quinta-feira, 9 de julho de 2015

E POR FALAR EM JESUS CRISTO...


E POR FALAR EM JESUS CRISTO...
(ainda sobre linchamentos)

por Fabiana Agra*


Faz algum tempo que busquei um rótulo para denominar meu relacionamento com o divino: encontrei o termo “agnóstica” – entendo que o ser humano é muito limitado para justificar a existência ou a não-existência de um Criador. Mas não adianta, o cristianismo está impregnado na minha essência, pois o primeiro livro que li, ao ser alfabetizada, foi a “Bíblia Ilustrada da Criança” e, aos seis anos de idade, já ficava imaginando quem seria a pessoa mais importante de todos os tempos. Sem contar que fui educada em um ambiente predominantemente cristão. O tempo foi passando e na ânsia de conhecer aquela pessoa, aquele ser iluminado, li a Bíblia do começo ao fim umas três vezes – e sempre a imagem de Jesus me acompanhou, seus ensinamentos me acalentam e me fazem acreditar na redenção do ser humano em algum futuro próximo, até porque “na casa de meu pai há muitas moradas” (João 14, 2). Assim, se não for neste plano, há que o ser humano melhorar em algum outro lugar, senão...
Aí entro na internet e os comentários acerca do linchamento ocorrido em São Luis do Maranhão são cada vez mais capciosos: “eu acho é pouco!”, “doeu, bandido?”, “tá com peninha, leva pra casa”, “o povo não agüenta mais tanta violência”... E por aí vai. Acontece que conheço a maioria dos(as) autores(as) das postagens e bem sei que eles(as) são freqüentadores(as) assíduos(as) de templos católicos e evangélicos. Aí minha cabeça dá um nó, peraí: quer dizer que você, cristão, é a favor de linchamento? E é? E ainda assim, se denomina cristão? Eu sei que vários de vocês devem estar pensando que não devo julgar vocês, ok, não devo mesmo. Mas vocês mesmos é que julgam merecedor de pena de morte por linchamento, qualquer um que venha a transgredir a lei no Brasil, então, sua alma, sua palma, companheir@s!

...Tenho um lampejo de memória e logo vem à mente a figura que sempre tive de Jesus Cristo, daquele homem que me acompanha desde a infância. Sim, aquele Jesus que disse “Aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra” (João 8, 1-11); aquele homem que andou com a escória da sociedade de sua época e que desdenhou da riqueza terrena; aquele ser de luz que foi crucificado entre os ladrões Dimas e Gestas e que garantiu a Dimas, “o bom ladrão”, que ainda naquele dia estariam juntos no paraíso (Lucas: 23: 39-43).
Então, após revisitar todas as imagens do Jesus bíblico, termino ficando confusa: como meus amigos(as) religiosos(as) podem fazer apologia ao linchamento, à vingança nua e crua e, mesmo assim, se sentirem à vontade para, no próximo domingo, vestirem as suas melhores roupas e participarem das missas e cultos Brasil afora, e cantarem e gritarem louvores ao Cristo? Sinceramente, tal comportamento vai além da minha vã compreensão, me poupem.
Então, vai um conselho, de graça, para os meus amigos e às minhas amigas que abraçam o cristianismo e, ao mesmo tempo, são adeptos de práticas totalmente contrárias aos ensinamentos do Nazareno. Vamos combinar então? Repensem seus pensamentos e convicções, ao menos. Escolham um lado, ora pois – porque em verdade, caso fosse perguntado, Jesus diria a vocês que ele não está ao lado de linchadores, jamais, em hipótese alguma. Pensem nisso.

* Fabiana Agra é advogada e jornalista



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