E não adiantaram os protestos por
parte de centrais sindicais e movimentos sociais, Eduardo Cunha “peitou”
e a Câmara dos Deputados aprovou, na noite da última quarta-feira, 22 de abril,
a emenda que permite a terceirização das atividades-fim das empresas do setor
privado, alterando também diversos pontos do texto-base da proposta. A emenda,
de autoria do PMDB e do Solidariedade, foi aprovada por 230 votos a 203 –
placar bem mais apertado do que o anterior, convenhamos.
O texto da emenda, apesar de não usar
os termos “atividade-fim” ou “atividade-meio”, permite a terceirização de
qualquer setor de uma empresa. Assinada pelo relator do projeto, deputado
Arthur Oliveira Maia (SD-BA), e pelo líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani
(RJ), a emenda também ampliou os tipos de empresas que podem atuar como
terceirizadas, abrindo a oferta às associações, às fundações e às empresas
individuais (de uma pessoa só). O produtor rural pessoa física e o profissional
liberal poderão figurar como contratante.
Outra mudança em relação ao texto-base,
segundo o portal da Câmara dos Deputados, é a diminuição, de 24 para 12 meses,
do período de quarentena que ex-empregados da contratante têm de cumprir para
poder firmar contrato com ela se forem donos ou sócios de empresa de
terceirização. Os aposentados não precisarão cumprir prazo. A quarentena
procura evitar a contratação de ex-empregados por meio de empresas individuais.
Já a subcontratação por parte da contratada (“quarteirização”) somente poderá
ocorrer quando se tratar de serviços técnicos especializados. A emenda também
determina que, nos contratos de terceirização não sujeitos à retenção na fonte
de 11% da fatura ou às alíquotas relativas à desoneração da folha de
pagamentos, a contratante será obrigada a reter o equivalente a 20% da folha de
salários da contratada, descontando da fatura. Outra mudança feita pela emenda
diminui o recolhimento antecipado do Imposto de Renda na fonte de 1,5% para 1%
para empresas de terceirização dos serviços de limpeza, conservação, segurança
e vigilância.
Em relação à
sindicalização, ficou mantido o trecho do texto-base, que prevê a filiação dos
terceirizados ao mesmo sindicato da contratante apenas se ambas as empresas
pertencerem à mesma categoria econômica. Entretanto, a emenda retira a
necessidade de se observar os respectivos acordos e convenções coletivas de
trabalho. Quanto à responsabilidade da contratante, a emenda torna solidária a
responsabilidade da contratante em relação às obrigações trabalhistas e
previdenciárias devidas pela contratada. Nesse tipo de responsabilidade, o
trabalhador pode processar tanto a contratada quanto a contratante.
A bancada
da Paraíba dividida
Conforme lista disponível no site da Câmara, a bancada
federal paraibana ficou dividida, dessa vez. Na votação anterior, apenas os
deputados Luiz Couto e Damião Feliciano votaram contra a proposta. Já na votação
do último dia 22, os votos ficaram assim divididos: pelo “Não à terceirização” –
Luiz Couto (PT), Damião Feliciano (PDT), Veneziano Vital do Rego (PMDB),
Wellington Roberto (PPS), Pedro Cunha Lima (PSDB) e Wilson Filho (PTB). Já os
deputados que continuaram votando pelo “Sim à terceirização” foram: Hugo Motta
(PMDB), Manoel Junior (PMDB), Rômulo Gouveia (PSD) e Benjamim Maranhão
(Solidariedade). Efraim Filho (DEM) e Aguinaldo Ribeiro (PP) não aparecem em
nenhum das listagens e, das duas uma: ou estavam ausentes no momento da votação
ou abstiveram-se de votar.
Agora
é com o Senado...
O texto da do projeto de lei da terceirização (PL 4330/04) seguirá agora
para o Senado e o tempo promete virar! É que Renan Calheiros já declarou que no
senado a terceirização de Eduardo Cunha e dos deputados não passa:
"Regularizar os direitos do trabalhador terceirizado tudo bem, mas retirar
os direitos dos trabalhadores, isso não vamos permitir", declarou o presidente
do Senado. Eduardo Cunha, por sua vez, ao saber do posicionamento do senador de
seu mesmo partido, disse que dará o troco, sabotando projetos de senadores que
tramitam na Câmara dos Deputados. "Pau que dá em Chico também
dá em Francisco", ameaçou.
A senadora Fátima Bezerra (PT/RN) disse,
em Plenário, nessa quinta-feira (23), que a classe trabalhadora do país
amanheceu de luto em razão da aprovação da terceirização: “Os deputados que
votaram ontem a favor desse projeto, infelizmente deram às costas para a
sociedade e ignoraram os veementes protestos das centrais sindicais e movimentos sociais que vem se
manifestando rotineiramente contra a aprovação de uma proposta que representa
um sério retrocesso nas relações trabalhistas no Brasil”, destacou a
parlamentar. Fátima lembrou que a permissão de contratação de terceirizados
para atividades-fim, que abre possibilidades como a de uma universidade
contratar terceirizados para serem professores, não moderniza e nem avança na
proteção dos direitos dos trabalhadores. Pelo contrário, é um atraso para o
país.
A senadora pelo PT espera que, no Senado, aconteça um intenso debate sobre o tema antes de uma decisão. Ela lembrou, inclusive, que o presidente da Casa, Renan Calheiros, já garantiu que a matéria não será aprovada na Casa no afogadilho. “Quero dizer aos trabalhadores que a luta não está terminada. Esta matéria ainda virá para esta Casa e espero que o Senado tenha lucidez política, clareza histórica e sensibilidade suficientes para corrigir essa anomalia cometida pela Câmara, que foi a aprovação do PL 4330”, ressaltou Fátima.
A senadora pelo PT espera que, no Senado, aconteça um intenso debate sobre o tema antes de uma decisão. Ela lembrou, inclusive, que o presidente da Casa, Renan Calheiros, já garantiu que a matéria não será aprovada na Casa no afogadilho. “Quero dizer aos trabalhadores que a luta não está terminada. Esta matéria ainda virá para esta Casa e espero que o Senado tenha lucidez política, clareza histórica e sensibilidade suficientes para corrigir essa anomalia cometida pela Câmara, que foi a aprovação do PL 4330”, ressaltou Fátima.
...Ou com Dilma
Nessa quinta-feira
(23), o deputado Vicentinho (PT-SP) conversou com a Revista Fórum, sobre o Projeto de Lei 4.330/04. Com o
PL indo para o Senado, ele espera que os trabalhadores se mobilizem ainda mais
para pressionar os parlamentares a votarem em defesa dos cidadãos, e não apenas
do empresariado. Vicentinho garante que a presidenta Dilma Rousseff deve dar
atenção especial aos pontos que abordam a terceirização em atividade-fim e a
responsabilidade solidária do contratante e o fornecedor da mão de obra
terceirizada: “A presidenta Dilma não vacilará em vetar principalmente a
terceirização na atividade-fim da empresa e a relação sobre a responsabilidade
solidária”
Vicentinho ainda
comentou sobre a aprovação da emenda: “Realmente, muito lamentável o que
aconteceu na Câmara dos Deputados. Mas já era de se esperar, uma vez que temos
a clara consciência de que o atual perfil da Câmara é conservador, retrógrado e
nitidamente empresarial. Já no Senado, o processo será diferente, pois o
presidente Renan Calheiros já anunciou que a matéria será tratada de outra
forma, valorizando o debate e a participação social”.
Chegou a hora de ir para a rua
Pelo tom dos
congressistas do PT, percebe-se que todos estão esperando a forma através da
qual o PL 4.330/04 será tratado no Senado, devido à fala de Renan Calheiros
sobre o assunto. Porém, se ainda assim, a terceirização passar da forma que
está, também pelo Senado, ainda haverá o veto da presidenta Dilma que,
provavelmente, não vetará totalmente o projeto de lei, mas os pontos mais
danosos para os trabalhadores.
Agora é chegada a
hora de mobilização e cobrança por parte de todos os trabalhadores, é hora de
sair às ruas e lutar pelo presente e futuro do emprego no Brasil. É hora de evitar
que os avanços dos últimos 70 anos virem pó.
Agora sim, é hora de
ir para as ruas!
* Fabiana Agra é
advogada e jornalista
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