amanheceu de luto em razão da aprovação da terceirização: “Os deputados que
votaram ontem a favor desse projeto, infelizmente deram às costas para a
sociedade e ignoraram os veementes protestos das centrais sindicais e movimentos sociais que vem se
manifestando rotineiramente contra a aprovação de uma proposta que representa
um sério retrocesso nas relações trabalhistas no Brasil”, destacou a
parlamentar. Fátima lembrou que a permissão de contratação de terceirizados
para atividades-fim, que abre possibilidades como a de uma universidade
contratar terceirizados para serem professores, não moderniza e nem avança na
proteção dos direitos dos trabalhadores. Pelo contrário, é um atraso para o
país.
A senadora pelo PT espera que, no Senado, aconteça um intenso debate sobre o tema antes de uma decisão. Ela lembrou, inclusive, que o presidente da Casa, Renan Calheiros, já garantiu que a matéria não será aprovada na Casa no afogadilho. “Quero dizer aos trabalhadores que a luta não está terminada. Esta matéria ainda virá para esta Casa e espero que o Senado tenha lucidez política, clareza histórica e sensibilidade suficientes para corrigir essa anomalia cometida pela Câmara, que foi a aprovação do PL 4330”, ressaltou Fátima.
A senadora pelo PT espera que, no Senado, aconteça um intenso debate sobre o tema antes de uma decisão. Ela lembrou, inclusive, que o presidente da Casa, Renan Calheiros, já garantiu que a matéria não será aprovada na Casa no afogadilho. “Quero dizer aos trabalhadores que a luta não está terminada. Esta matéria ainda virá para esta Casa e espero que o Senado tenha lucidez política, clareza histórica e sensibilidade suficientes para corrigir essa anomalia cometida pela Câmara, que foi a aprovação do PL 4330”, ressaltou Fátima.
...Ou com Dilma
Nessa quinta-feira
(23), o deputado Vicentinho (PT-SP) conversou com a Revista Fórum, sobre o Projeto de Lei 4.330/04. Com o
PL indo para o Senado, ele espera que os trabalhadores se mobilizem ainda mais
para pressionar os parlamentares a votarem em defesa dos cidadãos, e não apenas
do empresariado. Vicentinho garante que a presidenta Dilma Rousseff deve dar
atenção especial aos pontos que abordam a terceirização em atividade-fim e a
responsabilidade solidária do contratante e o fornecedor da mão de obra
terceirizada: “A presidenta Dilma não vacilará em vetar principalmente a
terceirização na atividade-fim da empresa e a relação sobre a responsabilidade
solidária”
Vicentinho ainda
comentou sobre a aprovação da emenda: “Realmente, muito lamentável o que
aconteceu na Câmara dos Deputados. Mas já era de se esperar, uma vez que temos
a clara consciência de que o atual perfil da Câmara é conservador, retrógrado e
nitidamente empresarial. Já no Senado, o processo será diferente, pois o
presidente Renan Calheiros já anunciou que a matéria será tratada de outra
forma, valorizando o debate e a participação social”.
Chegou a hora de ir para a rua
Pelo tom dos
congressistas do PT, percebe-se que todos estão esperando a forma através da
qual o PL 4.330/04 será tratado no Senado, devido à fala de Renan Calheiros
sobre o assunto. Porém, se ainda assim, a terceirização passar da forma que
está, também pelo Senado, ainda haverá o veto da presidenta Dilma que,
provavelmente, não vetará totalmente o projeto de lei, mas os pontos mais
danosos para os trabalhadores.
Agora é chegada a
hora de mobilização e cobrança por parte de todos os trabalhadores, é hora de
sair às ruas e lutar pelo presente e futuro do emprego no Brasil. É hora de evitar
que os avanços dos últimos 70 anos virem pó.
Agora sim, é hora de
ir para as ruas!
* Fabiana Agra é
advogada e jornalista
domingo, 19 de abril de 2015
Os prós e contras acerca da unificação das eleições
Entre os vários temas em debate acerca da tão
falada mas ainda pouco conhecida “Reforma Política”, ganham destaques as
discussões sobre o “financiamento das campanhas eleitorais e dos partidos
políticos”, que tem por objetivo primordial, independentemente do modelo a ser
adotado, a diminuição da influência do poder econômico no resultado das
eleições; a questão da “reeleição para os cargos eletivos do Poder Executivo” é
outro ponto controvertido; mas atualmente é a “unificação das eleições” – na
prática, a implantação da coincidência de mandatos nos níveis nacional,
estadual, distrital e municipal – que tem chamado grande atenção da mídia e dos
legisladores.
As propostas de emenda à Constituição têm em comum
a ideia de que as eleições municipais deveriam ser realizadas no mesmo dia – ou
em período bastante próximo – das eleições gerais (estaduais e nacional). Pela
relevância do tema, trago os argumentos de quem é a favor e contra a unificação
das eleições, para uma posterior análise de cunho mais pessoal.
Eleições
unificadas: maior economia e governabilidade
Aqueles que defendem a unificação apontam,
basicamente, quatro argumentos que sustentariam os benefícios dessa mudança:
1) redução nos custos das eleições, em seu aspecto
operacional, pois a organização do pleito ficaria mais barata aos cofres da
Justiça Eleitoral;
2) haveria o barateamento das campanhas eleitorais;
3) os partidos políticos seriam fortalecidos com
essa medida, uma vez que as campanhas dentro de cada agremiação teriam que
obter uma coordenação mais organizada e centralizada e
4) a realização de eleições unificadas a cada
quatro ou cinco anos favoreceria a governabilidade, facilitando, sobremaneira,
a execução de políticas públicas, em especial nas áreas em que o Brasil tem
maior carência, como saúde, saneamento, segurança pública e educação.
Para os defensores da unificação das eleições, o
modelo atual, com eleições intercaladas a cada dois anos, prejudicaria as políticas
públicas na esfera municipal, já que justo na metade do mandato dos municipais
as eleições estaduais e nacional “paralisariam” a máquina pública.
Elga
Figueiredo, advogada e especialista em direito do consumidor, comunga com este
pensamento, em artigo publicado na internet. Segundo ela, “estima-se que no Brasil cada pleito eleitoral custa aos
cofres públicos para sua viabilização em torno de R$ 265 milhões, um dos
fatores que, após muita discussão, ensejara na Proposta de Emenda à
Constituição de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-PR), prevendo unificação
das eleições para todos os cargos em nosso país. Para que isso seja
possível, os candidatos eleitos em 2016 ou teriam mandato de apenas dois anos
ou o período de atuação no cargo se estenderia até 2018, ocasião em que seria
possível coincidir os processos eleitorais.
Segundo
Figueiredo, “muito ainda se discute se a medida valeria já para 2018 ou para
2022, porém, essa vertente dentro da discussão da reforma política brasileira
tem ganhado a cada dia mais repercussão no cenário nacional. De acordo com
o autor da proposta, dizer que a eleição coincidente faria com que o pleito
fosse somente nacional não é verdade, porque cada candidato a presidente da
República teria que ter, em cada Estado, em cada Município, uma candidatura que
o apoiasse apresentando políticas públicas que tivessem enfoque nacional,
estadual e municipal. Administrativamente para os gestores de todas as esferas
seria muito melhor, pois haveria a possibilidade de exercer mandato com um
mesmo gestor durante todo o período, sem ocorrer a incerteza de retaliações
quando alguém da base não fosse eleito”, completa a advogada, em sua defesa.
Eleições unificadas: uma
afronta à democracia
Em
recente reportagem do site Congresso em Foco, Joelson Dias – ex-ministro do Tribunal Superior
Eleitoral e Marilda Silveira e Daniel Falcão – professores de Direito Eleitoral, apontam sete razões pelas quais a
unificação das eleições, em discussão no Congresso, é prejudicial à
administração pública, aos mandatários, aos partidos políticos, aos candidatos
e aos eleitores:
I – A unificação das
eleições comprometerão o direito de participação política e escolha dos
eleitores e enfraquecerão as instituições democráticas: por longo período, entre uma
eleição e outra, os eleitores não serão ouvidos e, consequentemente, também
serão menos debatidas as questões políticas do País. Os cidadãos ficarão ainda
mais afastados da política, pois exercerão seu direito fundamental ao voto
somente uma vez a cada quatro ou cinco anos e, como resultado disto, também a
classe política e as instituições democráticas diminuídas em sua legitimidade.
O jovem, cujo voto é facultativo, que completar 16 (dezesseis) anos somente
após as eleições, irá às urnas, pela primeira vez, apenas quatro ou cinco anos
depois, aos seus 20 (vinte) ou 21 (vinte e um) anos. Restará prejudicado o
elemento pedagógico do voto. Com a unificação das eleições, quem mais perde,
portanto, são os próprios eleitores.
II – As eleições
unificadas comprometerão a administração do pleito pela Justiça Eleitoral e a
sua atuação jurisdicional: a mudança acarretará um inegável assoberbamento da Justiça Eleitoral
dificultando, ainda mais, o gerenciamento e a fiscalização do processo
eleitoral: em, aproximadamente seis meses, os órgãos da Justiça Eleitoral
seriam responsáveis por fiscalizar e julgar milhares de prestações de contas,
registros de candidaturas e ações de impugnação, investigações judiciais
eleitorais, recursos contra expedição de diplomas e impugnações de mandatos
eletivos. Tudo isso, sem computar as incontáveis representações ajuizadas
contra as propagandas eleitorais em curso. A proposta prevê, na verdade, a
realização de 5.570 eleições municipais (prefeitos e vereadores), 26 eleições
estaduais (governador, deputados federais, senadores e deputados estaduais),
uma eleição distrital e a eleição nacional (presidente da República) numa mesma
data ou, em hipótese alternativa, em datas bem próximas. A administração do
pleito pela Justiça Eleitoral e a sua atuação jurisdicional restariam
seriamente comprometidas diante do gigantismo que representa a unificação das
eleições.
III – As eleições
unificadas dificultarão e encarecerão a veiculação da propaganda eleitoral:
a
veiculação da propaganda eleitoral em geral, especialmente a distribuição do
seu tempo no rádio e na televisão, será imensamente dificultada diante do
elevado número de candidatos em uma eleição unificada. Não apenas pelo tempo e
diversidade dos meios de propaganda eleitoral, mas também pela compreensão dos
programas partidários e das propostas dos inúmeros candidatos concorrentes ao
pleito, especialmente levando-se em conta que, no federalismo brasileiro, cada
ente tem competências privativas e concorrentes.
IV – As eleições
unificadas não simplificarão o sistema eleitoral, nem facilitarão a sua
compreensão pelo eleitor: é inevitável o prejuízo no que toca a capacidade de reflexão sobre as
propostas e nomes a serem escolhidos na urna eletrônica. Trata-se do enorme
número de candidaturas além da mistura, em si, de temas locais, estaduais e
nacionais para definição de oito candidatos diferentes. Com toda essa
complexidade, as eleições unificadas violariam um dos propósitos básicos que
deve ter toda e qualquer reforma política: a simplificação do sistema eleitoral
visando a sua melhor compreensão pelo eleitor.
V – As eleições unificadas
resultarão em menosprezo pela sociedade da importância do sistema político e
das práticas democráticas: com a coincidência dos mandatos, os candidatos derrotados terão
dificuldade muito maior de enfrentar a maioria estabelecida. Isso porque somente
terão uma nova oportunidade de candidatarem-se e/ou tornarem-se conhecidos
diante do eleitorado após quatro ou cinco anos. E, em caso de nova derrota
eleitoral, após tanto tempo, estarão praticamente alijados da vida política. O
preço a ser pago pela possibilidade de todos os mandatos iniciando e terminando
juntos pode muito bem ser o da verticalização do voto pelo eleitor, de
presidente a vereador de um mesmo partido ou coligação, de aniquilamento das
minorias e da oposição locais durante o longo tempo de espera entre uma e outra
campanha eleitoral. A realização de eleições somente a cada quatro ou cinco
anos dispensará os partidos políticos e governantes da necessidade de se
submeterem à avaliação política mais periódica da sua atuação (“accountability”)
e suprimirá dos eleitores e da oposição o direito de crítica que os debates
eleitorais fomentam a cada dois anos.
É preciso avaliar se, de fato, a unificação não
dificultará a “oxigenação” das eleições e incrementará o custo das campanhas
eleitorais, pois os candidatos que postulam pela primeira vez a sua eleição ou
são pouco conhecidos também terão necessidade de mais recursos para obterem
reais chances de vitória no escrutínio unificado. Dessa forma, o papel dos
candidatos e partidos de oposição, em quaisquer das esferas federativas,
restará ainda mais dificultado, fato este que atinge diversos princípios
constitucionais, como, por exemplo, o republicano, que assegura a periodicidade
das eleições, o pluripartidarismo e a garantia de preservação das minorias.
VI – As eleições
unificadas não condicionam nem o fim da reeleição, nem o aventado aumento para
5 (cinco) anos do período de mandato, nem a necessária garantia da
governabilidade: nem o
pretendido fim da reeleição, nem o aventado aumento para 5 (cinco) anos do
período de mandato, nem mesmo a tão propalada necessidade de se garantir a
governabilidade estão necessariamente vinculados à unificação das eleições. No
tocante à governabilidade, por exemplo, a própria reforma política que se
pretende poderá, em sendo mesmo este o caso, promover os ajustes pontuais
necessários na lei de responsabilidade fiscal, por exemplo, ou na própria
legislação eleitoral, de modo não somente a permitir, mas, inclusive, fomentar,
mesmo no ano das eleições, a execução de políticas públicas, em especial nas
áreas em que o Brasil mais precisa, como saúde, saneamento, segurança pública e
educação. Hoje, a reclamação é que a legislação eleitoral impõe uma série de
restrições a alguns atos de governo, como a execução de convênios em anos
eleitorais. Contudo, entendemos, é a coincidência dos mandatos que pode
resultar em longo tempo de espera pelos Estados e Municípios para o recebimento
de transferências voluntárias ou a celebração de novos convênios, até as
eleições seguintes, a depender das composições ou disputas políticas entre as
respectivas circunscrições eleitorais ou com a União.
VII – As eleições
unificadas ao invés de baratear poderão é encarecer as campanhas eleitorais:
a
unificação das eleições para a coincidência dos mandatos também repercutirá na
oferta dos mais diversos bens e serviços durante as eleições, impactando na
forma de realização do trabalho, na qualidade e na engenharia de mercado desses
serviços e, igualmente, nos custos das campanhas eleitorais em razão do grande
número de candidatos e cargos em disputa, bem assim da dedicação dos melhores
profissionais às eleições presidenciais e de governadores. Isto é, mesmo que
não venha a ser mais necessário buscar financiamento a cada dois anos, com o
fim dos pleitos intercalados, como defendem alguns, o gasto com a campanha
eleitoral em eleições unificadas pode ser muito maior, especialmente se
consideradas as “dobradas” na propaganda eleitoral, ou seja, o apoio político e
financeiro entre os candidatos e também entre os partidos. Ademais, se for
necessário aumentar o tempo de veiculação da propaganda eleitoral no rádio e na
televisão, em razão do elevado número de candidatos, crescerá, também, na mesma
proporção, o montante da compensação fiscal devido às emissoras pela cedência
do referido “horário gratuito”, e, portanto, o custo das eleições para os
próprios contribuintes. Em poucas palavras, ao invés do seu cogitado
barateamento, as campanhas eleitorais poderão é sair mais caras com a
unificação das eleições.
No
terceiro e último artigo sobre a “unificação das eleições, trarei um desfecho
sobre o tema, ocasião em que esmiuçarei o que ainda restou nebuloso sobre o
assunto, conferindo também a minha opinião acerca da polêmica. Até breve.
*
Fabiana Agra é advogada e jornalista.
quinta-feira, 16 de abril de 2015
Prorrogação do mandato de prefeitos e vereadores e a unificação das datas eleitorais
A
unificação das datas eleitorais é um dos temas que prometem movimentar o
segundo semestre no Congresso Nacional, com relação à reforma política. A
proposta, em um primeiro momento, parece simples: em vez de eleições a cada
dois anos, todas as eleições passariam a acontecer na mesma data – ou seja, a
cada quatro anos, todos os cidadãos elegeriam prefeitos, governadores,
presidente, deputados, senadores e vereadores de uma vez só.
Mas para
que isso seja possível, os mandatos de prefeitos e vereadores eleitos em 2016 –
para uma minoria de deputados, aqueles eleitos em 2012 – seriam prorrogados por
mais dois anos. Isso sem falar das conseqüências que a prática poderia trazer
para a democracia... Vamos ao ponto e ao contraponto.
Os “a favor”
Quem
defende a ideia, justifica o custo financeiro das eleições e o fim dos "apagões"
nos parlamentos em anos eleitorais. Cada eleição no país custa mais de meio
bilhão de reais e o Brasil não deveria mais custeá-las a cada dois anos, dizem
os defensores da medida. Para a deputada federal Rosane Ferreira (PV), a medida
é positiva, ela acredita que isso impedirá as paralisações do Congresso que
ocorrem a cada dois anos e deve mudar o comportamento de muitos. "Hoje é
um horror. Tem pessoas que se elegem deputados e passam os dois primeiros anos
apenas investindo em um município, em função da campanha municipal. Não é para
isso que serve um deputado federal", afirma.
Mas para o senador Waldemir Moka, (PMDB-MS) a possibilidade
de esticar os atuais mandatos é praticamente nula: “Esqueçam a prorrogação de
mandato, não há legitimidade para isto, vocês foram eleitos por quatro anos”, avisou
o senador, aos prefeitos durante assembléia geral da Associação dos Municípios
de Mato Grosso do Sul (Assomasul). O parlamentar também não vê a mínima
possibilidade de os congressistas aprovarem eleição para mandato tampão no país.
O que há consenso, segundo o peemedebista, é a aprovação de eleições gerais em
2022. A proposta defendida pelo peemedebista prevê a eleição de
prefeitos e vereadores em 2016 para um mandato de seis anos a fim de conciliar
a data das eleições únicas. “A partir de então, ou seja, de 2022 em diante,
todos os cargos eletivos do Executivo, presidente, governador e prefeito, e
Legislativo, vereador, deputado estadual, deputado federal e, inclusive para
senador, serão para um mandato de cinco anos, sem reeleição”, explica. Moka
entende que a unificação de todas as eleições, além de gerar economia aos
cofres públicos, permite ao eleitor escolher todos os candidatos num único dia.
“Até porque o voto é obrigatório. E eleição a cada dois anos, da forma como
está, é extremamente desgastante”, justifica.
Os “do contra”
Para
seus opositores, a proposta apresenta-se como a pior medida possível no texto
da reforma. Em entrevista ao jornal “Gazeta do Povo”, o cientista político da
UFPR Ricardo Oliveira, disse que o principal problema seria colocar sob uma
mesma discussão temas de relevância local e nacional. O risco é que temas
importantes como o transporte público, a educação e a saúde no nível municipal
e o planejamento urbano se tornem menos influentes na eleição de um prefeito do
que as grandes discussões nacionais. Além do mais, Oliveira aponta o risco de
uma prorrogação de mandato. Para unir as datas, seria necessário prorrogar os
mandatos municipais. "Prorrogar mandato é golpe", resume. Ele acredita
que é positivo ter eleições a cada dois anos. "Quanto maior a presença do
debate político, melhor."
Assim
como Oliveira, o cientista político Adriano Codato, também da UFPR, avaliou
como negativa essa mudança. Ele acredita que os motivos alegados, como a
redução do número de anos eleitorais, não justificam as perdas decorrentes
dessa mudança. "Não há motivo para mudar. A cada quatro anos se discute o
Brasil e a cada quatro anos se discutem os problemas municipais."
Em março de 2015, o
ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves (atual ministro do
Turismo), após a realização de um encontro de prefeitos e vereadores em que foi
defendida a prorrogação dos mandatos dos atuais prefeitos e vereadores no
contexto da reforma política, disse que não há clima para prorrogar os atuais
mandatos – de prefeitos e vereadores – e que essa discussão destoa da realidade
democrática do país. “Prorrogar mandato só foi feito na ditadura militar”,
afirmou Henrique. Em entrevista ao “Jornal de Hoje”, ele reafirmou: “Sem chance
de prorrogar os mandatos, não há clima mais para uma decisão desse tipo”.
Ao opinar sobre a reforma
política, Henrique disse que a grande tendência é, justamente, haver
coincidência das eleições. “Pelo que ouço e converso dentro e fora do PMDB, há
grande tendência para coincidência das eleições. Todas no mesmo ano, embora em
dias diferentes, com espaços de dias a discutir”. Mas para se chegar à
coincidência das eleições, na avaliação do ex-presidente da Câmara, existem
dois problemas a serem resolvidos. O primeiro é ajustar a eleição municipal.
Nesse caso, as ideias são mandato de dois anos, ou de seis anos, para haver a
coincidência futura. O segundo é o Senado. De acordo com o presidente do PMDB
potiguar, como existe uma tendência de se acabar com a reeleição, muitos
defendem o mandato de cinco anos, e não mais de quatro.“Mas aí (há) o obstáculo
a se resolver do mandato dos senadores. Para coincidir, se passar o mandato do
executivo de quatro para cinco anos, o mandato de senador teria que passar de
oito para dez anos, e há resistências a se ampliar assim”, analisa o
peemedebista.
Já o
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, descartou a possibilidade de
prorrogação dos mandatos para prefeitos e vereadores com a reforma política.
Ele participou de uma audiência pública sobre o tema e o pacto federativo na
Assembleia Legislativa, dentro do programa "Câmara Itinerante", em
Natal, no dia 10 de abril. “Não adianta. Qualquer prorrogação é
inconstitucional. Não vai ter prorrogação de mandato”, destacou Cunha, durante a
audiência pública.
Já o
ministro Dias Toffoli, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, durante
uma audiência pública realizada em março de 2015, que discutia justamente a
reforma política, disse ser contrário às eleições casadas e que as eleições periódicas
reforçam as praticas democráticas. “O Supremo Tribunal Federal (STF) não vai
aceitar a prorrogação dos mandatos dos atuais prefeitos por dois anos, antes
que as eleições no Brasil sejam unificadas”, disse ele. Dias Tóffoli sugeriu
ainda que, se a medida for adotada pela comissão, ela só passe a vigorar a
partir de 2020 ou mesmo depois. Apesar disso, ele afirmou que é contra as eleições
casadas. Para o presidente do TSE, eleições periódicas reforçam a importância
do sistema político e das praticas democráticas. "O que se precisa são
mais eleições, e não menos. Diminuir a frequência das eleições diminui a
legitimidade da classe política", afirmou.
Próximos passos
Caso queira que aconteça
qualquer alteração nas eleições de 2016, o presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB), deve levar o tema ao plenário para votação no segundo
semestre deste ano. Tal medida é imprescindível, pois para haver qualquer
mudança para as eleições do próximo ano, deve-se respeitar o prazo de um ano
antes da eleição, e ainda aprovar na Câmara e depois Senado. Trocando em
miúdos: todas as modificações terão que ser aprovadas até setembro de 2015.
No caso da coincidência de
mandatos, este é um dos pontos mais controvertidos da reforma política,
principalmente porque o debate nacional será travado mesma eleição. Ao mesmo
tempo, iremos debater desde o problema da do esgoto em determinada rua, ao
problema nacional ou regional, como por exemplo, o problema da transposição do
rio São Francisco.
Alguns políticos lançam o
seguinte alerta: se há necessidade de se coincidir, é por conta do freio que se
deve colocar à influência do poder econômico. A presença de eleições de dois em
dois anos torna o país voltado para a eleição. E os recursos investidos numa
eleição dessa são vultosos. Enfim, a matéria é controvertida e merece exame
muito aprofundado. Todos os pontos da reforma política merecem atenção, mas o
tema da coincidência dos mandatos merece muito atenção especial – com a
prorrogação seria mais fácil, mas a prorrogação fere o sentimento democrático,
e o Brasil somente há pouco tempo conseguiu consolidar a sua democracia.
* Fabiana Agra é advogada e
jornalista
quarta-feira, 1 de abril de 2015
A Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ) da Câmara homenageou, da forma mais perversa, os 51 anos do golpe
militar no Brasil, ao aprovar, nesse 31 de março, o voto em separado do
deputado Marcos Rogério (PDT-RO), favorável à admissibilidade da PEC 171/93 (que reduz a maioridade
penal de 18 para 16 anos). E o placar nem foi apertado: 42 votos a favor e 17
contra. Gol de placa da turma dos reacionários, pelo que vimos.
Antes, foi rejeitado o
relatório do deputado Luiz Couto (PT-PB), contrário à proposta de redução da
maioridade penal. O paraibano argumentara, acertadamente, que o projeto fere cláusula
pétrea da Constituição, o
que a tornaria inconstitucional. Já no parecer vencedor, Marcos Rogério afirma
que a redução da maioridade penal “tem como objetivo evitar que jovens cometam
crimes na certeza da impunidade”. Ele defendeu que a idade para a imputação
penal não é imutável. "Não entendo que o preceito a ser mudado seja uma
cláusula pétrea, porque esse é um direito que muda na sociedade, dentro de
certos limites, e que pode ser estudado pelos deputados", disse.
E pelo que estamos
assistindo, confortavelmente da poltrona, trata-se de mais uma briga entre direita,
esquerda e os do muro: PT, Psol, PPS, PSB e PCdoB votaram contra a proposta. Os
partidos favoráveis à aprovação da admissibilidade foram PSDB, PSD, PR, DEM,
PRB, PTC, PV, PTN, PMN, PRP, PSDC, PRTB. Já os que liberaram suas bancadas
porque havia deputados contra e a favor foram os seguintes: PMDB, PP, PTB, PSC,
SD, Pros, PHS, PDT, e PEN.
Tão logo foi aprovada a
admissibilidade da PEC 171/93 – que estava engavetada há mais de 20 anos –
começaram a pipocar editoriais em todos os sites de notícia e de opinião. Mas o
texto que realmente deu o tom e matou a charada, foi o do “Blog da Cidadania”
que explicou as razões pelas quais o PSDB insistiu em desengavetar um projeto
de emenda constitucional que estava dormindo em berço esplêndido e sem hora
para acordar. Transcrevo o texto na íntegra, pela sua pertinência:
“Para entendermos o que está acontecendo, voltemos a recente pesquisa
Datafolha que deu conta de queda ainda maior da popularidade (avaliações
bom e ótimo) do governo Dilma Rousseff, agora em 13%. Essa mesma pesquisa
mostrou que a imagem do Congresso é ainda pior, com aprovação de 9%. É nesse
contexto que se insere a tendência da maioria da Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara dos Deputados de colocar para tramitar, de uma hora para
outra, um texto que está em debate naquela Casa há 23 anos e que jamais
prosperou pela pura e simples razão de que é inconstitucional.
Setores da Câmara, portanto, querem fazer média com a população. Outras
pesquisas de opinião mostram que cerca de 90% dos brasileiros acreditam no
conto do vigário de que reduzir a idade de responsabilização penal reduziria
criminalidade. Desse modo, mesmo com o previsível veto do Supremo Tribunal
Federal a uma tentativa de mudança de cláusula pétrea da Constituição, o
Congresso passaria à sociedade a ideia de que tentou fazer o que ela queria, o
que, supõem esses políticos demagogos, render-lhes-ia dividendos políticos”.
Neste apressado artigo, não irei
tratar dos pormenores da inconstitucionalidade da medida, farei isso na próxima
ocasião – até porque o assunto irá render muitos panos para as mangas de
políticos e da população. Fica aqui apenas o registro de terem acordado uma PEC
adulta – eis que dormia candidamente há 23 anos, em pleno 31 de março...
Antes que me perguntem, eu já explico
como será a tramitação da PEC 171/93. Vamos lá: ontem,
no chamado “exame da admissibilidade”, a CCJ analisou apenas a
constitucionalidade, a legalidade e a técnica legislativa da PEC. A partir de
agora, a Câmara dos Deputados criará uma comissão especial para examinar o
conteúdo da proposta – juntamente com 46 emendas apresentadas nos últimos 22 anos,
desde que a proposta original passou a tramitar na Casa – mas querem apostar
que esta emenda correrá os 100 metros rasos? Após, a comissão especial terá o
prazo de 40 sessões do Plenário para dar seu parecer. Em seguida, a PEC deverá
ser votada pelo Plenário da Câmara em dois turnos. Para ser aprovada, precisa
de pelo menos 308 votos (3/5 dos deputados) em cada uma das votações.
Depois de aprovada na
Câmara, seguirá para o Senado, onde será analisada pela Comissão de
Constituição e Justiça e depois pelo Plenário, onde precisa ser votada
novamente em dois turnos. Se o Senado aprovar o texto como o recebeu da Câmara,
a emenda é promulgada pelas Mesas da Câmara e do Senado. Se o texto for
alterado, volta para a Câmara, para ser votado novamente. Neste caso, não
cabe veto da Presidência da República, pois se trata de emenda à Constituição. Finalmente,
a redução da maioridade penal, se aprovada, pode ser questionada no Supremo
Tribunal Federal, responsável último pela análise da constitucionalidade das
leis. E não tenho dúvidas de que, caso seja aprovada, essa malfadada emenda
acabe sendo jogada fora pelo STF – a não ser que o Supremo também decida por
rasgar a Constituição de 1988.
Acredito que os fãs da
Raquel estejam exultantes! Mas fica aqui um lembrete para os tais: não há
comprovação de que a redução da maioridade penal contribua para a redução da
criminalidade. Sim, não há, vamos aos números? Dados coletados pela Carta
Capital dão conta de que do total de homicídios cometidos no Brasil nos últimos
20 anos, apenas 3% foram realizados por adolescentes. O número é ainda menor em
2013, quando apenas 0,5% dos homicídios foram causados por menores. Por
outro lado, são os jovens (de 15 a 29 anos) as maiores vítimas da violência. Em
2012, entre os 56 mil homicídios em solo brasileiro, 30 mil eram jovens, em sua
maioria negros e pobres. Tem mais: nos 54 países que reduziram a maioridade
penal não se registrou redução da violência. A Espanha e a Alemanha voltaram
atrás na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Hoje, 70% dos países
estabelecem 18 anos como idade penal mínima. Esses dados serão
esmiuçados no próximo artigo.
Por tudo isso, a subprocuradora-geral
da República defende que o remédio para a situação não seja a redução da idade
penal, mas o endurecimento da pena para adultos que corrompem menores – como
o Projeto de Lei 508/2015, do deputado Major Olímpio – e o
investimento em políticas sociais para os jovens. Pelo Brasil afora, entidades
como a Unicef, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o Ministério Público
Federal (MPF), a Anced (Associação Nacional dos Centros de Defesa dos Direitos
da Criança e Adolescente), o Ministério da Justiça e a Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República (SDH) já se manifestaram contrários ao
projeto. E qualquer pessoa que trabalha o tema em seu dia-a-dia irá pensar duas
vezes e tenderá a ser contra o projeto, por saber que apenas vai piorar o que
já está péssimo.
Porém, o PSDB e seus
asseclas conseguiram seu objetivo maior: armaram o circo e o palhaço já está
fazendo suas estripulias; agora, basta um pouco de pão e a maioria dos
brasileiros e brasileiras esquecerão rápido a verdadeira pauta que deveria
estar no centro das atenções do Congresso Nacional: a REFORMA POLÍTICA. Essa,
pelo jeito, vai agora deitar-se na gaveta onde estava a roncar a PEC 171/93.
Que Deus tenha piedade dos pequenos do nosso país – dos pretos e pobres, por
óbvio.
* Fabiana Agra é advogada
e jornalista
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