terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Os ratos e o navio à deriva, por Fabiana Agra



Em menos de uma semana, a gangorra do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (aceito pelo presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha no último dia 02/12) parece ter dado uma forte sacudida, depois do “vazamento” da carta-sofrência do vice Michel Temer, primeiro traidor-mor brasileiro no século XXI. Na tal carta, o vice de Dilma se mostra ressentido, magoado, por ter sido menosprezado durante 5 anos – parece até coisa de amor mal-resolvido, vai lá saber, na altura do campeonato... Temer poderia ter se saído melhor sem essa carta-testamento, que acabou de enterrar a sua medíocre história política, renegando-o ao lixo da História, ao lado de Silvério dos Reis.

Mas a carta-sofrência de Temer teve o condão de desequilibrar o jogo em favor de Eduardo Cunha – aguardem os próximos movimentos dos enxadristas -, além de desmascarar o próprio missivista e de mostrar o esqueleto no qual são sustentados os políticos brasileiros: o poder apenas pelo poder.

E de uma coisa a gente pode ter certeza: Temer não é golpista, isso não! Um vice que abandona o seu posto no momento mais crítico da história de sua gestão, não pode levar a pecha de golpista, mas sim, de TRAIDOR! É que cada um tem o seu papel nessa história nebulosa que está sendo a derrubada de Dilma – o papel de Temer é o de ser o 666, o belzebu, o anjo caído, o mequetrefe, enfim – o traíra...

Um desses inúmeros estadistas planeta afora já vaticinou no passado, que a política adora uma traição, mas não perdoa os traidores. Concordo. Porém, não se enganem, a tal carta-sofrência de Temer sinaliza mais que uma simples traição e sempre para algo mais à direita: significa que a maioria dos peemedebistas abandonou o navio, como ratos que são. Os ratos deixam o navio, capitaneados pela ratazana-mor Michel Temer – que demonstra com seu ato, o que se espera da maioria dos políticos brasileiros: enriquecimento e empoderamento de tais crápulas, sanguessugas do nosso povo, só isso e somente só.

Êpa, peraê! – atrase o tal barco para que possamos entender os motivos “temeristas” de ser: Rodrigo Vianna lembra bem que talvez o vice tenha outros motivos para dar o pulo do gato agora: em menos de 3 meses, a Lava-Jato pode abrir espaço para novas delações de empreiteiros que “confessariam” ter doado dinheiro à chapa Dilma/Temer pra garantir no futuro contratos com estatais. É o que se diz nos bastidores da operação. “Essas delações abririam espaço para a contestação da chapa Dilma/Temer (e não só de Dilma) no TSE. É esse o caminho que interessa a Aécio e Marina: cassação no TSE de Dilma/Temer, seguida de novas eleições. Se isso ocorrer, Temer deixará de ser a ‘alternativa de poder’, e precisará se defender em parceria com Dilma. Ou se safa junto com a Dilma, ou cai junto com ela, diz Vianna.

Não obstante e independente dos desdobramentos da crise, a tal carta acabou de destruir Michel Temer perante à opinião pública, é fácil comprovar tal fato através das redes sociais – e é isso que eu estou aquilatando, só de ver a tal da “zoeira” no Twitter e no Facebook. Renato Rovai, por sua vez, acabou de vaticinar: “Dilma pode cair, mas Temer não sairá maior deste processo. Ele caiu hoje”.

Eu digo mais: com a tal carta “vazada”, Michel Temer desnudou-se e mostrou a verdadeira face do protótipo do político nível médio brasileiro: aquele quer lucrar muita grana, que barganha todos os cargos possíveis e imagináveis e que quer os méritos de tais só para si; mas o principal feito de Temer foi um só: o de desnudar a verdadeira face das coligações político-partidárias brasileiras e toda a podridão que as envolvem.

As cartas estão lançadas, e já antevejo uma futura condenação de Dilma Rousseff no TSE. Porque “eles” querem que ela caia. Porque eles precisam que ela caia. E ela vai ter que cair. Simples assim.

* Fabiana Agra é advogada e jornalista


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