Desde que a última rodada de
manifestações golpistas do “Fora Dilma” começou, pude observar e constatar a
escalada que o ódio gratuito está galgando, que o “odeio-pelo-simples-fato-de-odiar”
está tomando de assalto os corações e as mentes daqueles que se deixaram levar
pela intenção da “grande mídia” em incutir o ódio sem
medidas a tudo que lembra Dilma, Lula e o partido político do qual eles fazem
parte. Observo a tudo e não posso deixar de ficar preocupada, pois o que está
acontecendo no Brasil foi o que ocorreu na Alemanha nazista e na Itália
fascista durante a 2ª Guerra Mundial – e, ao menos as consequências da
propaganda nazista, a maior parte dos que agora leem este artigo conhece.
Hitler
e Goebbels dedicaram um esforço
especial para descobrir como utilizar-se da propaganda em favor do regime
nazista, moldando o comportamento dos alemães de acordo com aquilo que era de
seu interesse. Após a chegada do nazismo ao poder em 1933, o führer estabeleceu
o “Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda”, encabeçado
por Joseph Goebbels. O objetivo do Ministério era garantir que a mensagem
nazista fosse transmitida com sucesso através da arte, da música, do teatro, de
filmes, livros, estações de rádio, materiais escolares e imprensa. A tempo,
Goebbels é o autor daquela célebre mas infame frase, tão atual em nossos dias: "uma
mentira cem vezes dita, torna-se verdade".
Pois
bem: o que se vê no Brasil atual é a mesma tentativa, de utilizar a propaganda
através da mídia – no nosso caso, para demonizar e derrubar uma presidenta
legitimamente eleita e que reassumiu seu posto há menos de três meses, e já
tendo de enfrentar todo o tipo de ameaça que alguém pode suportar. O pior é que
as pessoas perderam de vez a compostura e a vergonha de parecerem ridículas
perante seus pares, ao utilizarem as redes sociais para atacar inclusive a
pessoa de Dilma Rousseff, através de palavrões, de palavras de baixo calão e de
cunho machista. E o que mais me deixa estupefata é que grande parte dos ataques
vem justamente de mulheres!
Ora,
é democrático e salutar que as manifestações ocorram quando a população
encontra-se insatisfeita em decorrência da crise econômica que, após tomar de
assalto vários países europeus, agora chegou com força ao Brasil. É mais do que
legítimo sair às ruas e gritar por melhores condições e oportunidades. O que se
mostra inconcebível, é o ataque pessoal, é tentar ferir de morte a pessoa que
está por trás do cargo. É disso que falo.
Jandira
Feghali, líder do PCdoB na Câmara Federal, lembrou em seu último discurso
acerca das manifestações do dia 15 de março: “Que espécie de manifestação
acolhe e divide o democrático espaço das ruas com um clamor pela ajuda dos
militares? Atos em que até ex-agentes do DOPs discursam? Ideias atrasadas que
ficaram pela História, mas que atualmente parecem ter saído das catacumbas do
ostracismo ávidas por alijar nossos filhos e netos dos ares da liberdade. Da
Avenida Paulista à orla de Copacabana, nas inúmeras faixas espalhadas, o ódio
em sua face mais colérica era mostrado. Misturados aos protestos, inflados pelo
aparato midiático e o financiamento de grupos econômicos, faixas verde e
amarelo pediam soluções que iam desde a morte de comunistas e o enforcamento de
Lula e Dilma, ao retorno da Ditadura, com intervenção militar, o fechamento do
Supremo Tribunal Federal. Vimos suásticas por todo o lado, além de frases em
inglês, alemão e até italiano. Este, verdadeiramente, não é o Brasil”. É disso
que estou falando.
A
insatisfação popular não pode desaguar neste tipo de retrocesso, dando espaço
para que seus supostos líderes golpistas, de forma oportunista, manipulem a informação
para milhares de pessoas, aumentando o incômodo generalizado pela atual crise
econômica e a investigação em curso sobre os casos de corrupção.
É preciso
combater tais descalabros com urgência, seja no sentido de dialogar com a
juventude – que está reproduzindo o machismo “moderno”, através de ataques e
ofensas à mulher eleita presidenta do país, seja na demonstração de que os
comentários preconceituosos e sexistas para com a presidenta Dilma Rousseff “não
são apenas uma reprodução dos estereótipos, padrões e normas do capitalismo
impostas às mulheres, mas são também o reflexo da indignação dos setores mais
conservadores desse país por ela ser a representante máxima do poder e por
representar um projeto que pensa no povo e governa para todos”.
Neste
sentido, Carmen Foro, vice-presidenta da CUT, publicou no site da entidade: “Temos
um dia de exaltação às mulheres no mês março, enquanto o restante do ano o que
se vê são condutas que destacam o machismo social, seja na mídia, no trabalho
ou em nossas casas. Precisamos nos posicionar em defesa da mulher que elegemos
democraticamente para governar e mudar o nosso Brasil, sim nosso, de homens e
mulheres, enfatizar a essa parte da sociedade quem é Dilma Rousseff e de quais
lutas ela fez e faz parte, para que entendam que a mulher, mãe, avó, presidenta
e acima de tudo, uma lutadora pelos direitos de liberdade e evolução do nosso
país perante o mundo”. É disso mesmo que falo.
Mas não é isso que estou vendo - seja
nas ruas, seja nas lojas, seja nos restaurantes, seja nas redes sociais: o que
vejo são uns tantos e tantas, ensandecidos, deixando sua raiva cega escorrer
pelos cantos da boca, num sorriso de escracho e de deboche entrecortado por
dezenas de palavrões. E você há de convir: não dá para debater com esse tipo de
gente, ao menos eu não me presto a este papel, pois responder com argumentos a tais
ataques é continuar jogando pérolas aos porcos. Eu não costumo perder tempo
com pessoas que, decerto por motivos pessoais, descarregam sua raiva e
frustração no bode expiatório da vez.
Se aqui estou falando dessas pessoas é
tão somente para alertar àqueles que ainda não caíram nesse conto de vigário: a
livre manifestação sempre será bem-vinda, desde que através da coerência e de
proposituras; gritar nas ruas sempre será salutar, mas incorrer na
instabilidade democrática é mais do que temerário, é o fundo do poço para o
Brasil. Como bem destacou
Dilma Rousseff,
em recente pronunciamento, a liberdade de expressão de hoje foi garantida por
pessoas como ela. E isto deve ser valorizado e constantemente lembrado por
todos nós – e não sair berrando o preconceito que é seu, aos quatro cantos,
somente porque o presidente do Brasil é A PRESIDENTA...
Vamos
avançar o debate! Que tal parar de chamar a presidenta de “puta”, de “vadia”,
de “vagabunda”, e chamar também para si, a responsabilidade de ajudar o Brasil
a sair da crise? Eu e milhares de pessoas já estamos fazendo isso, junte-se a
nós.
* Fabiana Agra é advogada e
jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário