E POR
FALAR EM JESUS CRISTO...
(ainda
sobre linchamentos)
por Fabiana Agra*
Faz
algum tempo que busquei um rótulo para denominar meu relacionamento com o
divino: encontrei o termo “agnóstica” – entendo que o ser humano é muito
limitado para justificar a existência ou a não-existência de um Criador. Mas não
adianta, o cristianismo está impregnado na minha essência, pois o primeiro
livro que li, ao ser alfabetizada, foi a “Bíblia Ilustrada da Criança” e, aos
seis anos de idade, já ficava imaginando quem seria a pessoa mais importante de
todos os tempos. Sem contar que fui educada em um ambiente predominantemente
cristão. O tempo foi passando e na ânsia de conhecer aquela pessoa, aquele ser
iluminado, li a Bíblia do começo ao fim umas três vezes – e sempre a imagem de
Jesus me acompanhou, seus ensinamentos me acalentam e me fazem acreditar na
redenção do ser humano em algum futuro próximo, até porque “na casa de meu pai
há muitas moradas” (João 14, 2). Assim, se não for neste plano, há que o ser
humano melhorar em algum outro lugar, senão...
Aí
entro na internet e os comentários acerca do linchamento ocorrido em São Luis
do Maranhão são cada vez mais capciosos: “eu acho é pouco!”, “doeu, bandido?”, “tá
com peninha, leva pra casa”, “o povo não agüenta mais tanta violência”... E por
aí vai. Acontece que conheço a maioria dos(as) autores(as) das postagens e bem
sei que eles(as) são freqüentadores(as) assíduos(as) de templos católicos e
evangélicos. Aí minha cabeça dá um nó, peraí: quer dizer que você, cristão, é a
favor de linchamento? E é? E ainda assim, se denomina cristão? Eu sei que
vários de vocês devem estar pensando que não devo julgar vocês, ok, não devo
mesmo. Mas vocês mesmos é que julgam merecedor de pena de morte por
linchamento, qualquer um que venha a transgredir a lei no Brasil, então, sua
alma, sua palma, companheir@s!
...Tenho
um lampejo de memória e logo vem à mente a figura que sempre tive de Jesus
Cristo, daquele homem que me acompanha desde a infância. Sim, aquele Jesus que
disse “Aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra” (João 8, 1-11);
aquele homem que andou com a escória da sociedade de sua época e que desdenhou
da riqueza terrena; aquele ser de luz que foi crucificado entre os ladrões
Dimas e Gestas e que garantiu a Dimas, “o bom ladrão”, que ainda naquele dia
estariam juntos no paraíso (Lucas: 23: 39-43).
Então,
após revisitar todas as imagens do Jesus bíblico, termino ficando confusa: como
meus amigos(as) religiosos(as) podem fazer apologia ao linchamento, à vingança
nua e crua e, mesmo assim, se sentirem à vontade para, no próximo domingo,
vestirem as suas melhores roupas e participarem das missas e cultos Brasil
afora, e cantarem e gritarem louvores ao Cristo? Sinceramente, tal comportamento
vai além da minha vã compreensão, me poupem.
Então,
vai um conselho, de graça, para os meus amigos e às minhas amigas que abraçam o
cristianismo e, ao mesmo tempo, são adeptos de práticas totalmente contrárias
aos ensinamentos do Nazareno. Vamos combinar então? Repensem seus pensamentos e
convicções, ao menos. Escolham um lado, ora pois – porque em verdade, caso
fosse perguntado, Jesus diria a vocês que ele não está ao lado de linchadores,
jamais, em hipótese alguma. Pensem nisso.
*
Fabiana Agra é advogada e jornalista
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