domingo, 27 de abril de 2014

VALÉCIA: UMA ESTRELA ASCENDENTE


Valécia Estrela, cantora e compositora, é filha de Aparecida e Raminho Balbino e neta de Antônio Costa. Ela nasceu em Mato Grosso, comunidade rural de Picuí, na Paraíba e ainda criança parte para Brasília e São Paulo junto a seus pais e quatro irmãs. Em 1998 a família retorna para a Paraíba e com apenas 12 anos de idade, Valécia começa a compor suas primeiras canções, inspirada nos versos de seu avô, poeta e cantador de viola.





Residindo em Brasília desde 2003 e com mais de 100 músicas compostas em seu currículo, no ano de 2011 Valécia começou a divulgar o seu trabalho musical, passando a interpretar suas próprias canções. Em relação ao nome artístico, a compositora explica que sua paixão por estrelas vem de pequena, devido a uma brincadeira de escola na qual acabou adotando a palavra “estrela” em seu nome; já o prenome “Valécia” foi dado pelo pai, que precisou de criatividade depois de encarar ter cinco filhas; como disse a cantora: “meu pai compôs meu nome”.
Em 2014, Valécia Estrela mudou seu nome artístico para "Amora" e lançou  “Pelo Mundo” – gravada em parceria com o cantor brasiliense Tiago Faim. A música já é sucesso nas rádios de Brasília e a tendência é que, muito em breve, a picuiense Valécia seja alçada à condição de cantora revelação da MPB.





Nos últimos dias, a Rádio Sisal FM de Picuí vem fazendo uma ampla divulgação dos trabalhos da cantora picuiense e através de uma reportagem do blog Portal do Curimataú, os membros do grupo AMIGOS DE PICUÍ começaram a interagir com Valécia, que em maio lançará seu CD em Picuí.  Agora é hora de divulgar e torcer pela nossa conterrânea, afinal é de letra de qualidade que estamos falando. É a MPB voltando a respirar.
  


SOBRE O FÓRUM DA COMARCA DE PICUÍ - Parte II




Em 05 dezembro de 2013, após uma ausência de mais de 15 dias por motivo de viagem, quando cheguei ao Fórum da Comarca de Picuí, fiquei decepcionada ao constatar que a situação do Poder Judiciário em nossa comarca só havia piorado. Na ocasião, publiquei uma nota nas redes sociais, que depois foi compartilhada vários blogs – Portal do Curimataú, Click Picuí, Blog Serra de Cuité, entre outros – onde apontei os inúmeros problemas: a insuficiência de serventuários; a existência de centenas de processos atrasados; a situação precária das dependências do fórum; a inexistência de um depósito judicial, fazendo com que a sala do júri fosse transformada num “sucatão” onde se amontoavam motocicletas, equipamentos de som, e outros objetos apreendidos; entre outros problemas.
Naquela oportunidade, expliquei que, na condição de advogada, jamais poderia representar contra qualquer uma daquelas pessoas que trabalhavam na Comarca de Picuí, já que era testemunha do stress acumulado e das noites insones vividas pelos técnicos judiciários, além de saber da preocupação e das tentativas de resolver o problema por parte de Philippe Vilar, juiz substituto à época. Finalmente, fazia um apelo à Corregedoria Geral de Justiça da Paraíba e ao Tribunal de Justiça, no sentido de que alguma medida fosse tomada e com urgência, pois os municípios de Picuí, Baraúna, Pedra Lavrada, Nova Palmeira e Frei Martinho eram merecedores de um tratamento mais digno por parte do Poder Judiciário.
No dia seguinte, fui convidada pela direção da Rádio Sisal FM de Picuí para conceder uma entrevista – ocasião em que repeti todos os problemas enfrentados pelo Poder Judiciário da nossa Comarca, ao mesmo tempo em que conclamei os demais colegas para, juntos, pensarmos em uma providência a ser tomada por parte dos advogados que atuam em Picuí. Coincidência ou não, no dia 08 de dezembro de 2013 – um domingo – o Fórum de Picuí recebeu a visita da presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, desembargadora Fátima Bezerra Cavalcanti, que constatou, in loco, a precariedade com que a Comarca de Picuí funcionava e prometeu, para breve, várias providências com vistas a solucionar ou pelo menos amenizar a situação.
Passados mais de quatro meses da visita da presidente do Tribunal de Justiça ao Fórum de Picuí, em relação ao que ficara acertado, ao menos de forma visível só pude constatar a vinda de mais uma serventuária para a Comarca. Na última sexta-feira resolvi averiguar a situação e, durante uma conversa informal com o novo juiz substituto, José Jackson Guimarães (titular da 2ª Vara da Comarca de Cuité), fui informada de que existem atualmente 5.292 ações tramitando em Picuí, sendo que 1.964 processos se encontram conclusos para despacho! Apesar de ter chegado a menos de um mês na comarca, dr. Jackson imprimiu uma grande celeridade nos despachos e decisões, mas é preciso que se faça um mutirão de servidores para que se possa dar cumprimento a esses despachos, além da presença de mais um promotor substituto na Comarca. Somente com essas duas medidas emergenciais é que advogados e constituintes começarão a ver os seus pleitos serem atendidos com o mínimo de eficácia e celeridade – dois fundamentos basilares do Poder Judiciário brasileiro.
Enquanto medidas realmente eficazes não forem tomadas por quem de direito, o meu apelo continuará ecoando, na defesa do atendimento dos pleitos apresentados ao Poder Judiciário; afinal, não são advogados e serventuários os únicos prejudicados com a situação vivenciada no Fórum de Picuí – é a sociedade a parte vitimizada nessa história, é o povo da nossa Comarca que está sendo vilipendiado e espoliado do direito a uma prestação jurisdicional dentro dos ditames da Constituição Brasileira.

* Fabiana Agra é advogada e jornalista.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Picuí em seus 110 anos de emancipação recebe homenagem da advogada, jornalista e escritora Fabiana Agra



Neste dia 09 de março de 2014, o Município de Picuí completa 110 anos de existência; para comemorar a data, publicamos um trecho da obra “Picuí do Seridó: dos primórdios até 1930”, da nossa colunista Fabiana Agra, onde há o registro do início da povoação do Seridó Oriental da Paraíba.
Ed Cordeiro, do Paraíba Geral
Foto: Fabiana Agra

REMINISCÊNCIAS SOBRE O SERIDÓ ORIENTAL DA PARAÍBA *

por Fabiana Agra **



O início do povoamento do Seridó Oriental da Paraíba
Essas três localidades são a gênese do povoamento da porção oriental do Seridó, sendo que o território de Carnaúba dos Dantas, até parte do século XIX, pertencia à província da Paraíba.
Carnaúba dos Dantas – situado no estado do Rio Grande do Norte, o atual município de Carnaúba dos Dantas teve sua área citada, pela primeira vez, em documento datado do ano de 1545, quando os portugueses fizeram a primeira visita oficial ao interior da capitania do Rio Grande, no “Valle Sirido”, onde passaram pelos lugares Boqueirão do Cuó, Riacho de Carnaúbas, Queiquó e Piancó, além de outros lugares. Em 11 de abril de 1613, pelo Capitão-mor Teodósio de Orggeste Machado, Provedor Real, foram demarcadas as terras do Riacho de Carnaúbas. A demarcação principiou com o Rei Janduí, imperador dos janduís, "allegando q. imperava nes dittas terras cmº senhôr de gaddos mortos e lavôuras rastêras". Por essa razão pediu ao referido capitão "oito legoas de comprido por duas de larggo peggando (...) da rocha em forma de piramide na serra do piaui (...) athe atingir o logar Marinbôndo".
Após essa primeira demarcação, teve a do português Cosme Francisco de Bourbon, alegando que desde 1611 possuía parte do Riacho de Carnaúbas, por data de sesmaria neutra, com três léguas de comprido por sete de largo, pegando do marco do rei Janduí e indo até o lugar Rajada; em seguida, os negros Firmino, Antonio, Roberto e Jerela, do major Antonio de Melo Castro Ribeiro, com uma légua de comprido por meia de largo, pegando do marco de Cosme Francisco de Bourbon; o rei Canindé, imperador dos canindés, com quatro léguas de comprido por uma de largo, pegando do marco dos negros e indo até o lugar Caiçara de Pedra, dos índios pegas; o bandeirante Luís Gomes, com uma jornada de léguas de fundo por meio de largo, pegando do marco anterior e indo até o Sítio Acari; novamente o rei Janduí, com quatro léguas de comprido por meio de largo, pegando do marco de Luís Gomes e indo até o lugar Ermo dos Anuns; finalmente, o rei Pecca, representando a tribo dos pegas, com 900 braças de comprido por 34 e meia de largo, pegando do último marco do rei Janduí e indo até apedra Pirâmide.
Cessada a “Guerra dos Bárbaros” no início do século XVIII, as terras que hoje formam o município de Carnaúba dos Dantas passaram a ser visitadas por sesmeiros vindos da Paraíba, como Luiz Quaresma Dourado e Braz Ferreira Maciel. Aos 11 de setembro de 1720, o português Luiz Quaresma Dourado requereu terras no sertão do Quinturaré. A justificativa de Quaresma Dourado para requerê-las é que necessitava delas para criar seus gados, pois as extensões territoriais que já possuía eram insuficientes. "O requerente pedia três léguas de comprido por uma de largo no Riacho do Olho d'Água Grande”. A concessão foi feita pelo governador da capitania da Paraíba, Fernão Castello Branco. Todavia, tendo que se ausentar da cidade do Natal em 18 de novembro de 1718, Luiz Quaresma Dourado passa as terras da Data do Riacho do Olho d'Água Grande para o Tenente Braz Ferreira Maciel, por Certidão de Procuração, conforme documentos do Arquivo do Cartório de Pombal.
No ano de 1788, o Coronel Caetano Dantas Correia solicitou ao governador da Paraíba, Jerônimo José de Mello Castro, através de data de sesmaria, "três léguas de sobras no riacho Carnaúba, junto ao sítio da serra Rajada", argumentando que precisava de terras para criar os seus gados e plantações. Entretanto, Caetano Dantas já devia estar de posse das referidas terras, pois em 1776 “diz que possue uma sorte de terras no riacho chamado Carnauba de que esta de mansa e pacifica posse, e por (...) haver sobra, a quer (...) por nova data”. Apesar de estar de mansa e pacífica posse da propriedade, Caetano Dantas deve ter adquirido as terras do riacho Carnaúba ao seu antigo possuidor, Braz Ferreira Maciel. Isto está evidenciado através do Inventário do referido coronel, no qual sua esposa, Josefa de Araújo Pereira, declara que o sítio Carnaúba foi adquirido através de compra ao Capitão Braz Ferreira Maciel, falecido em 1798. Convém salientar que, em 1778, o patriarca dos Dantas do Seridó já havia adquirido, através de compra a Braz Maciel, uma data sesmárica de três léguas de comprido por uma de largo, no sítio Riacho Fundo - hoje vizinho do município de Picuí. Foi uma ocupação temporária, destinada apenas às estações chuvosas. Um fato peculiar é que com a chegada e instalação dos Dantas Correia nos Picos de Cima, inicia-se o período do povoamento da Data da Carnaúba. Segundo Maria da Paz Dantas, a fazenda Carnaúba foi edificada entre 1777 e 1778 pelo tenente-coronel Caetano Dantas Correia, o segundo (1758-1830), por ocasião do seu casamento com Luzia Maria do Espírito Santo. Esse, segundo a autora, era o único núcleo de moradia do vale do rio Carnaúba. A casa de taipa, mais dois currais de pau-a-pique e um barreiro, constituíam o núcleo primordial da fazenda Carnaúba.
Pedra Lavrada – o primeiro povoamento efetivo da região do antigo Município de Picuí teve início no ano de 1760, com a construção de uma capela, a qual tinha sido solicitada ao bispo de Pernambuco, pelo Capitão-mor Mateus Bezerra Cavalcanti e José Bezerra da Costa, onde hoje se encontra a Matriz de Nossa Senhora da Luz. Presume-se que em 1750, de uma fazenda pertencente à família Gomes Barreto, originou-se a povoação de Itacoatiara, que depois passou a ter o nome atual, em virtude da existência de “pedras lavradas” distantes cerca de um quilometro de onde está erguido à cidade. Em 1760, por intermédio do visitante dr. Alexandre Bernadino dos Reis, José Bezerra da Costa pediu licença ao bispo de Campina Grande, dom Tomaz da Encarnação Costa, para a edificação de uma capela em homenagem à Nossa Senhora da Luz, doando 25 braças de terra ao patrimônio da igreja, para a edificação da referida capela. Em 29 de maio do mesmo ano, a capela foi inaugurada com uma grande procissão, tendo sido benta em 1789. Em 1843, Vicência de Paiva Cunha, irmã do coronel Antônio Gomes Arruda Barreto, doou também ao patrimônio de Nossa Senhora da Luz, 480 braças de terras do nascente ao poente e 2.400 braças de norte a sul se limitando ao nascente com as terras do Tamanduá, ao poente com o Retiro e Carnaúba, ao norte com as terras do Caldeirão e, ao sul com o riacho dos Porcos. A freguesia foi criada através da Lei provincial n° 02, de 19 de agosto de 1859, tendo sido desmembrada da freguesia de Cuité que, por sua vez, fora desmembrada da de Caicó em 25 de agosto de 1801. A freguesia de Nossa Senhora da Luz teve como seu primeiro vigário Marcelino Rogério dos Santos Freire, que assumiu em 15 de julho de 1860, trabalhando durante 10 anos.
O município de Pedra Lavrada integrou, inicialmente, o território da antiga povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso (atual município de Pombal), no vale do Piancó; figurou também como parte do território de Vila do Príncipe (atual município de Caicó, no Rio Grande do Norte). A freguesia de Cuité havia sido criada a 12 de agosto de 1801, desmembrada que foi da freguesia de Santana de Caicó. Por integrar a freguesia de Nossa Senhora das Mercês da Serra do Cuité, o território lavradense pertenceu à vila do Brejo de Areia, elevada a categoria de cidade em 1846. O território de Pedra Lavrada pertenceu, a partir de 1826, ao território de Bananeiras, permanecendo até 25 de junho de 1872, quando foi criado o município de Cuité, sede da comarca da Borborema. Por último, o território lavradense passou a integrar o município de Picui, instalado em 24 de novembro de 1904, após a transferência da comarca de Cuité para aquela nova sede.
Cuité – Padre Luiz Santiago, no livro “Serra do Cuité: sua história, seus progressos, suas possibilidades”, afirma que os índios que habitavam as serras de Cuité foram aldeados pelo Padre João de Barros em 1696. Acerca do início do povoamento, Padre Lula colheu relatos dos anciãos que viviam na região durante a década de 1930, que contaram a estória de um senhor, vindo de Bananeiras que, avistando as serras da Canastra e Bombocadinho, chegou até aí, a título de caçada, acompanhado de dois filhos: “Compreenderam estar deante de uma grande serra. Aproximaram-se e descobriram ao raio sul o formidável olho d’água chamado pelo gentio Cuité”. Ao retornar à Bananeiras, aquele senhor tratou logo de levar a notícia do seu achado ao Provedor-mor, segundo relata o padre. Em 08 de dezembro de 1704, o Conde de Alvor requeria a primeira data, nesta serra, com o nome de Data do Olho D’água do Cuité, do qual “fez pinhão”, tirando três léguas de terra por uma, como de costume, recebendo a concessão no governo de Fernando de Barros e Vasconcelos. A este requerimento seguiram-se mais quatro outros, no mesmo ano e em continuidade territorial, compreendendo rio-abaixo do Jacu, o qual nasce daquele olho d’água, tornando rumo sul e depois, sudeste e norte a encontrar com o rio Japi.
Mas Padre Santiago atribui a origem de Cuité a Caetano Dantas Correia, que em 31 de Outubro de 1784, requereu a Data da Lagoa do Cuité e procurando povoa-la, começou por edificar a capela de Nossa Senhora das Mercês e, na companhia do irmão Simplício Dantas Correia, passaram a promover animadíssimas festas. Caetano Dantas Correia doou meia légua de terra tirada daquela data que tinha requerido, tirando-a em torno da capela, com o propósito de se constituir o “patrimônio da santa”. Em 25 de agosto de 1801 a capela passava à sede de freguesia, desligando-se da freguesia de Caicó, através de decreto assinado pelo então bispo de Olinda, dom José Joaquim de Azevedo Coutinho. O livro de Padre Lula traz a lista de nomes dos moradores de Cuité, reunidos em Mamanguape, que assinaram a petição dirigida ao bispo de Pernambuco, em que se obrigam a manter a freguesia que pleiteiam sua criação – Serra do Cuité – desligando-a de Caicó, em 12 de agosto de 1801.
O ano de 1801 é importante para a região, pois foi criada a freguesia de Nossa Senhora das Mercês da Serra do Cuité, desmembrada da freguesia de Nossa Senhora de Santana, Vila Nova do Príncipe. Em 18 de maio de 1815, por Alvará Régio, era criada a Vila Real de Brejo de Areia, cuja instalação só ocorreu em 30 de agosto de 1818. Fazia parte de seu território as povoações de Alagoa Grande, Bananeiras, Guarabira, Pilões, Cuité e Pedra Lavrada. No livro “Cuité, terra nossa”,
José Pereira Sobrinho conta que, quando a serra de Cuité foi colonizada, seus moradores perceberam que a terra era fértil e passaram a explora-la, principalmente através do plantio da mandioca. No entanto, com a plantação agrícola surgiu simultaneamente a criação do gado bovino. Não tardou surgir problemas entre criadores e agricultores. Para sanar o problema, foi feito um acordo, para o cercamento de toda a Serra. A este acordo foi denominado de “travessão”. O acordo consistia e determinava, que todo proprietário teria que cercar a parte que fazia fronteira com as decidas, conhecidas como “grotas”. Este acordo foi feito entre o capitão Silvino de Araújo Bezerra (representante do Rio Grande do Norte) e Tomás Campos (representante da Paraíba). Como era difícil o arame para o isolamento, as cercas eram feitas de pedras; na localidade onde não se dispusese de pedra, o proprietário fazia valados no solo, para impedir a passagem do gado. Segundo Padre Luiz Santiago, a serra fora cercada aos poucos, fechando o circulo em 1891. Pela Paraíba fora cercada á deliberação da Câmara Municipal, cujo presidente era Antonio Ferreira de Melo Ramos, “que o fez a instancias do sr. Tomaz Soares da Costa Campos, o qual infrentou toda a direção do serviço”. Ainda hoje, pode-se encontrar isoladamente cercas de pedras ou valados nas encostas da serra de Cuité, que datam do final do século XIX.
O distrito de paz de Cuité foi criado pela lei nº 15, de Outubro de 1827 e o termo judiciário de Cuité foi creido pela lei nº 4 de 27 de maio de 1854. Em 27 de maio de 1854, pela Lei nº 4, a povoação da Serra do Cuité foi elevada a categoria de vila, e seu território abrangia as áreas ocupadas atualmente pelos municípios de Barra de Santa Rosa, Picui, Nova Floresta, Frei Martinho, Nova Palmeira, Cubati e Pedra Lavrada. Do ponto de vista jurídico, toda essa área pertenceu ao município de Brejo de Areia, e, logo depois, em 1862, já figurava como parte integrada da recém-criada comarca de Bananeiras. A comarca de Cuité somente foi criada em 25 de junho de 1872, sob a denominação de Comarca da Borborema. Em 29 de outubro de 1904, pela Lei nº 212, a comarca de Cuité foi transferida para Picui, ocorrendo sua instalação em 24 de novembro do mesmo ano. Surgia assim, no cenário estadual, o município de Picui, enquanto Cuité era reduzida à categoria de vila. O progresso, para a época, foi rápido. Em 1800 ou 1827, como afirmam alguns autores, Cuité foi elevado à categoria de distrito, passando em 1854 à condição de município. Sua elevação à comarca data de 1872, mas o benefício foi suprimido em 1891 sendo restabelecido, em 1900. Quatro anos depois o município e a comarca de Cuité foram anexados ao Município de Picuí, com o nome de Serra do Cuité. Assim permaneceu, até 1936, quando restaurada sua autonomia administrativa, desmembrou-se definitivamente de Picuí formando dois distritos, o da Sede e o de Barra de Santa Rosa. Em 1938, o Município teve seu nome simplificado para Cuité.

O povoamento de Picuí
Primeiras datas de terraas primeiras incursões para a colonização de Picuí ocorreram entre 1704 e 1706, quando o presidente da província da Paraíba era Fernando Barros Vasconcelos. No dia 26 de dezembro de 1704, Dona Isabel da Câmara, Capitão Antônio de Mendonça Machado, Alferes Pedro de Mendonça Vasconcelos e Antônio Machado requereram, e obtiveram por sesmaria, três léguas de terra (equivalente a dezoito quilômetros), próximo ao riacho que era chamado pelos nativos de Pucuhy. Heleno de Araújo lembra que essa sesmaria deu origem às atuais propriedades rurais de Umburana, Gravatá, Quinturaré, Letreiro, Pedra D’Água, Alagamar, Provador, Barra do Pedro, Várzea Grande, Várzea da Cruz, Águas Belas, Cotovelo, Timbaúba, Cisplantina, Caraibeira, Riacho do Boi, Lago do Dedo e Volta. As penetrações daí decorrentes, ao que parece, tiveram como saldo apenas a implantação de algumas fazendas de gado. Entre 1750 e 1760, novas correntes de povoamento se registraram, inclusive adquirindo as primeiras propriedades ali instaladas. Inúmeras famílias vindas principalmente de Pernambuco, Rio Grande do Norte e do Brejo Paraibano, iniciaram a colonização. Segundo a tradição oral, as famílias pioneiras da região foram: Costa, Barros, Oliveira, Farias, Macedo, Lima, Azevedo, Dantas, Ferreira, Gomes, Araújo, Pereira, Estrela, Henriques, Garcia do Amaral, Casado, Medeiros, Dantas, entre outras.
Território do Município de Picuí – Abílio César de Oliveira, no livro “Município de Picuí: esboço histórico”, diz que os territórios dos atuais municípios de Pedra Lavrada, Cubati, Nova Floresta, Cuité, Barra de Santa Rosa e Frei Martinho formavam o território do município e comarca de Picuí, que se estendia do riacho da Telha ao morro de Sussuarana, medindo mais ou menos 15 léguas. Ainda segundo o autor, no início de 1700, tropeiros seridoenses que desciam Nordeste abaixo, para vender  carne de sol, feijão marcassar, milho, farinha de mandioca, dentre outros, acampavam nas cercanias do rio Pucuhy, para reabastecerem as energias de negociantes e animais. Aí começava um pequeno povoado, depois vila, distrito e por fim, o município de Picuí.
O repovoamento da região de Picuí – após a concessão das sesmarias ao longo do século XVIII, a região do Seridó oriental paraibano continuou sendo escassamente povoada, pois a maioria das datas concedidas aos sesmeiros se constituíram apenas em criatório para o gado, sendo que muitas delas não chegaram nem mesmo a ser utilizadas. Assim, a partir do final do século XVIII e início do século XIX, começa o repovoamento da região, tendo seu primeiro núcleo de ocupação efetiva ao largo de uma estrada existente, onde atualmente se encontra o município de Pedra Lavrada. No ano de 1760, foi construída uma capela naquela localidade, onde já havia certo agrupamento de casas de vivenda. Depois foi a vez da Serra do Cuité ser povoada efetivamente, através do dono de terras Caetano Dantas Correia, que no ano 1784, requereu a data da Lagoa do Cuité, ali edificando a capela de Nossa Senhora das Mercês. Em 1801, a capela passou à sede de freguesia, desligando-se da freguesia de Caicó.

Uma promessa é igual a um povoado
Abílio César de Oliveira, em seu livro “Município de Picuí”, conta acerca do surto de colera morbo que assolou a região do Seridó no ano de 1856. Em suas palavras, “terrível flagelo da humanidade, grassando, vertiginosamente, do litoral ao sertão, atravessou os Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, atingindo, neste Estado, principalmente, as zonas do brejo, curimataú, catinga, cariri e seridó”. E realmente, a história registra essa terrível epidemia que atingiu todo o Nordeste naquele ano, repetindo-se, com menor intensidade, em 1862. Lira Neto, na biografia “Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão”, conta que o pânico se estabeleceu entre os sobreviventes, que creditavam a tragédia a um severo castigo dos céus. Havia relato de doentes sepultados vivos em valas comuns depois de abandonados pela família e mandados antes da hora para o cemitério, por medo de um possível contágio. Com a falta de coveiros em número suficiente para dar conta de tamanha tarefa, o serviço de enterramento era feito por condenados pela Justiça, em troca de goles de cachaça e do perdão de suas penas.
Em meio ao horror das dezenas de mortes diárias em decorrência da terrível doença, o povo da região onde hoje se situa o núcleo urbano de Picuí entendeu que uma promessa poderia fazer cessar o surto de cólera. E assim, surgiu a idéia entre os principais fazendeiros das redondezas, da edificação de uma capela invocando a intercessão de São Sebastião, para que o santo “intercedesse por eles, perante Nosso Senhor Jesus Cristo”. Assim, fizeram a promessa e acertaram que o padroeiro do lugar seria o santo mártir. Ninguém sabe se por milagre ou por coincidência, diziam os mais velhos que, daquele dia em diante, ninguém morreu mais de cólera na região.
Para o propósito da construção da capela, os fazendeiros foram liderados pelo Coronel José Ferreira de Macedo que, paralelamente à construção da ermida, construiu a primeira casa do povoado, conhecida como "a venda grande"; ele ocupou o cargo de fiscal e, com o seu prestígio, conseguiu trazer para o aglomerado o primeiro mestre-escola, o primeiro costureiro de roupas masculinas e o primeiro mestre de música. Ainda em 1856 teve início a construção da capela, no local onde havia sido o curral de gado do fazendeiro Lázaro José Estrela. A capelinha foi concluída no ano seguinte, recebendo a primeira visita sacerdotal, na pessoa do padre Francisco de Holanda Chacon, vigário da cidade de Areia, que rezou a primeira missa no dia 3 de setembro de 1857.
Em 16 de agosto de 1860, os fazendeiros da região se reuniram para dar um nome ao povoado que crescia em torno da capela; Abílio César diz que alguns deles, achando que “deveriam ser gratos ao glorioso protetor – São Sebastião – que fizera cessar o grande mal que tantas vidas dizimara, concordaram todos que fosse dado o seu nome ao Povoado. Acontece, porém, que um dos fazendeiros, naturalmente, entusiasmado com a vitória do Brasil, na guerra do Paraguai, (...) sugeriu que se acrescentasse ao nome do Padroeiro, a palavra TRIUNFO. E, assim, o povoado nascente passou a chamar-se SÃO SEBASTIÃO DO TRIUNFO”. Alguns relatos dão conta de que a idéia do acréscimo da palavra “triunfo” foi do Coronel José Ferreira. Após a escolha do nome do povoado, os fazendeiros assinaram um documento, no qual ficou estabelecido que os mesmos doavam a terra para o patrimônio de São Sebastião, onde atualmente se encontra a cidade de Picuí.

Fundação do Município de Picuhy
O Município de Picuhy foi criado no dia 27 de fevereiro de 1904 e instalado oficialmente no dia 09 de março de 1904. Todas essas autorizações foram emitidas pelo Decreto Estadual de nº 232, do citado ano de 1904.
As disposições transitórias da aludida lei davam conta de que “No praso de sessenta dias contados da mesma data deste Decreto, serãoinstallados os novos termos e comarcas pelos respectivos Juízes de Direito ou Municipaes”. Mas as autoridades picuienses não quiseram esperar tanto tempo e, alguns dias depois, no dia 09 de março de 1904, em sessão solene, o Município do Picuhy foi instalado oficialmente, conforme se depreende da “Accta da installação do Município e termo judiciário da Villa do Picuhy, da Comarca de Borburema, do Estado da Parahyba”.
E graças ao trabalho realizado na Assembleia Legislativa, tanto pelo deputado estadual Graciliano Fontino Lordão, chefe político e professor em Pedra Lavrada e Picuí, como pelo deputado Ascedino Neves, de Bananeiras, a comarca foi transferida de Cuité para Picuhy, pela Lei Estadual nº 212, de 29 de outubro de 1904, já no governo do presidente Álvaro Lopes Machado, sendo instalada em 24 de novembro do mesmo ano, tendo designados para a Comarca, o Juiz de Direito Abdias da Costa Ramos, e Juiz Municipal, Salustino Ephygenio Carneiro da Cunha – que já exercia o cargo de juiz do termo de Picuhy desde o dia 20 de fevereiro de 1904. Na ocasião, o município de Cuité também foi anexado ao município de Picuhy, perdendo Cuité a condição de município e passando a chamar-se Serra de Cuité.

* Extraído da obra: AGRA, Fabiana de Fátima Medeiros. Picuí do Seridó: dos        primórdios até 1930. João Pessoa: A União, 2010.

** Fabiana Agra é advogada e jornalista.