sábado, 21 de março de 2015

O ÓDIO (TERCEIRIZADO) NOSSO DE CADA DIA


Desde que a última rodada de manifestações golpistas do “Fora Dilma” começou, pude observar e constatar a escalada que o ódio gratuito está galgando, que o “odeio-pelo-simples-fato-de-odiar” está tomando de assalto os corações e as mentes daqueles que se deixaram levar pela intenção da “grande mídia” em incutir o ódio sem medidas a tudo que lembra Dilma, Lula e o partido político do qual eles fazem parte. Observo a tudo e não posso deixar de ficar preocupada, pois o que está acontecendo no Brasil foi o que ocorreu na Alemanha nazista e na Itália fascista durante a 2ª Guerra Mundial – e, ao menos as consequências da propaganda nazista, a maior parte dos que agora leem este artigo conhece.
Hitler e Goebbels dedicaram um esforço especial para descobrir como utilizar-se da propaganda em favor do regime nazista, moldando o comportamento dos alemães de acordo com aquilo que era de seu interesse. Após a chegada do nazismo ao poder em 1933, o führer estabeleceu o “Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda”, encabeçado por Joseph Goebbels. O objetivo do Ministério era garantir que a mensagem nazista fosse transmitida com sucesso através da arte, da música, do teatro, de filmes, livros, estações de rádio, materiais escolares e imprensa. A tempo, Goebbels é o autor daquela célebre mas infame frase, tão atual em nossos dias: "uma mentira cem vezes dita, torna-se verdade".
Pois bem: o que se vê no Brasil atual é a mesma tentativa, de utilizar a propaganda através da mídia – no nosso caso, para demonizar e derrubar uma presidenta legitimamente eleita e que reassumiu seu posto há menos de três meses, e já tendo de enfrentar todo o tipo de ameaça que alguém pode suportar. O pior é que as pessoas perderam de vez a compostura e a vergonha de parecerem ridículas perante seus pares, ao utilizarem as redes sociais para atacar inclusive a pessoa de Dilma Rousseff, através de palavrões, de palavras de baixo calão e de cunho machista. E o que mais me deixa estupefata é que grande parte dos ataques vem justamente de mulheres!
Ora, é democrático e salutar que as manifestações ocorram quando a população encontra-se insatisfeita em decorrência da crise econômica que, após tomar de assalto vários países europeus, agora chegou com força ao Brasil. É mais do que legítimo sair às ruas e gritar por melhores condições e oportunidades. O que se mostra inconcebível, é o ataque pessoal, é tentar ferir de morte a pessoa que está por trás do cargo. É disso que falo.
Jandira Feghali, líder do PCdoB na Câmara Federal, lembrou em seu último discurso acerca das manifestações do dia 15 de março: “Que espécie de manifestação acolhe e divide o democrático espaço das ruas com um clamor pela ajuda dos militares? Atos em que até ex-agentes do DOPs discursam? Ideias atrasadas que ficaram pela História, mas que atualmente parecem ter saído das catacumbas do ostracismo ávidas por alijar nossos filhos e netos dos ares da liberdade. Da Avenida Paulista à orla de Copacabana, nas inúmeras faixas espalhadas, o ódio em sua face mais colérica era mostrado. Misturados aos protestos, inflados pelo aparato midiático e o financiamento de grupos econômicos, faixas verde e amarelo pediam soluções que iam desde a morte de comunistas e o enforcamento de Lula e Dilma, ao retorno da Ditadura, com intervenção militar, o fechamento do Supremo Tribunal Federal. Vimos suásticas por todo o lado, além de frases em inglês, alemão e até italiano. Este, verdadeiramente, não é o Brasil”. É disso que estou falando.
A insatisfação popular não pode desaguar neste tipo de retrocesso, dando espaço para que seus supostos líderes golpistas, de forma oportunista, manipulem a informação para milhares de pessoas, aumentando o incômodo generalizado pela atual crise econômica e a investigação em curso sobre os casos de corrupção.
É preciso combater tais descalabros com urgência, seja no sentido de dialogar com a juventude – que está reproduzindo o machismo “moderno”, através de ataques e ofensas à mulher eleita presidenta do país, seja na demonstração de que os comentários preconceituosos e sexistas para com a presidenta Dilma Rousseff “não são apenas uma reprodução dos estereótipos, padrões e normas do capitalismo impostas às mulheres, mas são também o reflexo da indignação dos setores mais conservadores desse país por ela ser a representante máxima do poder e por representar um projeto que pensa no povo e governa para todos”.
Neste sentido, Carmen Foro, vice-presidenta da CUT, publicou no site da entidade: “Temos um dia de exaltação às mulheres no mês março, enquanto o restante do ano o que se vê são condutas que destacam o machismo social, seja na mídia, no trabalho ou em nossas casas. Precisamos nos posicionar em defesa da mulher que elegemos democraticamente para governar e mudar o nosso Brasil, sim nosso, de homens e mulheres, enfatizar a essa parte da sociedade quem é Dilma Rousseff e de quais lutas ela fez e faz parte, para que entendam que a mulher, mãe, avó, presidenta e acima de tudo, uma lutadora pelos direitos de liberdade e evolução do nosso país perante o mundo”. É disso mesmo que falo.
Mas não é isso que estou vendo - seja nas ruas, seja nas lojas, seja nos restaurantes, seja nas redes sociais: o que vejo são uns tantos e tantas, ensandecidos, deixando sua raiva cega escorrer pelos cantos da boca, num sorriso de escracho e de deboche entrecortado por dezenas de palavrões. E você há de convir: não dá para debater com esse tipo de gente, ao menos eu não me presto a este papel, pois responder com argumentos a tais ataques é continuar jogando pérolas aos porcos. Eu não costumo perder tempo com pessoas que, decerto por motivos pessoais, descarregam sua raiva e frustração no bode expiatório da vez.
Se aqui estou falando dessas pessoas é tão somente para alertar àqueles que ainda não caíram nesse conto de vigário: a livre manifestação sempre será bem-vinda, desde que através da coerência e de proposituras; gritar nas ruas sempre será salutar, mas incorrer na instabilidade democrática é mais do que temerário, é o fundo do poço para o Brasil. Como bem destacou Dilma Rousseff, em recente pronunciamento, a liberdade de expressão de hoje foi garantida por pessoas como ela. E isto deve ser valorizado e constantemente lembrado por todos nós – e não sair berrando o preconceito que é seu, aos quatro cantos, somente porque o presidente do Brasil é A PRESIDENTA...
Vamos avançar o debate! Que tal parar de chamar a presidenta de “puta”, de “vadia”, de “vagabunda”, e chamar também para si, a responsabilidade de ajudar o Brasil a sair da crise? Eu e milhares de pessoas já estamos fazendo isso, junte-se a nós.


* Fabiana Agra é advogada e jornalista.

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