Nos últimos dias, acompanhei no Facebook alguns
comentários sobre a Maçonaria, frutos da leitura de um artigo publicado pelo
grupo católico ACI. O texto trata do livro “Por que deixei de ser maçon”, de
Serge Abad-Gallardo, publicado apenas na língua espanhola. O autor foi membro
da maçonaria durante mais de 25 anos, chegando a ser mestre de 14º grau. Segundo
o artigo, depois de uma peregrinação ao Santuário de Lourdes tudo mudou na vida
de Abad-Gallardo, que logo o levou a escrever um livro que trata, dentre outros
temas, de uma pretensa relação que existe entre o demônio e a organização.
Até aí tudo bem. Todos os dias, milhares de
livros são publicados em todo o mundo sobre os mais diversos temas, e entre
aqueles que recebem atenção imediata por parte da mídia e dos leitores estão
justamente os que polemizam algum assunto ou que tratam de alguma “teoria da
conspiração”. O problema, aqui, é que a maçonaria é uma entidade presente em
grande parte das cidades brasileiras e cada um de nós tem dezenas de amigos que
fazem parte dessa sociedade. Então, uma coisa é criticarmos os fundamentalistas
muçulmanos, que (ainda) estão longe de nós e dos quais poucos sabemos afora
alguns estudos e milhares de especulações – e que, por tal razão, também são
vítimas de vários preconceitos. Outra coisa, porém, é especular e jogar sombras
sobre uma instituição centenária que, por ser discreta, foi e ainda é vítima de
vários ataques por aqueles que desconhecem a sua história ou que são
fundamentalistas religiosos. Assim, esse artigo é apenas um esboço do que seja,
de fato, a Maçonaria e teve suas informações recolhidas em diversos sítios da
internet. É imprescindível que se jogue luzes sobre o tema, porque é preciso,
através do conhecimento, evitar que mais especulações descabidas sejam
espalhadas pelas redes sociais.
O que é a
Maçonaria
Segundo a Wikipedia, “Maçonaria” é uma sociedade
discreta e, devido a essa característica, entende-se
que se trata de ação reservada e que interessa exclusivamente àqueles que dela
participam. É de caráter
universal, cujos membros cultivam o aclassismo, a humanidade, os princípios da
liberdade, democracia, igualdade, fraternidade e aperfeiçoamento intelectual.
Constitui-se, portanto, em uma sociedade fraternal, admitindo todo homem livre
e de bons costumes, sem distinção de ideário político ou posição social. Suas
principais exigências são que o candidato acredite em um princípio criador,
tenha boa índole, respeite a família, possua um espírito filantrópico e o firme propósito de buscar a perfeição,
evitando vícios e trabalhando para a constante evolução de suas
virtudes. Os maçons estruturam-se e reúnem-se em células autônomas, designadas por “oficinas”,
“ateliers” ou (como são mais
conhecidas) lojas. Existem, no mundo, aproximadamente 6 milhões de integrantes
espalhados pelos 5 continentes. No Brasil, são
aproximadamente 150 mil maçons regulares.
Origem da
Maçonaria
O sítio da PAEL-MG explica
que os primórdios da Maçonaria são obscuros, bem como parte de sua história.
Segundo a opinião quase unânime dos historiadores sérios que a estudaram, ela
descende de antigas corporações de mestres-pedreiros construtores de igrejas e
catedrais, corporações formadas na Idade Média. Desde a antiguidade, os
construtores que detinham conhecimentos especiais, constituíam uma espécie de
aristocracia, em meio das demais profissões. Formavam como que colégios
sacerdotais. Na idade Média, os construtores de catedrais e palácios eram
beneficiados, por parte das autoridades eclesiásticas e seculares com inúmeros
privilégios tais como: franquias, isenções, tribunais especiais, etc. Daí a
denominação francesa de “franc-maçon”, traduzida como pedreiro-livre. A
arquitetura constituía então, a Arte Real, cujos segredos eram transmitidos
somente àqueles que se mostrassem dignos de conhecê-los.
Os pensadores e
alquimistas da época, combatidos pelos espíritos menos esclarecidos,
perseguidos, buscavam refúgio entre os pedreiros livres, capazes de protegê-los
pelos privilégios que tinham. Eram alguns aceitos. Daí a denominação de “Maçons
Aceitos” em contraposição a “Maçons Antigos”, os construtores. Claro que nem
todos podiam ser aceitos. Faziam sindicâncias e apenas alguns eram admitidos,
porém depois de submetidos a uma série de provas que constituíam a iniciação.
Os iniciados juravam guardar segredo dos ritos e respeitar as regras.
No séc. XVI aumentou
consideravelmente o número de Maçons Aceitos, com predominância para os
Rosa-Cruz da Inglaterra, entre eles, Elias Ashmole, alquimista, que ingressara
com um grupo de amigos em 1646. A partir daí, por iniciativa dos novos membros,
organizou-se uma sociedade, cujo objetivo era a construção do Templo de
Salomão, templo ideal das ciências. Elias Ashmole obteve permissão para que a
sociedade realizasse suas reuniões no Templo Maçônico. De pouco em pouco, os
elementos precedentes da Fraternidade Rosa Cruz (Instituição secreta que
presumidamente dedicava-se ao estudo do esoterismo, alquimia, teosofia e outras
ciências ocultas) passaram a preponderar na Maçonaria, introduzindo nela muito
de seus símbolos. Alteraram os rituais, sobretudo a parte referente à
iniciação.
Maçonaria
e os acontecimentos mundiais
A maçonaria teve influência decisiva em grandes acontecimentos
mundiais, tais como a Revolução Francesa e
a Independência dos Estados Unidos; assim, tem sido relevante, desde a
Revolução Francesa, a participação da Maçonaria em levantes, sedições,
revoluções e guerras separatistas em muitos países da Europa e da América. No Brasil, deixou suas
marcas, especialmente na independência do Brasil do jugo da metrópole
portuguesa e, entre outras, a inconfidência mineira e na denominada
"Revolução Farroupilha", no extremo sul do país, tendo legado os
símbolos maçônicos na bandeira do Rio Grande do Sul. Vários outros estados brasileiros
possuem símbolos maçônicos nas suas bandeiras, como Minas Gerais, por exemplo.
As Lojas
Maçônicas no Brasil
Apesar da Maçonaria estar presente no Brasil
desde a Inconfidência Mineira, no final do século XVIII, a primeira loja
maçônica brasileira surgiu filiada ao Grande Oriente da França, sendo instalada
em 1801 no contexto da Conjuração Baiana. A partir de 1809 foram fundadas
várias lojas no Rio de Janeiro e Pernambuco, e em 1813 foi criado o primeiro “Grande
Oriente Brasileiro”, sob a direção de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada e
Silva.
No Brasil, são reconhecidas as seguintes
federações/confederações: “Grande Oriente do Brasil”, “Confederação da
Maçonaria Simbólica do Brasil” e “Confederação Maçônica do Brasil – COMAB.
Maçonaria e religião
A Maçonaria universal, regular ou tradicional, é conduzida pela via sagrada,
independentemente do seu credo religioso e trabalha sob a invocação do
Grande Arquiteto do Universo, sobre o livro sagrado, o esquadro e o compasso. “Grande Arquiteto
do Universo”, etimologicamente falando, se refere ao principal Planejador e
Criador de tudo que existe, inclusive do mundo material (demiurgo),
independente de uma crença ou religião específica. Assim, o termo “Grande
Arquiteto do Universo” ou “G.A.D.U.” é a designação maçônica para um “Ente
superior, planejador e criador de tudo o que existe”. Com esta abordagem, não
se faz referência a uma ou outra religião ou crença, permitindo que muçulmanos,
católicos, espíritas e denominações religiosas se reúnam numa mesma loja
maçônica. Para um maçom de origem católica, por exemplo, G.A.D.U. remete-o a
Deus, enquanto que para um muçulmano o termo se refere a Alá. Assim as reuniões
em loja podem congregar irmãos de diversas crenças, sem invadir ou questionar
seus conteúdos, porque não permite discussões de caráter religioso sectário.
E o que eu tenho a
ver com isso?
O tema é demais abrangente para caber em um artigo,
seria preciso um livro para tanto e as publicações que falam sobre a Maçonaria
existem às dezenas – portanto, o que acima recolhi por enquanto é o necessário
para ao menos tirar as dúvidas mais simples sobre o tema. Mas alguém pode estar
pensando o que eu, enquanto mulher, tenho a ver com isso, já que é sabido que
as mulheres não tem acesso a certos rituais maçônicos. Ora, enquanto
pesquisadora e amante da História com “H” maiúsculo, eu não poderia deixar tal
celeuma passar em branco em nossas terras. Ademais, sou amiga pessoal de vários
maçons e conheço um pouco do trabalho social desenvolvido pelos mesmos, além de
ter contato com os jovens da Ordem DeMolay de Picuí. Enquanto vejo, com
tristeza, centenas de adolescentes sendo dizimados pela droga e pela violência
dela decorrente, tenho ao menos a alegria de ver os DeMolay picuienses
trilhando um caminho onde estão presentes a fraternidade e o companheirismo.
E como prefiro sempre as boas ações em detrimento
aos mantras que pouco ajudam à humanidade, só posso repudiar esses comentários
maldosos, fruto da ignorância e do fanatismo religioso. Ele, o fanatismo, é
quem é o principal responsável pelas mazelas que ocorrem na atualidade. Então,
quando digo que a leitura de um livro de História sempre faz bem, quando peço
para que leiam um bom livro de História, eu não estou xingando ninguém, estou
apenas pedindo que saiba mais para errar menos. Pensem nisso.
* Fabiana Agra é advogada e jornalista
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